Encenação em celebração à Sexta-feira da Paixão em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha  -  (crédito: Carlos Eduardo/Diamantinanet.com.br )

Encenação em celebração à Sexta-feira da Paixão em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha

crédito: Carlos Eduardo/Diamantinanet.com.br

A comunidade religiosa e parte da população de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, se queixam da abertura dos supermercados no feriado da Sexta-feira da Paixão (29/3). A arquidiocese de Diamantina caracterizou, em nota, a decisão como “hiperindividualismo”.

 

O texto, assinado pelo arcebispo Dom Darci José Nicioli, afirmou que “a economia não serve à pessoa e ao bem comum, mas tão somente ao lucro.” O pároco ainda refletiu sobre a necessidade de “aprender a servir e renunciar a tentação de ser senhor”.

 

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A decisão partiu de uma convenção celebrada entre o Sindicato dos Empregados no Comércio em Diamantina (Sindcomerciários) e o Sindicato Intermunicipal do Comércio de Produtos de Supermercados e Hipermercados em Minas Gerais, que prevê a adesão voluntária no funcionamento durante feriados, exceto no Natal, Dia do Trabalho e Dia da Confraternização Universal.

 

A cidade é reconhecida desde 1999 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Cultural da Humanidade. Durante as celebrações católicas no feriado da Semana Santa, a tradição preserva a montagem de tapetes de serragens no centro histórico da cidade, procissões, guardas romanos, motetos, toques de matracas e trocas de moedas, atraindo milhares de fiéis para a programação.

 

Gilmara Paixão, moradora de Diamantina, afirmou que a abertura dos supermercados vai na contramão do que a cidade representa. “Antes o comércio fechava em situação colaborativa, foi até uma surpresa. Diamantina deveria fechar por um único dia, que é a Sexta-feira da Paixão. Essa abertura atrapalha o centro histórico, atrapalha quem vai trabalhar e não vai poder participar da programação religiosa, atrapalha tudo”, afirmou.

 

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A decisão repercutiu entre os mais jovens. O estudante Guilherme Silva também é morador da cidade e percebe a abertura dos supermercados como algo “normal”, mas com ressalvas. “Por ser um dos dias mais importantes do ano pra Igreja Católica e por toda essa cultura que está presente há muito tempo, vejo que poderia ser respeitada essa tradição, ainda mais por se tratar de uma cidade muito religiosa”, pontuou.

 

A presidente do Sindicomerciários, Daniele de Jesus Moreira, afirmou que a decisão foi acordada com base em uma convenção com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG) e que não foi procurada pela Arquidiocese de Diamantina para estabelecer um diálogo sobre a abertura dos supermercados no feriado santo.

 

A representante ainda pontuou que a decisão não impacta a logística da programação religiosa no centro histórico da cidade, uma vez que não há nenhum supermercado na região em que são montados os tapetes de ferragens e procissões.

 

“Nós entendemos e respeitamos a religiosidade da cidade. A decisão foi coletiva e cada supermercado tem a opção de não abrir. Entendemos que o funcionamento dos supermercados é bom para o turismo religioso, uma vez que a cidade recebe milhares de pessoas de fora que vão precisar dessa estrutura”, explicou a presidente do Sindicomerciários.

 

O Secretário de Cultura e Patrimônio de Diamantina, Alberis Mafra, informou que o funcionamento dos supermercados não impacta as atividades realizadas no centro histórico. O chefe da pasta esclareceu, em nota, que "a questão relacionada ao funcionamento do comércio durante os dias santos é uma dinâmica entre entidades privadas e as instruções de classe que representam os funcionários. Não participamos de qualquer tratativa nesse sentido e sequer fomos chamados a contribuir em debates dessa natureza".

 

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Fábio Corrêa