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Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou dados alarmantes relacionados aos jogos on-line, administrados pelas chamadas bets. Conforme dados do Banco Central examinados pelo TCU, somente no mês de janeiro de 2025 foram transferidos, nada menos, que R$ 3,7 bilhões do benefício do Bolsa Família para a rede de apostas. Isso significa que 27% do total pago através do Programa Bolsa Família (PBF) foi parar nas empresas de apostas, o que levou o ministro Jonathan de Jesus, da Corte de Contas, a concluir que existe um desvirtuamento do Programa Bolsa Família ou uso irregular dos CPFs de pessoas que recebem repasses do PBF.
No mês auditado, nada menos que 4,4 milhões de famílias, ou 21,9% do total de famílias detentoras do benefício, fizeram apostas, sendo que boa parte se encontra criticamente endividada. O estudo aponta que não se pode descartar o “elevado risco” de que contas e núcleos familiares estejam sendo utilizados para “lavagem de dinheiro, ocultação de ganhos ilícitos ou outras fraudes”.
Das 4,4 milhões de famílias integrantes do Programa Bolsa Família que fizeram apostas no mês de janeiro de 2025, 889 mil famílias enviaram R$ 2,9 milhões para as empresas de apostas, o que corresponde a 78% do valor gasto com apostas pelos grupos familiares do PBF. Enquanto o Bolsa Família gerou uma receita média de R$ 671,91 por núcleo familiar, 3,2 milhões de famílias transferiram até R$ 600 para as bets. Outras 371,7 mil gastaram até R$ 1 mil e 820,2 mil mais de R$ 1 mil com os jogos eletrônicos.
A discrepância demonstra que há famílias fraudando o Bolsa Família, já que não reúnem os requisitos para o recebimento do benefício, ou estão sendo usadas por fraudadores de CPFs, eis que, no mês avaliado, uma única família gastou R$ 2,1 milhões com as bets e 663 famílias transferiram entre R$ 100 mil e R$ 1,4 milhão para as empresas de jogos on-line.
Diante desses fatos apurados, o TCU determinou ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome e ao Banco Central que apresentem um plano de ação para identificar as inclusões indevidas no Programa do Bolsa Família e excluí-las. E deverão, ainda, apurar casos de eventuais utilizações ilícitas de CPFs de beneficiários, para realização de apostas por terceiros. O TCU encaminhará, também, os dados referentes a transações atípicas realizadas por núcleos familiares através do Bolsa Família, para investigação pelo Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) e pelo Ministério Público Federal.