Angélica não foi a primeira a representar a comunidade na Corte: em 2023, Joyce Montserrat, uma mulher trans, também foi coroada Princesa do Carnaval -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)

Angélica não foi a primeira a representar a comunidade na Corte: em 2023, Joyce Montserrat, uma mulher trans, também foi coroada Princesa do Carnaval

crédito: Reprodução/Redes sociais

A Corte Carnavalesca de Uberaba de 2024 teve entre os vencedores Angélica Freitas, travesti que recebeu o título de ‘Princesa do Carnaval’. A eleição, que aconteceu no último sábado (27/01), foi marcada por suposta transfobia de um dos jurados, segundo coletivo LGBTQIA+ da cidade, o Beth Pantera.

A uberabense de 35 anos demonstra gratidão pela honraria e reforça a relevância da conquista:

“A importância de receber esse título é impulsionar a sigla T, mostrar que somos mulheres e também podemos ocupar os espaços que muitas das vezes nos é negado devido a transfobia”, diz Angélica.

No entanto, de acordo com o Beth Pantera, três juradas do concurso procuraram o coletivo para denunciar os atos transfóbicos de um dos jurados, que após ver que Angélica seria eleita a Rainha do Carnaval pediu para alterar suas notas, alegando que estavam erradas. Em consequência, foi dada nota mínima para a candidata, impedindo-a de receber o título de Rainha. 

“A sociedade insiste em nos invisibilizar e nos calar, mas nós avançaremos, por mais inconveniente que seja a nossa pauta! Parabéns Angélica. Você é luta, você é força, você é a voz de muitas. Você é Travesti!”, escreveu o Coletivo Beth Pantera em suas redes sociais.

Além disso, segundo a própria Angélica, o jurado teria dito que ‘homem não poderia ser rainha’.

“Por mais que eu viva em um município de extrema direita, conservador e evangélico, vou resistir e impor minha presença em todos os espaços que eu bem entender. A população trans de Uberaba é atacada diariamente e não podemos deixar tal comportamento se naturalizar e perpetuar por aqui. Todas as nossas conquistas, que são poucas, são advindas de luta e eu estou aqui para lutar contra o preconceito!”, diz.

Em um país que lidera pelo 15º ano consecutivo o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans e travestis, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), Angélica aconselha que essa população cuide de sua saúde mental, procure auxílio psicológico e que também lutem: “mostre para essas pessoas que insistem em nos atacar que transfobia é crime e eles podem responder judicialmente por isso”.

A Prefeitura de Uberaba, responsável pelo evento, foi procurada pela reportagem, mas, até o momento da publicação desta matéria, não deu retorno. 

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.