Jefferson Oliveira e o pai, Arnaldo, levam um pouco do Mercado Central para perto da casa dos clientes da Região da Pampulha, que já são mais de mil -  (crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Jefferson Oliveira e o pai, Arnaldo, levam um pouco do Mercado Central para perto da casa dos clientes da Região da Pampulha, que já são mais de mil

crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press

Há 94 anos, o Mercado Central de Belo Horizonte reúne tradições e costumes mineiros. Um lugar onde sabores e histórias se fundem. Quatro negócios que nasceram lá dentro levam para outras partes da cidade a essência do ponto cultural e turístico da capital mineira.

Eliza Cristina Fonseca e o seu irmão Pedro Fonseca cresceram entre os corredores estreitos e as lojas do Mercado Central. Há 50 anos, o pai deles, Paulinho Fonseca, abria o bar Lumapa (junção do próprio nome com o dos irmãos Lucas e Márcio). Ao longo do tempo, o negócio se consolidou e conquistou clientes fidelizados. Trinta anos depois, quando o fundador se aposentou, devido a problemas de saúde, a filha assumiu o comando.

“Não foi um início muito fácil. As pessoas diziam que mulher não podia tomar conta de bar. Que lá não era lugar para mim. Achavam e insistiam que eu não podia fazer o meu trabalho”, conta Eliza, hoje com 54 anos. No entanto, ela não desanimou e conquistou o seu espaço, tornando-se a primeira mulher à frente de um bar dentro do Mercado Central. O nome do lugar foi substituído pelos próprios clientes, que o identificavam como o “Bar da Lora”.

 

O famoso fígado com jiló do Bar da Lora também é servido na Savass

O famoso fígado com jiló do Bar da Lora também é servido na Savass

Mateus Baranowski/Divulgação


A história, que começou há cinco décadas, continua a ser contada, dentro e fora do mercado. Além do ponto tradicional, o boteco de petiscos e cerveja gelada tem mais duas unidades, ambas abertas no ano passado: uma também no Centro e, a mais recente, na Savassi.

A segunda unidade fica na Praça Raul Soares, onde quem comanda é o filho de Eliza, Lucas. Mais espaçosa, a loja, que funciona no horário do almoço, levou uma série de novos pratos para o cardápio. O feijão-tropeiro e a famosa galinhada são atrações à parte.

Já a terceira unidade, aberta em dezembro na Rua Sergipe, no coração da Savassi, é liderada pelo cozinheiro e empresário Pedro Fonseca, o irmão da Lora. A proposta é a mesma das outras unidades: cerveja gelada, tira-gostos e clima de festa. “Queremos trazer ainda mais novidades para o Bar da Lora, mas sem perder a essência. Que seja um espaço de encontro, comida boa e momentos especiais”, ela conta. A nova loja tem funcionamento noturno.

“Cada unidade tem o seu perfil. A do Mercado Central é voltada para tira-gostos, na Raul Soares focamos em almoço e a da Savassi é mais movimentada durante a noite. Com os três endereços, entregamos ao público em todos os horários”, aponta Pedro.

Sabores famosos

Com meio século de história, o bar traz sabores famosos no cardápio. Entre eles, fígado com jiló, carne de panela com molho de cerveja preta, costelinha com batatas douradas e molho de rapadura, costela no molho de jabuticaba e filé acebolado na chapa com mandioca.

Costelinha com batatas douradas e molho de rapadura: você pode escolher em qual lugar da cidade quer comer os pratos do Bar da Lora

Costelinha com batatas douradas e molho de rapadura: você pode escolher em qual lugar da cidade quer comer os pratos do Bar da Lora

Mateus Baranowski/Divulgação

Em 2010, o Bar da Lora conquistou o primeiro lugar do Festival Comida di Buteco com o tira-gosto “Pura Garra da Lora”, que combina purê de mandioca com queijo, garrão (tendão do boi) cozido na cerveja preta, jiló na chapa com linguiça e pimenta-biquinho. No ano seguinte, ficou em terceiro lugar com o prato “Não acredito”, preparado com carne de sol, mandioca na manteiga de garrafa, linguiça, molho de seriguela, melaço de rapadura e farinha de pequi.

Paixão por bacalhau

Comerciante a vida toda, o paulista Arnaldo Bezerra de Oliveira, de 60 anos, deu início a um sonho em 2008. Depois de se encantar pelo processo do bacalhau – os peixes são pescados e salgados de forma artesanal nos mares gelados da Noruega, garantindo seu sabor e textura –, ele decidiu começar um negócio próprio unindo duas paixões: comércio e bacalhau.


Intitulado como Rei do Bacalhau, o empório se instalou dentro do Mercado Central de Belo Horizonte. “A partir da paixão por comércio e por bacalhau que eu e meu pai compartilhamos, tivemos a ideia de abrir uma loja no Mercado, onde oferecemos um bacalhau de alta qualidade importado diretamente da Noruega”, conta Jefferson dos Santos Oliveira, de 34 anos.


Por lá você encontra produtos para o preparo do bacalhau, como azeitonas, azeites, castanhas, temperos, sementes, frutas secas e conservas, além do famoso peixe. “Buscamos sempre os melhores fornecedores e as melhores marcas para oferecer aos nossos clientes uma variedade de mais de 500 tipos de produtos”, relata o filho.

Com tamanho sucesso e reconhecimento, o Rei do Bacalhau expandiu seu reinado para fora do Mercado. “A decisão de abrir um espaço fora foi motivada pelo desejo de oferecer aos clientes uma experiência com o gostinho do Mercado Central em um lugar que é a cara do Mercado. Lá, eles podem degustar e adquirir produtos de alta qualidade em um ambiente confortável e acolhedor”, relata Arnaldo.

No Rei do Bacalhau, além do peixe em vários formatos, você encontra azeitonas, azeites, castanhas, temperos, sementes, frutas secas e conservas

No Rei do Bacalhau, além do peixe em vários formatos, você encontra azeitonas, azeites, castanhas, temperos, sementes, frutas secas e conservas

Edésio Ferreira/EM/D.A Press


A segunda unidade do empório está sob o comando de Jefferson, que faz parte dos negócios desde 2013. “Comecei a trabalhar com meu pai para ajudar nas finanças e deu muito certo. Ele tem uma habilidade muito boa com vendas, que acabou passando para mim, mas faltava uma ajudinha com a gestão.”

O novo espaço visa atender a uma demanda crescente por produtos a granel. “São mais econômicos e sustentáveis. Assim, levamos um pouquinho do Mercado para perto da casa dos clientes da Região da Pampulha, que já são mais de mil”, acrescenta.

Cafés especiais

Entre os produtos característicos de Minas Gerais, o café é um dos mais famosos. Com isso em mente, Warlen Silva, de 31 anos, sentia falta de uma loja especializada no Mercado Central de Belo Horizonte. “Como frequentador do Mercado, acha que precisava de uma loja especializada em cafés especiais por lá, daí tivemos a ideia do Café das Gerais”.

Mesmo conscientes de que era caro manter uma loja dentro do berço da mineiridade, Warlen e o sócio, Thiago Venturini, não se deixaram abater. “Escolhemos o Mercado Central porque é um ponto de Belo Horizonte muito conhecido, inclusive pelos turistas. Ainda mais quando ele recebeu o título de terceiro melhor mercado do mundo, sabíamos que o bônus compensaria o ônus”.

Diferentemente das três lojas no Mercado, o novo Café das Gerais na Savassi é focado no serviço de cafeteria

Diferentemente das três lojas no Mercado, o novo Café das Gerais na Savassi é focado no serviço de cafeteria

Café das Gerais/Divulgação

Valeu a persistência. Com a bandeira de Minas na logo, a cafeteria foi bem recebida pelo público e fez sucesso de imediato. Hoje são três lojas no Mercado e uma na Savassi, aberta no mês passado.
A quarta unidade chega como o ponto que faltava. Diferentemente das lojas do Mercado, o novo espaço, localizado na Avenida do Contorno, em frente ao shopping Pátio Savassi, é focado no serviço. “Além de poder oferecer os cafés especiais, as cachaças, os queijos e os doces, também temos um acolhedor espaço de cafeteria para o cliente tomar seu café especial, feito na hora, com métodos de preparo diferentes executados por baristas”, conta. “Tudo voltado para que o público tenha uma pausa no dia com um bom café em mãos.”

Seguindo o estilo da loja do Mercado, na nova cafeteria, todos os produtos ficam à mostra, dando a oportunidade ao cliente de escolher o que quer levar. A parte de empório conta com cafés especiais de várias regiões de Minas Gerais, em grãos, moídos ou em cápsulas.

A pedido dos clientes

Ao contrário do que muitos imaginam, o croissant não é de origem francesa, mas sim austríaca. E quem tem propriedade para falar sobre o assunto é o chef Ronaldo Souza, mestre-padeiro da padaria Du Pain. Originária do Mercado Central de Belo Horizonte, surgiu com o intuito de ressignificar o alimento mais popular do mundo: o pão.

“O pão sempre foi visto com um acompanhamento na mesa. Então, esse processo de torná-lo carro-chefe é um desafio grande. Aqui na casa buscamos dar total destaque para ele. No cardápio, a nossa atração principal é o croissant. Só depois que vêm os complementos”, explica.

Depois de morar um período em São Paulo e passar por experiências gastronômicas, Ronaldo encontrou na panificação aconchego e amor. Retornou para BH com o sonho de continuar o trabalho na área e, entre boas rotas do destino, ele e a sua esposa, Raquel Brandão, encontram o lugar ideal: a loja 288 do Mercado Central.

Depois de assados, os croissants de amêndoas são recheados com frangipane, um saboroso creme de amêndoas, e cobertos com amêndoas fatiadas

Depois de assados, os croissants de amêndoas são recheados com frangipane, um saboroso creme de amêndoas, e cobertos com amêndoas fatiadas

Nereu Jr/Divulgação

A padaria é uma atração à parte do polo cultural mineiro. O cheiro do pão que acabou de sair do forno atrai quem passa pelo corredor. Ao experimentar o alimento de fermentação natural, o cliente é transportado, em uma viagem gastronômica, diretamente para a Europa. “No Mercado Central, difundimos a informação, explicamos a história por trás de cada alimento e como consumi-los. Logo, o cliente passa a olhar para aqueles pães com um outro olhar”, reflete.

Atendendo a muitos pedidos, o casal abriu uma segunda unidade da padaria. No alto do Vila da Serra, em Nova Lima, com vista para o Vale do Sereno, a cafeteria parece ter saído de um filme. Com luminária em formato de croissant, flores rosas no teto, sofás vintage e uma playlist perfeita para o ambiente, o lugar convida o público a se sentar e saborear os pães.

Com luminária em formato de croissant, flores no teto e sofás vintage, a unidade da Du Pain no Vila da Serra convida o público para se sentar e saborear os pães

Com luminária em formato de croissant, flores no teto e sofás vintage, a unidade da Du Pain no Vila da Serra convida o público para se sentar e saborear os pães

Nereu Jr/Divulgação

Por lá você encontra os croissants tradicionais, recheados com chocolate, queijo canastra, amêndoa e goiabada e em forma de sanduíche. Os sabores disponíveis são rosbife de filé-mignon, tomate grape, rúcula e mostarda à l'anciene; gravlax de salmão, mix de folhas e creme azedo e muçarela de búfala, confit de tomate grape, rúcula e azeite de manjericão.
Os pães de fermentação natural são feitos todos os dias, com estoque limitado e servidos sempre quentes.

Serviço

Bar da Lora - @bardalora
Avenida Augusto de Lima, 744 – loja 115, Centro
Avenida Augusto de Lima, 885, Centro
Rua Sergipe, 1414, Savassi
(31) 3274-9409

Rei do Bacalhau - @reidobacalhaubh
Avenida Augusto de Lima, 744 – lojas 138 e 146, Centro
(31) 3273-4433
Rua Irlanda, 123, Itapoã
(31) 3010-6650

Du Pain - @du.pain
Avenida Augusto de Lima, 744 – loja 288, Centro
(31) 3267-9740
Alameda do Ingá, 150, Vila da Serra
(31) 99673-0350

Café das Gerais - @cafedasgerais
Avenida Augusto de Lima, 744 – lojas 35, 85 e 103, Centro
Avenida Cristóvão Colombo, 50, Savassi
(31) 98771-3329


*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino