O problema se localiza na rodovia LMG-754, pavimentada em 2016 pelo governo estadual e alvo de intervenção (construção do Contorno de Cordisburgo) para melhorar o trânsito, garantir segurança e proteger o patrimônio cultural -  (crédito: Lucas Gustavo Carvalho/Divulgação)

O problema se localiza na rodovia LMG-754, pavimentada em 2016 pelo governo estadual e alvo de intervenção (construção do Contorno de Cordisburgo) para melhorar o trânsito, garantir segurança e proteger o patrimônio cultural

crédito: Lucas Gustavo Carvalho/Divulgação

Terra natal do escritor Guimarães Rosa (1908-1967), Cordisburgo, na Região Central de Minas, está, nesses dias, imersa numa “travessia” polêmica para resolver uma questão viária que provoca debates na cidade de 7,5 mil habitantes e demandou audiência pública na Assembleia Legislativa. O problema se localiza na rodovia LMG-754, pavimentada em 2016 pelo governo estadual e alvo de intervenção (construção do Contorno de Cordisburgo) para melhorar o trânsito, garantir segurança e proteger o patrimônio cultural, embora comerciantes acreditem que a novidade deverá gerar prejuízos econômicas e perdas ao turismo.

Ligando Cordisburgo a Curvelo e sob concessão do grupo Eco 135, o trecho receberá um desvio para aliviar o tráfego no Centro da cidade – o aumento de veículos, especialmente caminhões, já teria causado rachaduras na Capela São José, do século 19, ao lado do portal Grande Sertão, homenagem aos personagens do livro “Grande Sertão: Veredas”.

Mas o temor dos comerciantes da Rua São José, com 50 estabelecimentos, é a perda de movimento, pois, com o desvio, quem passar na estrada não entrará mais na cidade, deixando, portanto, de almoçar nos restaurantes, fazer compras e desfrutar dos atrativos turísticos.

Em Cordisburgo, estão o Museu Casa Guimarães Rosa, unidade vinculada à Superintendência de Museus do Estado de Minas, a Gruta do Maquiné, onde recentemente ocorreu a pré-estreia da ópera “Matraga”, e outros.

“Ainda não temos uma solução, nem foi apresentado um projeto definitivo. Precisamos de uma alternativa, pois está em jogo o emprego de cerca de 500 pessoas. Fizemos abaixo-assinado, pedimos providências à prefeitura, mas não há uma decisão, o que nos preocupa. O resultado do projeto, dependendo de como for, poderá ser muito prejuízo para todos nós. Quem vier de Curvelo, por exemplo, não entrará mais na cidade”, afirma Célio Roberto de Souza Vieira, dono de uma pastelaria na Rua São José, a mais movimentada da cidade, e, por isso mesmo, chamada de “avenida”.

ACORDO

“Muitas questões já foram acertadas, mas queremos ver o projeto antes de ele ser implantado”, diz o presidente do Legislativo municipal, Sávio Rogério Trombini, certo de que são necessários todos os detalhes para tranquilidade da população de Cordisburgo. A concessionária deverá apresentar os projetos na segunda quinzena deste mês.

O secretário Municipal de Planejamento, Lucas Gustavo Carvalho, informa que, além da alça de acesso, as intervenções contemplam passagem de pedestres com mais segurança, especialmente para quem faz caminhada, acesso aos bairros, preservação do patrimônio cultural e outros. “Podemos dizer que 90% das questões já estão resolvidas, em acordo”, destacou. Ele diz que, por enquanto, são feitos os serviços de demarcação e remoção de árvores.

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No último dia 30, em Belo Horizonte, houve audiência pública na Assembleia Legislativa, com a Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas para discussão das obras na rodovia LMG-754, com a presença da diretora de Gestão Rodoviária da Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra). A reunião foi solicitada pelo deputado Lucas Lasmar (Rede), que se comprometeu a entrar com representação no Ministério Público para exigir, da concessionária, a entrega do projeto completo da obra.

DISPOSITIVOS

Em nota, A Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) informa que, de acordo com o contrato de concessão SETOP 004/2018, está prevista a implantação de um Contorno de aproximadamente três quilômetros de extensão, “com o objetivo de proteger o patrimônio histórico-cultural do município de Cordisburgo, bem como assegurar maior segurança aos usuários da rodovia e à população local.”

No projeto viário, diz a nota, estão previstos três dispositivos de retorno em nível para que os usuários da rodovia possam acessar o município de Cordisburgo, sendo seguidas todas as especificações técnicas definidas no contrato de concessão e as normas vigentes de engenharia. A reunião para a apresentação do projeto executivo está prevista para o final de janeiro de 2024.

Também em nota, a Eco135, empresa do Grupo EcoRodovias (responsável pela administração das rodovias BR-135, MG-231 e LMG-754, entre Curvelo e Montes Claros), esclarece que, a construção do Contorno de Cordisburgo é uma obrigação prevista no contrato de concessão firmado entre a concessionária e o governo estadual, por meio da Seinfra.

“Informamos ainda que, após os projetos executivos aprovados pelo poder concedente serem apresentados à prefeitura, foram solicitadas novas demandas a serem acrescidas ao projeto a pedido do órgão municipal. Entre as demandas apresentadas, destacaram-se a necessidade de manutenção do acesso Norte do município para quem chega a Cordisburgo a partir de Curvelo, a implementação
de uma passagem para pedestres no trecho da MG-421 e a possível modificação do pórtico de boas-vindas na entrada do município.”

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E mais: “Em estudo conjunto entre a Eco135 e Seinfra, foi constatado que a alteração do acesso Norte era viável, sendo apresentados projetos funcionais que obtiveram a aprovação do poder concedente.
Após essa aprovação, a concessionária iniciou o desenvolvimento dos projetos executivos, que serão apresentados na segunda quinzena de dezembro. No que diz respeito à travessia para pedestres, informamos que essa demanda está incluída no projeto, com a melhoria de uma passagem elevada, proporcionando segurança aos munícipes. Quanto à alteração da localização do pórtico, esta segue em fase de análise técnica e financeira pela Concessionária, por não ser uma obrigação contratual.”

Os serviços a serem executados, diz a empresa, compreendem os serviços citados acima, envolvendo trabalhos de terraplanagem, drenagem, pavimentação, sinalização, dentre outros, com planejamento de início das obras após o período de chuvas, programado para março de 2024, com duração prevista de seis meses.