
"Eu acho que o papa Francisco era a pessoa que trouxe o nosso olhar para o outro, para a fraternidade, para a gente não olhar para o nosso próprio umbigo" - Priscila Miranda, médica oncologista
O carisma, o afeto e o carinho do papa Francisco, que morreu na segunda-feira (21), são guardados para sempre na memória daqueles que tiveram a oportunidade de encontrá-lo. Uma das “privilegiadas” por ter visto o papa de “pertinho” é a médica oncologista Priscila Miranda, presidente da entidade filantrópica Associação Presente de Apoio aos Pacientes com Câncer, de Montes Claros, no Norte de Minas.
“Foi uma emoção grande. Ele não falava inglês. Eu não falava espanhol. Por isso, foi tudo em “portunhol”. Então, foi um sentimento maravilhoso, de que eu estava diante de um ser humano mais divino do que humano mesmo”, afirma a médica. Ele teve uma audiência com Francisco, no Vaticano, em 19 de junho de 2019.
Priscila afirma que a audiência com o líder da Igreja Católica foi marcada quase por acaso. Ela disse que ministrou a palestra de abertura de um evento para cerca de 800 enfermeiros, em São Paulo. Na abordagem, perguntou o que cada participante faria ou pediria se soubesse que só teria mais 30 minutos de vida.
Ao participar de um jantar após a palestra, relata a oncologista, um dos presentes a questionou qual seria seu desejo caso só tivesse mais meia de vida. “Eu falei: ah, eu queria apertar a mão do papa. Uns 10 dias depois, eu recebi um contato do Vaticano, que uma pessoa que estava na mesa conhecia uma amiga, que tinha uma amiga que trabalhava no Vaticano”, descreve Priscila.
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Ela relata que, atendendo o pedido da interlocutora, enviou ao Vaticano um portfólio da Associaçao Presente, que presta assistência gratuita aos pacientes com câncer de baixa renda e mantém o Hospice Jesuina Rosa Silva, com 12 leitos destinados a cuidados paliativos de pacientes em estado terminal. Assim, foi agendada a audiência com o papa.
A mineira guarda para sempre as lembranças do encontro com o papa, que durou cinco minutos, tempo que recebeu o desejado aperto de mãos e as bênçãos do pontífice. “Eu acho que o papa Francisco era a pessoa que trouxe o nosso olhar para o outro, para a fraternidade, para a gente não olhar para o nosso próprio umbigo, encontrar sentido mitigando o sofrimento do outro. Ele resgata isso da humanidade. Então, a minha impressão é essa”, afirma a médica.
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“Ele (Francisco) teve um “gran finale”. Morreu no meio de todos menos de 24 horas depois a Semana Santa, agradecendo e tornando-se partícipe do universo. Enfim, deixou um grande exemplo para a humanidade”, conclui Priscila Miranda.
Após a morte do papa Francisco, a dirigente da entidade filantrópica escreveu uma mensagem dirigida a ele, publicada nas redes sociais. No texto, ela fala do exemplo do pontífice e relembra do seu encontro com o líder da Igreja Católica. “Como alguém que busca seguir Cristo, sou muito grata por ter vivido no mesmo tempo que o Senhor. Ter recebido sua benção “in persona Christi” em 2019, tomada de choro e emoção ao estar diante de você, do seu sorriso farto, da sua alegria de falar de futebol, de partilhar sobre meus sonhos para Associação Presente, e rirmos da nossa comunicação criativa em portunhol”, registrou.
“Você amou a humanidade sem reservas. Caminhou com Jesus até o fim. Quebrou protocolos do papado e abraçou a vida simples, o pobre, o excluído, lavou os pés dos presos, deu voz aos doentes (em especial aos na fronteira da vida), defendeu como um gigante a familia e seus valores: foi ternura e firmeza ao mesmo tempo”, afirma Priscila Miranda, que é devota do Santo Padre Pio e de Santa Teresinha.
Perto dos jovens

Outro que guarda para sempre a recordação da proximidade com o Papa Francisco é o estudante de direito Matheus Henrique Santos, de 25 anos, leigo da Igreja Católica, conselheiro da comunidade de Nossa Senhora de Fátima, da paróquia homônima, no Bairro Delfino Magalhães, em Montes Claros.
O universitário se encontrou com o papa durante a Jornada Mundial da Juventude, realizada no Santuário de Fátima, em Portugal, em agosto de 2023. “Fiquei muito perto dele, pois ele passou do meu lado”, recorda Matheus, que, à época, tinha 22 anos e viajou ate o país lusitano com mais quatro jovens da sua comunidade.
“Quando o papa passou perto de mim, senti algo que palavras não conseguem descrever. Era a presença de Deus em nosso meio, viva e palpável. Uma emoção tão profunda que mal cabia em meu coração”, disse. “Aquele momento foi marcado por uma paz diferente, uma presença cheia do espírito santo. Ele era uma pessoa diferente, escolhida, que carrega consigo uma missão divina. Só posso agradecer a Deus por ter vivido esse instante tão sagrado”, completa.
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Matheus Henrique se recorda das palavras de Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude em Fátima. “Na Igreja, há espaço para todos. E, quando não houver, façamos, por favor, com que haja (espaço), mesmo para quem erra, para quem cai, para quem sente dificuldade. Todos, todos, todos – acolhimento. Essa frase ficou marcada”, descreve o jovem leigo católico.
“Eu e meus amigos saímos daquele evento com o sentimento que recarregamos nossas energias de fé, um momento de encontro com o representante da nossa igreja”, avalia o estudante de direito. “O papa deixa um legado de esperança para todos, especialmente para aqueles mais vulneráveis, para nós jovens deixa marcas de misericórdia”, conclui Matheus Henrique.