Veículos integrados à frota, com ar-condicionado e suspensão mais suave: projetada inicialmente, meta de 420 novos coletivos foi superada -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Veículos integrados à frota, com ar-condicionado e suspensão mais suave: projetada inicialmente, meta de 420 novos coletivos foi superada

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

Menos carros nas ruas, mais mobilidade ativa e investimentos para dar prioridade ao transporte público de massa. Esse é o caminho que Belo Horizonte vem traçando com a meta de evitar um colapso no trânsito. Para isso, além de ações para melhorar a qualidade do asfalto, a cidade aposta em um pacote de melhorias em mobilidade, qualidade nos coletivos, segurança e fluidez no tráfego.


A meta de renovação da frota de ônibus – uma das exigências da Lei 11.538 /2023, proposta pela Prefeitura de BH, que reduziu o valor da passagem e instituiu o subsídio público ao sistema – foi superada. De 420 novos ônibus inicialmente previstos para a cidade, já há 423 nas ruas, segundo a administração municipal. Outros oito foram comprados para entrar no pacote até o fim do ano.


Os novos ônibus receberam uma plotagem na traseira, com a numeração de cada um dos que foram entregues. Com a entrada dessa frota, a capital passa a contar com 70% do total de coletivos com ar-condicionado e suspensão a ar, afirma a prefeitura. A idade média dos veículos, que era de 6 anos e 8 meses em julho, agora é de 6 anos e 2 meses. “No próximo ano, avançaremos mais”, projeta o responsável pela Superintendência de Mobilidade (Sumob) da Prefeitura de BH, André Dantas.

Depois de quase cinco meses em vigor, a Lei 11.538, que reduziu a tarifa predominante de R$ 6 para
R$ 4,50 como contrapartida ao pagamento do subsídio de R$ 512,8 milhões às empresas de ônibus na capital, representou avanços no sistema de transporte público. Entre eles, a prefeitura da capital lista o aumento do número de viagens e gratuidades a diversos públicos, além da renovação da frota e da implantação e uso do ar-condicionado. Hoje, são feitas cerca de 1.500 viagens diárias de ônibus a mais na cidade.


BUSCA DE TRANSPORTE MAIS SUSTENTÁVEL

Belo Horizonte ainda tem seis anos para cumprir a meta estabelecida pela prefeitura, de contar com 40% da frota de ônibus formada por veículos que usem energia não poluente. O total, que representa cerca de 990 veículos, inclui ônibus movidos a eletricidade ou combustíveis mais limpos, como gás natural.

A administração municipal busca apressar o processo de substituição e, em breve, a população da capital pode contar com 100 ônibus elétricos rodando pela cidade. “Estamos analisando várias opções, entre elas a adição desses ônibus elétricos”, adianta o superintendente da Sumob, André Dantas.

Logo depois da apresentação do Plano de Mobilidade Limpa, a administração municipal iniciou os testes de ônibus elétricos em um projeto-piloto para avaliar uma série de características, como o comportamento no relevo da cidade. A cada dia o veículo – um D9A, da fabricante BYD – roda em uma linha, a fim de avaliar diferentes cenários de operação. 

Os testes começaram na primeira semana de outubro e devem terminar nesta semana. Em operação na capital, os veículos elétricos foram aprovados por usuários, que destacaram o conforto e o silêncio em reportagem exclusiva publicada pelo Estado de Minas em outubro.

Atualmente, o maior obstáculo para a implantação dos ônibus elétricos é o custo de aquisição, 2,5 vezes maior do que o de um veículo a diesel, segundo análise feita pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Porém, essa diferença tende a ser amortizada ao longo dos anos pelo custo mais baixo de manutenção e vida útil mais longa dos elétricos, indicam especialistas.


COMPLEXIDADE EXIGE CONJUNTO DE SOLUÇÕES

O superintendente de Mobilidade da Prefeitura de BH, André Dantas, diz que não existe “a” solução para o trânsito, e que o cenário e as opções precisam ser avaliados com cautela. “Não faz sentido, por exemplo, trocar o Move por um veículo à base de bateria, porque ele já opera em um nível de eficiência muito grande. O ônibus a bateria é uma potencial solução para uma área central, onde há aquele arranca e para e, aí sim, há mais poluição”, afirma.

Dantas cita o exemplo de São Paulo (SP), que, apesar de já ter uma frota de elétricos considerável, vem enfrentando uma série de problemas na operação, como ônibus parando no meio do trajeto, sobrecarga na rede elétrica, entre outros. “Tudo isso tem que ser feito com muita responsabilidade”, comenta.

Com essa avaliação, a prefeitura abriu chamamento público para empresas interessadas em apresentar alternativas menos poluentes para o transporte público em BH. “Recebemos, por exemplo, uma empresa cujo veículo roda à base de biometano, que é totalmente sustentável. Vamos testar e avaliar os benefícios, os custos. Tomaremos decisões responsáveis”, afirma o superintendente da Sumob.


INCENTIVO AO USO DE BICICLETAS

Na tentativa de incentivar outros meios de locomoção pela cidade, está em andamento em BH a implantação de mais oito quilômetros de ciclovias. A mais recentemente implantada, na Avenida Augusto de Lima, tem 1,1 quilômetro entre a Praça Raul Soares e a Rua Tenente Brito Melo, e se conecta com outras rotas cicloviárias já existentes na Avenida Olegário Maciel e a rota Leste/Oeste (Avenida do Contorno). Ao todo, Belo Horizonte tem hoje 109 quilômetros de rotas para bikes.

Além da manutenção das pistas cicloviárias atuais, a administração municipal prevê a instalação de novas estações para bicicletas compartilhadas. Doze delas foram entregues em setembro, distribuídas em pontos estratégicos pelo Centro da cidade. Até o fim do ano, a Prefeitura de BH projeta 50 estações, com 550 bicicletas.

Em meio ao debate sobre uma mobilidade mais sustentável, a ampliação das áreas caminháveis, sobretudo nos grandes centros, é outro recurso importante para transformar a percepção da população e estimular uma forma mais ativa de deslocamento. É isso que a prefeitura vem tentando fazer na área central, entre as iniciativas do programa “Centro de Todo Mundo”. Estão previstas e em andamento intervenções para aumentar a segurança dos pedestres, como implantação de travessias, novas faixas e expansão do número de abrigos de ônibus.

Segundo dados da Prefeitura de BH, já foram implantadas 787 sinalizações em 25 quilômetros de vias, feitas mais de 1,9 mil ações de limpeza e higienização em abrigos, além de 94 ações de manutenção, pintura e reparo em abrigos de ônibus no perímetro do “Centro de Todo Mundo”. Estão previstos ainda 14 quilômetros de calçadas revitalizadas, mantendo o desenho original. 

 A frustração dos trólebus

Belo Horizonte já foi pioneira no uso de ônibus elétricos. Em 1953, a cidade implantou um sistema de trólebus que funcionou até 1969. Anos depois, em 1986, houve uma tentativa de trazer esse tipo de transporte de volta. Parte da infraestrutura foi construída, os ônibus foram encomendados e pagos, mas nunca chegaram a rodar na capital mineira, devido a problemas políticos e administrativos. Após anos no pátio da fábrica, os trólebus foram vendidos para a cidade de Rosário, na Argentina, e para São Paulo (SP).

 Coletivos

423
novos ônibus nas ruas

8
ônibus serão entregues até o fim do ano

70%
da frota com ar-condicionado e suspensão a ar, segundo a prefeitura

40%
da frota deve ser trocada por veículos que usem energia não poluente até 2030

100
ônibus elétricos com previsão de serem incorporados ao transporte de BH

Duas rodas

117 km
de ciclovias, 8 deles em implantação

50
estações com

550
bicicletas até o fim de 2023