O "pedalaço" começou às 20h na Praça Sete e seguiu em direção à Praça da Bandeira -  (crédito: Marcos Vieira/EM/D.A. Press)

O "pedalaço" começou às 20h na Praça Sete e seguiu em direção à Praça da Bandeira

crédito: Marcos Vieira/EM/D.A. Press

Ciclistas de Belo Horizonte e de cidades da Região Metropolitana fizeram um ato unificado, na noite dessa terça-feira (6/2), em prol da construção de uma ciclovia na Avenida Afonso Pena, na região Centro-Sul de BH, prevista na obra de revitalização da via. O “pedalaço” começou às 20h na Praça Sete e seguiu em direção à Praça da Bandeira.

Apesar da forte chuva, os organizadores ressaltaram que o evento foi bem-sucedido. “Houve uma longa fila de ciclistas, grupos de todas as idades, homens e mulheres, subindo e pedalando até lá em cima. Belo Horizonte tem muitos ciclistas. O ato mostrou que a ciclovia vai ser utilizada por muita gente e o pessoal dá conta de subir, sim”, conta Cristiano Scarpelli, ativista de mobilidade ativa.

A via exclusiva para os ciclistas estará presente nos dois sentidos em toda a extensão da Afonso Pena, desde a Praça Rio Branco até a Praça da Bandeira. As obras na avenida fazem parte do projeto de revitalização do Centro, da Prefeitura de Belo Horizonte.

Porém, a viabilidade da ciclovia se tornou uma questão polêmica. Em janeiro, o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), Gabriel Azevedo (sem partido), encaminhou um pedido ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) para pedir a suspensão das obras de instalação da via para ciclistas.

De acordo com o documento, o relevo do traçado inviabiliza o tráfego em bicicletas. Gabriel Azevedo cita que há uma diferença de 152 metros entre o Palácio das Artes e a Praça da Bandeira, o que tornaria o uso de bicicletas inviável. Também foi solicitada a apuração de possível mau uso do dinheiro público por parte da prefeitura da capital.

“O que se percebe quando da análise do traçado da obra é que a mesma não foi pensada em uma lógica benéfica à cidade nem aqueles que utilizarão a bicicleta para se locomover no traçado [...] Considerando a subida íngreme, os ciclistas na maioria das vezes optam por utilizar rota diversa da traçada pela Prefeitura para implantação da ciclovia, já que há rotas mais inteligentes a serem feitas”, manifestou o presidente da Câmara.

No entanto, os ciclistas ressaltam que o projeto existe há 17 anos. Os estudos começaram em 2007, com o Plano Diretor de Mobilidade Urbana (PlanMob), que passou por algumas revisões. A ciclovia da Afonso Pena já estava prevista, bem como outras da cidade. Pelo menos 400 quilômetros de ciclovia estavam no documento, que foi incorporado ao plano diretor no ano de 2019 e virou lei.

“No plano, estava prevista a ciclovia da Afonso Pena, assim como muitas outras. Um vereador disse que é contra a via da Afonso Pena, mas a outra rota sugerida por ele também está prevista na lei”, diz Cristiano.

O ativista contou que o plano foi aprovado em vários conselhos de mobilidade e patrimônio, além de ter sido discutido entre a comunidade ciclista. “A BHTrans tem um grupo que conversa com ciclistas, que é o GT Pedala. Eles convidaram a gente e eu participei, para opinar a respeito, e a gente conseguiu fazer algumas melhorias no projeto”, conta Scarpelli.

Os ciclistas também ressaltaram que o custo de R$ 25 milhões para o projeto de revitalização da Afonso Pena inclui outras obras, como faixas exclusivas, pavimentação e paisagismo. Eles citaram, ainda, que a falta de infraestrutura cicloviária contribui tanto para a vulnerabilidade dos ciclistas no trânsito quanto para os altos índices de acidentes na cidade.

Segundo a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, Belo Horizonte está abaixo da média nacional em quilometragem de ciclovias, com 105,7 quilômetros. São Paulo, que está em primeiro lugar, tem 689,1 km, e Brasília, em segundo, conta com 636,89 km.

“Na verdade, a ciclovia é complementar, é igual o resto das ruas: quanto mais você tiver, melhor, para que a pessoa tenha opções de chegar ao trabalho, de poder fazer compras, enfim, de incorporar a bicicleta na sua atividade do dia a dia”, explica Cristiano.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice