A descoberta fortalece ainda mais a região de Uberaba, que poderá ter, já no próximo semestre, o Geoparque "Terra de Gigantes" -  (crédito: GEOPAC CONSULTORIA AMBIENTAL/Divulgação)

A descoberta fortalece ainda mais a região de Uberaba, que poderá ter, já no próximo semestre, o Geoparque "Terra de Gigantes"

crédito: GEOPAC CONSULTORIA AMBIENTAL/Divulgação

A descoberta de um sítio paleontológico em Uberaba, na Região do Triângulo, em Minas Gerais, mobiliza a comunidade científica e desperta mais interesse sobre o potencial do município reconhecido internacionalmente como “terra dos dinossauros”. Na manhã desta quinta-feira (7), foram apresentados 28 blocos de rochas com vários fósseis, incluindo vértebras, costelas e fragmentos dos dinos.

“Só ontem, encontramos três blocos, em escavações. Temos, em Uberaba, um alto potencial paleontológico, especialmente entre os quilômetros 128 e 183 da rodovia BR-050, dentro do município, conforme o recente levantamento que fizemos”, explica o paleontólogo Paulo Macedo, da Geopac Consultoria Ambiental, responsável pelas descobertas. A empresa foi contratada pela Eco050, do grupo Ecovias, para trabalhar no trecho onde ocorreu o achado.

“A região, onde há quase oito décadas são feitas pesquisas paleontológicas, não para de nos surpreender, por isso todo empreendimento precisa ter acompanhamento de um especialista”, afirma Macedo, que atua nas áreas de paleontologia e espeleologia. Ele esteve presente à entrega do material, no Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP), à Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), por meio do Centro de Pesquisas Paleontológicas “Llewellyn Ivor Price”.

A descoberta fortalece ainda mais a região de Uberaba, que poderá ter, já no próximo semestre, o Geoparque “Terra de Gigantes”. Atualmente, há apenas dois geoparques, no Brasil, reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que são o Geoparque Araripe (CE) e o Geoparque Seridó (RN). Além do Geoparque Uberaba, outros três territórios – Caçapava do Sul (RS), Quarta Colônia (RS) e Chapada dos Guimarães (MT) – aguardam entrar na lista.

Idealizado pelo geólogo e professor Luiz Carlos Borges Ribeiro, presidente de honra do Geoparque Uberaba, o projeto “Terra de Gigantes” teve início em 2010, apoiado em três atributos de representatividade internacional: a terra dos dinossauros no Brasil (Peirópolis), a capital mundial do Zebu e o local onde Chico Xavier (1910-2002) se revelou ao espiritismo mundial. No mundo, 164 geoparques de 45 países já foram reconhecidos pela Unesco.

“Trata-se de um achado extraordinário, pois, com essas descobertas, conhecemos mais sobre a evolução do planeta”, afirmou o promotor de Justiça da comarca de Uberaba e coordenador regional de Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Carlos Alberto Valera. Confiante na futura chancela da Unesco para o Geoparque “Terra de Gigantes”, Valera destaca as ações para proteção do patrimônio paleontológico, a exemplo de portaria municipal (003/2015), segundo a qual todo empreendimento com objetivo de raspagem de solo e escavação em rochas, com potencialidades paleontológicas, realizam estudos técnicos e diagnóstico. “A portaria tem sido respeitada”, diz o promotor de Justiça, ressalto o trabalho conjunto do MPMG, Ministério Público Federal e Agência Nacional de Mineração.

SÍTIO URBANO

A atual descoberta em Uberaba ocorreu em rochas sedimentares da Formação Uberaba, com 83 milhões de anos, às margens da rodovia BR-050. Segundo a equipe, foi muito próximo a um dos distritos industriais da cidade e ao Bairro Alfredo Freire, que margeiam o Rio Uberaba no sentido Uberlândia, “vindo confirmar que toda a cidade compreende o maior sítio paleontológico urbano do país, totalizando 21 sítios fossilíferos”. Desses, a maioria é composta por dinossauros herbívoros atribuídos ao grupo dos “Titanossauros”, a exemplo do maior animal que já pisou terras brasileiras, o “Uberabatitan ribeiroi”, que chegou a medir 28 metros de comprimento por 14m de altura.

A descoberta se deu após uma obra de supressão vegetal e drenagem das encostas, quando um bloco de rocha se deslocou, mostrando, incrustado, um pequeno fragmento ósseo longo de um dinossauro. Como os fósseis, nesta região e notadamente nas rochas da Formação Uberaba, sempre ocorrem semi-articulados, os avanços das escavações mostraram que o novo sítio não continha apenas um fragmento, mas vários outros de grande relevância para descrição taxonômica. Trata-se do segundo grande achado, pela Geopac, em empreendimento da Eco050 – a primeira foi há cinco meses perto de Monte Alegre de Minas, com a descoberta de uma ninhada de crocodilomorfos de cerca de 90 milhões de anos.

PROTEÇÃO

Para preservação dos sítios, toda a mancha urbana e as zonas de expansão de Uberaba passam, atualmente, por criteriosa avaliação por meio da legislação em vigor, a partir de 2015. Assim, o Ministério Público de Minas Gerais, o Ministério Público Federal, a Prefeitura de Uberaba e a Universidade Federal do Triângulo Mineiro estão unidos em uma força-tarefa para proteger a região, para a qual há um “zoneamento paleontológico”.

Na reunião desta manhã, estiveram presentes, além de Paulo Macedo, o diretor do CCCP, Diogo Nobre, a presidente da Associação Geoparque Uberaba, Paula Cusinato, o promotor de Justiça, Carlos Alberto Valera, a responsável pelo Departamento de Sustentabilidade da Eco050, Daniela Almeida, e os integrantes do Comitê Geocientífico da Associação Geoparque, o paleontólogo Thiago da Silva Marinho, o geólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro e a geocientista Izadora Pizzi.