A dieta carnívora voltou a ganhar notoriedade nas redes sociais. Seus defensores prometem uma revolução na saúde com base no consumo exclusivo de carne vermelha. Mas será mesmo uma estratégia nutricional segura e eficaz a longo prazo? Segundo o Prof. Dr. Felipe Donatto, a resposta é clara: não.
Em vídeo publicado em seu perfil, o nutricionista esportivo e PhD em Ciências pela USP apresenta, com respaldo científico, os verdadeiros impactos dessa abordagem alimentar. “Não se trata de demonizar a carne”, explica. “Mas sim de mostrar que o extremismo alimentar pode custar caro.”
O que é a dieta carnívora e por que ela ganhou popularidade?
A dieta carnívora é um modelo alimentar que exclui completamente vegetais, frutas, legumes e grãos, focando apenas no consumo de carne e derivados animais. Relatos de adeptos incluem melhora na energia, alívio de dores, redução da ansiedade e até perda de peso rápida.

Segundo Dr. Donatto, muitos desses relatos ocorrem porque os indivíduos vinham de uma alimentação desbalanceada e altamente ultraprocessada. Ao adotar uma dieta restritiva e hipocalórica — mesmo que limitada à carne — há perda de peso e redução de inflamações, mas isso não significa saúde duradoura.
Quais são os riscos de uma dieta sem fibras e vegetais?
Estudos recentes, como os publicados pela revista Nutrients (2022) e pelo International Journal of Cancer (2023), demonstram que a ausência de fibras na dieta pode gerar efeitos colaterais relevantes, incluindo:
- Desbiose intestinal
- Produção excessiva de amônia
- Aumento do risco de câncer colorretal
- Comprometimento da saúde cardiovascular
A fibra alimentar é essencial para a manutenção de uma microbiota intestinal saudável. Sem ela, o intestino perde diversidade bacteriana, o que aumenta a inflamação sistêmica e eleva o risco de diversas doenças.
Fontes:
- Nutrients: https://www.mdpi.com/journal/nutrients
- International Journal of Cancer: https://onlinelibrary.wiley.com/journal/10970215
Por que muitas pessoas dizem se sentir melhor?
Dr. Donatto explica que a maioria das pessoas que relatam melhoras com a dieta carnívora experimentavam uma dieta rica em carboidratos simples, açúcar e industrializados. Ao eliminar esses alimentos, há naturalmente uma melhora na composição corporal e na energia.
Contudo, isso não é exclusividade da dieta carnívora. Qualquer mudança alimentar que reduza inflamações — mesmo com vegetais e carboidratos saudáveis — gera esse efeito.
Ou seja, o segredo está na qualidade, e não na exclusão total de grupos alimentares.
E quanto à saúde emocional e mental?
Muitos relatam melhora da ansiedade e depressão com a dieta carnívora. Esse efeito pode estar ligado à estabilização dos níveis de glicose e à eliminação de alimentos inflamatórios. Porém, a ciência ainda não confirma benefícios consistentes nesse sentido quando comparada a dietas equilibradas com alimentos integrais e ricos em nutrientes.
O consumo exagerado de carne vermelha, especialmente processada, também tem sido associado a alterações neurológicas e maior risco de doenças degenerativas.
Então qual seria uma dieta realmente saudável?
Segundo as diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira, uma alimentação equilibrada deve conter:
- Vegetais variados
- Frutas frescas
- Leguminosas como feijão e lentilha
- Carnes magras, ovos e peixes
- Grãos integrais e oleaginosas
Dr. Donatto reforça: “Somos onívoros. Fomos feitos para comer de tudo — com equilíbrio, individualidade e propósito.” Ele destaca que uma dieta saudável é aquela que respeita o corpo e o contexto de cada pessoa, sem terrorismo nutricional ou regras absolutas.
O problema não é a carne. É o extremismo.
Para o Dr. Felipe Donatto, o principal risco da dieta carnívora está no radicalismo. “Quando se elimina por completo alimentos vegetais e fontes de fibra, o intestino sofre, a inflamação cresce e o risco de doenças também.”
Ele conclui com um lembrete essencial: “Comer bem é ter liberdade. Alimentação saudável não é prisão, é autonomia. E é preciso coragem para defender isso num cenário dominado por promessas fáceis.”