Uma fraude milionária na venda de cosméticos foi desarticulada pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), na Região Metropolitana de Belo Horizonte, causando um prejuízo de cerca de R$ 6 milhões à Natura, uma das maiores empresas do setor no país. A Operação “Espelho de Vênus” foi deflagrada na última quinta-feira (30/10) e cumpriu nove mandados de prisão em Belo Horizonte, Contagem e Betim.
Ao divulgar os detalhes da operação, na manhã desta segunda-feira (3/11), a PCMG informou que o esquema criminoso envolvia 11 consultores de vendas que exploravam falhas no sistema de cashback e brindes da empresa. A líder da quadrilha seria uma mulher de 51 anos, consultora da empresa há mais de 20 anos e sem passagens anteriores pela polícia.
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A delegada Cristiana Angelini, chefe da Divisão Especializada em Crimes Cibernéticos da Polícia Civil, informou que foi a própria Natura que procurou a polícia. Foram cerca de 50 mil produtos vendidos de forma fraudulenta. "A consultora recrutava parentes, amigos e pessoas de sua confiança", afirma.
Como funcionava a fraude
Segundo as investigações, os consultores “prestigiados” realizavam compras repetidas de um mesmo produto ao mesmo tempo com o objetivo de esgotar o estoque de brindes oferecidos pela empresa. Quando isso acontecia, o sistema convertia automaticamente o brinde em crédito financeiro (cashback), que era usado para adquirir novos produtos, como cremes, perfumes e kits, revendidos em lojas on-line e físicas populares com descontos de até 60%. "Era uma concorrência desleal", diz Cristiana Angelini.
Os golpes ocorreram entre março e outubro, totalizando 163 pedidos simulados e resgates indevidos, e o aporte ou investimentos dos fraudadores chegou a R$ 300 mil. A polícia descobriu que os criminosos manipulavam o sistema da empresa, adicionando itens no carrinho e realizando a compra até provocar o erro que gerava o brinde em dinheiro.
Mesmo depois do bloqueio de algumas contas suspeitas, o grupo recrutava novos consultores para continuar as operações, o que levantou a hipótese de cúmplices internos que indicavam vulnerabilidades do sistema.
"Alguns consultores agiam de boa fé enquanto outros sabiam do esquema", diz a delegada.
Pelo status que tinham dentro da empresa, os fraudadores conseguiam produtos de primeira linha. Isso explica o tamanho do rombo. "O prejuízo informado pela empresa é com base nos valores de cashback", destaca.
Mandados e apreensões
Durante as ações da operação, foram apreendidos milhares de produtos de beleza armazenados em condições insalubres, em meio a baratas e poeira. O material apreendido inclui cosméticos de alto valor, como perfumes e cremes corporais, revendidos por preços bem abaixo do mercado. A líder do esquema vai responder por associação criminosa, fraude eletrônica, estelionato, apropriação indébita e lavagem de dinheiro.
A delegada Cristiana Angelini afirmou que apesar de o esquema ser bastante sofisticado, sempre há uma brecha que será investigada pela corporação. “A internet não é terra sem lei. Nós vamos responsabilizar todos os envolvidos, inclusive eventuais colaboradores internos”, destacou.
O esquema fraudulento ocorreu de maneira nacional e, de acordo com a delegada, o prejuízo em São Paulo foi do mesmo tamanho do de Minas Gerais. As investigações continuam para identificar se a fraude estava relacionada a falhas específicas no sistema da empresa e se havia participação de funcionários.
"Estamos também apurando a participação de outras pessoas: os responsáveis pelo transporte dos produtos. Como essa consultora não poderia mais fazer a compra dos produtos, percebemos um desvio da rota dos endereços que eram indicados no site para o recebimento do produto, indo para a casa principal do alvo", termina.
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A Natura informou que segue colaborando com as autoridades e reitera seu compromisso inegociável com a ética, o respeito e a integridade em todas as suas relações.
