A psicóloga Andressa Leal chama a atenção para um dos padrões mentais mais destrutivos para a saúde emocional e para o alcance de metas: o pensamento dicotômico, popularmente conhecido como “tudo ou nada”. Esse tipo de pensamento leva as pessoas a enxergarem situações de forma extremamente polarizada — ou algo é perfeito, ou é um fracasso. Essa rigidez mental não apenas mina a motivação, mas também impede que hábitos saudáveis sejam construídos com consistência.
De acordo com a especialista, muitas pessoas desistem de objetivos importantes simplesmente porque cometeram pequenas falhas, acreditando que isso significa o fim do caminho. No entanto, o verdadeiro progresso é feito de pequenas ações contínuas, com flexibilidade para lidar com os imprevistos do dia a dia.
Por que o pensamento “tudo ou nada” é tão perigoso?
“Se algo foge do nosso plano original, então não nos serve mais. Se não for desse jeito que eu planejei, se não for o melhor possível, então é um fracasso.” Essa é uma das armadilhas mais comuns que Andressa Leal observa em seus pacientes e seguidores. Essa mentalidade rígida não considera as nuances do progresso, fazendo com que qualquer deslize, por menor que seja, seja interpretado como um desastre.
Imagine alguém que está tentando seguir uma alimentação equilibrada, mas decide comer um pedaço de bolo em uma festa. Se essa pessoa pensar de forma “tudo ou nada”, ela pode acreditar que “estragou tudo” e desistir do plano, entrando em um ciclo de culpa e abandono. O problema não está no bolo, mas na crença de que perfeição é a única opção.
O impacto psicológico da rigidez mental
O pensamento dicotômico é frequentemente associado a altos níveis de ansiedade, frustração e baixa autoestima. Segundo estudos da American Psychological Association (APA), padrões de pensamento rígidos estão ligados a maiores riscos de desistência em metas pessoais, como dieta, exercícios e projetos profissionais.
Andressa Leal explica que essa forma de pensar impede a pessoa de reconhecer pequenas vitórias, que são essenciais para manter a motivação. “Entre o oito e oitenta existe um caminho do meio, e é nele que conseguimos ter mais equilíbrio e constância nos nossos objetivos”, ressalta.
Como encontrar equilíbrio e consistência?
A chave, segundo a psicóloga, é aprender a valorizar o progresso, mesmo quando ele não é perfeito. Se você não conseguiu treinar por 1 hora, mas fez uma caminhada de 20 minutos, isso ainda é um avanço. Se não cumpriu a dieta 100%, mas manteve boas escolhas na maior parte do dia, isso também conta.
“A questão é parar e refletir: o que posso fazer hoje, mesmo que não seja perfeito?” Essa simples mudança de mentalidade ajuda a reduzir a pressão e a culpa, permitindo continuar no caminho certo sem se autossabotar.
Estratégias para vencer o pensamento “tudo ou nada”
- Aceite a imperfeição como parte do processo: Nenhuma mudança real acontece sem erros. A perfeição é uma ilusão que apenas atrapalha a evolução.
- Celebre pequenas conquistas: Cada passo, por menor que pareça, é uma vitória rumo ao objetivo.
- Use a técnica do “progresso mínimo viável”: Pergunte-se qual é a menor ação que pode fazer hoje para se aproximar do seu objetivo.
- Evite comparações: Cada pessoa tem seu próprio ritmo. Comparar-se com os outros aumenta a sensação de fracasso e alimenta a rigidez mental.
- Pratique a autocompaixão: Erros são oportunidades de aprendizado, não sinais de incapacidade.
A relação com a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
O pensamento “tudo ou nada” é uma das distorções cognitivas mais abordadas na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que busca reestruturar padrões mentais prejudiciais. A TCC ensina que pensamentos não são fatos, e que podemos questionar crenças rígidas para encontrar interpretações mais realistas.

De acordo com a Harvard Health Publishing, a TCC é uma das abordagens mais eficazes para tratar ansiedade e padrões de autossabotagem, justamente porque ajuda o indivíduo a enxergar a realidade de forma mais equilibrada.
Como aplicar o “caminho do meio” no dia a dia?
Andressa Leal sugere práticas simples para cultivar equilíbrio:
- Reescreva narrativas internas: Ao invés de dizer “estraguei tudo”, troque por “tive um imprevisto, mas ainda posso continuar.”
- Estabeleça metas flexíveis: Planeje objetivos que possam se adaptar às situações da vida real.
- Pratique a atenção plena: Técnicas de mindfulness ajudam a perceber pensamentos automáticos e a não se prender a julgamentos extremos.
Essa abordagem permite que as pessoas mantenham constância sem a pressão da perfeição, o que é muito mais sustentável no longo prazo.
O que dizem os especialistas sobre flexibilidade emocional?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a resiliência e a flexibilidade cognitiva são fundamentais para o bem-estar emocional. Pessoas que sabem adaptar suas expectativas e estratégias diante de obstáculos têm mais sucesso em alcançar seus objetivos e sofrem menos com frustrações.
Da mesma forma, a American Psychological Association reforça que substituir o pensamento dicotômico por uma mentalidade de progresso contínuo é um dos pilares da saúde mental.
Fontes Oficiais e Links Úteis
American Psychological Association – CBT Overview:
https://www.apa.org/ptsd-guideline/patients-and-families/cognitive-behavioral
Organização Mundial da Saúde – Mental Health and Well-being:
https://www.who.int/health-topics/mental-health




