A Praça da Bandeira, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, será ocupada por vozes e passos de pessoas que clamam por um mundo sem violência. Neste domingo (30/11), a partir das 9h, acontece a 8ª Caminhada pelo Fim da Violência contra Mulheres e Meninas, promovida pelo núcleo da capital mineira que integra o Grupo Mulheres do Brasil. 

Nesta edição, o evento será organizado em alas temáticas, que vão representar as mais diversas forças da sociedade unidas pelo mesmo propósito - desde os movimentos sociais, instituições de justiça e segurança, até líderes da juventude e política. 

O ritmo do trajeto, que tem como destino o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, será ditado por atrações musicais como “Às Charangueiras”, bateria de bloco de carnaval formada por mães, “Jojô e Palito” e do bloco “Gato Escaldado”. 

As caminhadas acontecem desde 2017, momento em que o Grupo Mulheres do Brasil instituiu como causa global o fim da Violência Contra Mulheres e Meninas. Hoje, a instituição está presente em 119 núcleos espalhados pelo país, em todas as capitais. A 8ª caminhada acontecerá simultaneamente nos municípios. 

Em entrevista ao Estado de Minas, uma das lideranças do Grupo Mulheres do Brasil, Dalva Domingos, explicou como a organização busca construir um país melhor a partir do protagonismo feminino. “Fazemos isso conectando pessoas, colocando a natureza feminina que acolhe, cuida e faz acontecer. Atuamos em causas sociais, projetos que já existem e a gente impulsiona eles.”

Grupo Mulheres do Brasil

O Grupo Mulheres do Brasil foi fundado por 40 mulheres empresárias e executivas, em 2013, que foram convidadas para um almoço com a então presidente Dilma Rousseff. A organização política, mas que se posiciona como “suprapartidária”, é presidida pela empresária paulista Luiza Helena Trajano e, hoje, possui mais de 135 mil mulheres. 

Após ter sido selecionada para um programa de gestão empresarial, Dalva Domingos conheceu outras mulheres e passou a participar de alguns encontros do Grupo Mulheres do Brasil. Na segunda ocasião, relatou para outras integrantes sobre a luta contra o racismo que enfrenta e foi convidada a se tornar uma das líderes do Comitê de Igualdade Racial. 

“O comitê surgiu porque as mulheres negras são as que mais sofrem violência. Uni as causas, trabalhando hoje pelo fim da violência e pela equidade racial. É o meu propósito de vida”, contou Dalva. “Iniciei um trabalho de letramento racial e hoje faço rodas de conversas semanais sobre o tema, dentro do Grupo Mulheres do Brasil nacional. Sou uma mulher preta, que estou na liderança do núcleo em Belo Horizonte”, completou. 

A organização possui uma plataforma própria, como uma rede social, com mulheres do mundo inteiro, cada uma em sua cidade, no seu comitê. Além dos 119 núcleos no Brasil, o grupo está presente em outros países, como Alemanha, Bélgica, França, Irlanda, Itália, Portugal, Reino Unido e Estados Unidos. 

“Dê seu passo nessa luta, porque a esperança começa assim. Depende de cada um de nós ter essa consciência de que chega de violência, as mulheres não podem ser tratadas como um objeto. Somos seres humanos, que tem vontades, sonhos e desejos”, finalizou Dalva. 

21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Baseada em Gênero 

No ano passado, mais de 80 mil mulheres e meninas foram mortas intencionalmente em todo o mundo. Dessas, 50 mil foram vítimas de feminicídio por parceiros íntimos ou familiares - o que significa que uma mulher ou menina é assassinada a cada 10 minutos, uma média de 137 por dia. Os dados foram divulgados pelo relatório de feminicídio de 2025 da ONU Mulheres. 

Os números alarmantes chamam atenção para a campanha global 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Baseada em Gênero, também liderada pela ONU Mulheres. A 8ª Caminhada pelo Fim da Violência contra Mulheres e Meninas, inclusive, faz parte deste momento. 

A campanha começou em 20 de novembro, data que simboliza o Dia da Consciência Negra no Brasil, e vai até o dia 10 de dezembro - este período ainda conecta o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres ao Dia dos Direitos Humanos.

Tipos de violência

  • Doméstica e familiar: é quando acontece dentro da família, não necessariamente sob o mesmo teto, mas nas relações entre os membros da comunidade familiar, formada por vínculos de parentesco natural, civil, por afinidade ou afetividade.
  • Psicológica: ameaças, humilhações, xingamentos e controle da vida da mulher;
  • Moral: calúnias, difamação e xingamentos que afetam a honra da mulher;
  • Física: agressões físicas como tapas, socos, queimaduras e tortura;
  • Patrimonial: controle do dinheiro da mulher e destruição de seus bens;
  • Sexual: forçar relações sexuais, impedir uso de anticoncepcionais, ou forçar aborto;
  • Vicária: a violência é direcionada a terceiros, como filhos, para atingir a mulher;
  • Virtual: uso da internet para perseguir, intimidar ou expor a mulher;
  • Simbólica: expressões culturais que menosprezam as mulheres;
  • Obstétrica: abusos durante o parto, como humilhações e desconsideração das dores da mulher;
  • Institucional: praticada por órgãos públicos, como fazer a vítima reviver o trauma ao repetir procedimentos desnecessários;
  • Política: ações para impedir a participação política da mulher.

Onde procurar ajuda

  • A mulher em situação de violência de qualquer cidade de Minas Gerais pode procurar uma delegacia da Polícia Civil para fazer a denúncia. É possível fazer o registro da ocorrência on-line, por meio da delegacia virtual. Use o aplicativo 'MG Mulher'.

Alguns locais de atendimento e acolhimento às mulheres

  • Centros de Referência da Mulher: espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência. Devem proporcionar o atendimento e o acolhimento necessários à superação da situação de violência, contribuindo para o fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania.
  • Casas-Abrigo: locais seguros que oferecem moradia protegida e atendimento integral a mulheres em risco de morte iminente em razão da violência doméstica. É um serviço de caráter sigiloso e temporário, no qual as usuárias permanecem por um período determinado, durante o qual deverão reunir condições necessárias para retomar o curso de suas vidas.
  • Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs): unidades especializadas da Polícia Civil para atendimento às mulheres em situação de violência. Com a promulgação da Lei Maria da Penha, as DEAMs passam a desempenhar novas funções que incluem, por exemplo, a expedição de medidas protetivas de urgência ao juiz no prazo máximo de 48 horas.
  • Núcleos de Atendimento à Mulher: espaços de atendimento à mulher em situação de violência (que em geral, contam com equipe própria) nas delegacias comuns.

Como denunciar violência contra mulheres?

  • Ligue 180 para ajudar vítimas de abusos;
  • Em casos de emergência, ligue 190.
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