O que começou como uma simples brincadeira virou um dos fenômenos digitais mais impactantes do ano. A trend de transformar selfies em versões inspiradas nos clássicos do Studio Ghibli, como A Viagem de Chihiro, viralizou com velocidade histórica. Lançado pela OpenAI na nova versão do GPT-4o, o recurso atraiu mais de um milhão de usuários em apenas uma hora. O resultado? Uma enxurrada de imagens estilizadas que dominaram o X, Instagram e TikTok, com direito a recriações de pets, memes, políticos e até instituições públicas.
Quando o meme deixa de ser só uma piada inocente
Mas por trás de toda essa criatividade e diversão, esconde-se um lado sombrio. Ao gerar uma imagem com IA, muitos usuários acabam entregando, sem perceber, dados pessoais e biométricos valiosos, como rostos e vozes. A advogada Alessandra Borelli alerta que isso representa uma vulnerabilidade digital inédita: “As pessoas estão se tornando presas fáceis. O encantamento ofusca o risco”, afirma. A prática de clicar em “aceitar termos” sem ler transforma brincadeiras em contratos de cessão de dados irreversíveis.
O que acontece com sua imagem depois da trend?
Poucos param para pensar no que acontece com as imagens depois do upload. Segundo o especialista em IA Marcel Costa, as empresas detentoras dessas ferramentas podem lucrar com os dados enviados. “Você entrega sua imagem, eles ganham milhões. Em troca, você recebe uma figurinha bonita”, ironiza. E mais: essas imagens são armazenadas, catalogadas e potencialmente usadas em novos treinamentos de IA — inclusive com pedaços de rostos de crianças, o que acende um alerta vermelho sobre crimes digitais e pornografia infantil.

Até onde vai o direito de imagem na era da IA?
A tendência de recriar estilos famosos, como o traço de Hayao Miyazaki, abre um debate urgente sobre plágio, autoria e propriedade intelectual. “A IA não copia exatamente. Mas ela evoca a essência visual de algo icônico, o que pode ser considerado apropriação indevida”, explica Costa. O próprio Miyazaki, em documentário de 2016, classificou esse uso da tecnologia como “um insulto à vida”. E se até lendas da animação estão preocupadas, o alerta precisa ser levado a sério.
Como se proteger e educar na nova era digital
Especialistas apontam caminhos para uma convivência mais segura com a inteligência artificial. A principal dica? Leia os termos e condições. Entenda se seus dados serão coletados, armazenados ou compartilhados. Borelli recomenda atenção redobrada ao uso de imagens de crianças: “Os direitos delas são obrigações dos adultos.” E mais: invista em letramento digital. Saber usar não é suficiente — é preciso compreender os impactos. Porque no fim das contas, a IA pode até criar arte… Mas o preço pode ser você.