Pode parecer um salto no escuro ou equilíbrio na corda bamba. No entanto, quem improvisa sabe bem onde está pisando. Os músicos d’O Grivo que o digam!


Formado por Nelson Soares e Marcos Moreira há 35 anos, o duo trabalha com instalações sonoras, instrumentos inventados e timbres não convencionais. A improvisação não é apenas melódica ou harmônica, mas também sensorial, conforme eles mostram no concerto “Plano de voo”, deste domingo (13/7), no Teatro Feluma.


Embora o concerto de O Grivo seja improvisado, ele não é feito ao acaso. Liberdade e estrutura andam lado a lado e, por trás do que parece ser uma criação espontânea, há um repertório vasto de técnicas, referências e padrões que guiam os músicos durante a performance. São formas musicais cíclicas, trajetórias sonoras ou arcos dinâmicos – que funcionam como roteiros invisíveis.


No caso de O Grivo, essas estruturas são o jazz e a chamada música erudita, dois gêneros que permitem a criação durante a execução.

 


Estruturas harmônicas


“Temos estruturas harmônicas, rítmicas e orquestrais que variam de acordo com o parâmetro que vamos trabalhar”, diz Nelson. “É esse parâmetro que determina, mais ou menos, para qual território essa improvisação vai. A partir daí, a gente vai desenvolvendo com instrumentos tradicionais – percussão, sopro, cordas, etc –, instrumentos eletrônicos e uma série de instrumentos inventados”, acrescenta.


O duo também se apoia em convenções pré-determinadas, como códigos silenciosos que os músicos compartilham entre si para indicar, por exemplo, o início ou o fim de uma sessão, a mudança de clima ou de protagonismo. Existe uma escuta mútua, que permite aos artistas interagir com precisão, como quem conversa sem interromper o outro.


“O jazz já permite muito o improviso de maneiras muito variadas. E, no campo da música de concerto, a mesma coisa. Tem, por exemplo, John Cage, (Morton) Feldman, (Karlheinz) Stockhausen, um monte de compositores que trabalharam muito com o campo que eles nomearam de indeterminação. Chega, inclusive, a ser uma tradição de séculos. Dvorák, por exemplo, tem a peça ‘Impromptu’, que é improviso”, destaca Nelson.

Para além dos concertos, O Grivo transita bem pelas performances, instalações e trilhas sonoras de filmes, tendo colaborado com Cao Guimarães, Rivane Neuenschwander e Valeska Soares, além de participar de eventos, como a Bienal de São Paulo e a Bienal do Mercosul.


Os instrumentos pouco convencionais – algo à la Uakti – também chamam a atenção. Vão desde um motor de eletrodoméstico até uma bolinha de silicone em atrito com o vidro. “Descobri esse som da bolinha no vidro quando estava dando banho no meu filho pequeno. Ele estava dentro do box, brincando, pegou uma dessas bolinhas e passou no vidro. Ela cantou por causa do atrito. Aí resolvi levar esse som para nossos concertos”, conta Nelson, garantindo que o instrumento estará na apresentação deste domingo .

“PLANO DE VOO”

Concerto de O Grivo. Neste domingo (13/7), às 17h, no Teatro Feluma (Alameda Ezequiel Dias, 275, 7° andar, Centro). Entrada franca, mediante retirada de ingresso no Sympla ou na bilheteria do teatro.

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