Minas Horizontina foi, oficialmente, a primeira criança a nascer em Belo Horizonte -  (crédito: Arte sobre foto do Museu Abílio Barreto)

Minas Horizontina foi, oficialmente, a primeira criança a nascer em Belo Horizonte

crédito: Arte sobre foto do Museu Abílio Barreto

Enquanto os moradores de Belo Horizonte, então Cidade de Minas, comemoravam a inauguração da nova capital do estado, nascia, na madrugada de 13 de dezembro de 1897, em um berço humilde atrás do prédio da Secretaria das Finanças, na Praça da Liberdade, a primeira belo-horizontina.

O nome escolhido para a recém-nascida era bem inusitado. Como forma de homenagear a recém-inaugurada capital mineira, que oferecia muitas oportunidades para quem trabalhava em sua construção, a família deu o nome do estado e da cidade para a filha. Em homenagem aos 126 anos de Belo Horizonte, o episódio desta semana do Sabia Não, Uai! volta no tempo para contar a história de Minas Horizontina Cânfora Pacheco.

 

Os pais do primeiro bebê nascido oficialmente na cidade, o casal de italianos Cânfora Luigi e ngela Coracci, tinham chegado a Belo Horizonte nas primeiras ondas de imigração da Itália para o Brasil no século 19, em busca de trabalho e melhores condições de vida. Luigi, inclusive, foi da equipe de pintores do Palácio da Liberdade e dos prédios das secretarias erguidos na praça.

Décadas se passaram e, em 1977, a já senhora Minas contou sua história a uma equipe do extinto Diário da Tarde, jornal impresso dos Diários Associados. A conversa com os jornalistas foi recontada uma década depois, em um caderno especial sobre os 90 anos de BH.

Disposição aos 80 anos

O repórter que conversou com Minas relatou que ela tinha muita vitalidade e disposição, mesmo aos 80 anos. A entrevista foi feita no Rio de Janeiro, onde Minas vivia há 55 anos. Ela se mudou para a capital fluminense após casar-se com um carioca, que conheceu ainda em Belo Horizonte.

 “Generoso [o marido] era motorista de ambulância da Santa Casa de Misericórdia e foi socorrer meu vizinho. Aí, nos conhecemos. Eu tinha 15 anos. O namoro durou pouco, como era antigamente, né? Na casa, eu e as outras quatro irmãs, todas com namorado. Sala cheia, luz bem acesa”, contou Minas na época.

Com o casamento, vieram oito filhos. A criação deles não foi fácil, com os pais tendo de trabalhar muito para garantir o sustento dos filhos. Na época da entrevista, a primeira belo-horizontina era viúva. Sobre o marido, ela contou que ele era um homem bom, “apesar da boêmia”.

Preocupações com o futuro

Recém-chegada à oitava década de vida, Minas dizia que viver muito era “destino” na sua família, mas que, a partir de certa idade, era necessário tomar alguns cuidados e seguir certas superstições. “Nada de chinelo com solado para cima, nada de passar embaixo de escada”, detalhou à equipe do Diário da Tarde.

Sobre os 80 anos, ela dizia que se sentia feliz rodeada pelos filhos e netos. “Queria que todos os outros velhinhos tivessem o carinho que eu recebo. A solidão é muito ruim. Ela mata a gente mais cedo”, afirmou. Foi por conta dos filhos que Minas continuou no Rio de Janeiro até seus últimos dias. A viuvez trouxe o desejo de voltar para Belo Horizonte, mas, segundo ela, “o lugar da mãe é perto dos filhos”.

Ainda na conversa, ela expressou preocupações sobre o que ocorria no mundo no fim dos anos 1980. “As pessoas deveriam procurar melhorar o espírito. Hoje em dia mata-se um homem como se matava uma galinha na casa de meus pais: sem remorso algum. [Eu] ficaria mais feliz se tivesse a certeza de que a juventude vai fazer alguma coisa para melhorar [o mundo]”. Minas Horizontina faleceu de câncer em 1985, aos 87 anos.

Sabia Não, Uai!

O Sabia Não, Uai! mostra de um jeito descontraído histórias e curiosidades relacionadas à cultura mineira. A produção conta com o apoio do vasto material disponível no arquivo de imagens do Estado de Minas, formado também por edições antigas do Diário da Tarde e da revista O Cruzeiro.

O Sabia Não, Uai! foi um dos projetos brasileiros selecionados para a segunda fase do programa Acelerando Negócios Digitais, do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), programa apoiado pela Meta e desenvolvido em parceria com diversas associações de mídia (Abert, Aner, ANJ, Ajor, Abraji e ABMD) com o objetivo de atender às necessidades e desafios específicos de seus diferentes modelos de negócios.