Yale integra a famosa 'Ivy League' e é considerada uma das mais renomadas dos EUA, sendo conhecida por ter formado cinco presidentes do país. -  (crédito: Reprodução/Instagram)

Yale integra a famosa 'Ivy League' e é considerada uma das mais renomadas dos EUA, sendo conhecida por ter formado cinco presidentes do país.

crédito: Reprodução/Instagram

Keli Souza, estudante de doutorado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), será uma das únicas brasileiras a participar do colóquio internacional “Religião e culturas expressivas na África e suas diásporas”, que acontecerá na renomada Universidade de Yale, em Connecticut, nos Estados Unidos, nesta sexta-feira (9).

No evento, a pesquisadora falará sobre as estratégias usadas pelos africanos — e seus descendentes — para recriarem suas danças e músicas em Minas Gerais, especificamente durante o século 18, bem como a reação de autoridades e cidadãos a essas táticas. A apresentação será baseada em sua pesquisa de doutorado, que tem previsão de defesa neste semestre.

Para observar essas recriações, Keli traça uma comparação entre o que os africanos e descendentes faziam em termos de expressão artística no território mineiro e na África, especificamente na região da “Costa dos Escravos”, localizada no golfo da Guiné, onde atualmente se encontra o Benim (antigo Daomé), Togo e parte de Gana.

 

A estudante acredita que sua pesquisa é importante por mostrar como os africanos agiam sobre a própria história e como eles influenciaram a cultura mineira e brasileira. Keli diz que é importante ressaltar a questão da violência e escravização, mas que sua tese também vem para mostrar um outro lado, o da resistência.

“Apesar de todas as tentativas de cercear essas expressões culturais, eles [africanos] conseguiram vencer. No estudo, mostro que que as músicas e danças africanas eram muito comuns aqui em Minas Gerais, foi uma resistência cultural muito intensa por parte deles e que deu muito certo. As expressões artísticas africanas saíram muito vitoriosas”, explica Keli.

Para a mineira, Yale parecia um sonho muito distante. Ao ver o tema do evento, percebeu que era muito similar ao seu tema de pesquisa, decidiu mandar uma proposta de apresentação de sua tese para os organizadores do colóquio, mas sem muitas esperanças. No entanto, para a surpresa de Keli, a resposta positiva veio cerca de dois meses depois. “Eu fiquei muito feliz, dei um pulo da cadeira na hora que vi a resposta!”, conta.

Além de ser uma das poucas brasileiras no evento, Keli será a única estudante de pós-graduação a compor mesa de colóquio. A pesquisadora possui licenciatura e bacharelado em história pela PUC Minas, onde ingressou pelo Programa Universidade Para Todos (Prouni). Além disso, tem mestrado no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) na mesma área pela PUC Minas.

Do papel ao palco

O principal desejo de Keli é levar sua pesquisa para além do ambiente acadêmico: “Eu quero levar [a tese] para as para as pessoas comuns, que estão fora da academia, em especial para as pessoas pobres e que estão nas periferias, que são aqueles que vêm pagando os meus estudos ao longo dos tempos. Afinal de contas, eu sempre estudei em colégios públicos e, quando fiz minha graduação, fiz com 100% de bolsa do Prouni. Esse dinheiro público é do cidadão brasileiro, então acho justo que eles tenham acesso a pesquisa”, explicou.

Em 2023, a pesquisadora escreveu um projeto que foi aprovado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e parte de sua tese vai se tornar uma peça de teatro, que será exibida em algumas escolas públicas da capital mineira nos meses de novembro e dezembro.

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.