Violonista Edelton Gloeden aconselha ouvir

Violonista Edelton Gloeden aconselha ouvir "Integrais", que tem quase três horas de duração, em doses homeopáticas

crédito: RICARDO FERREIRA/DIVULGAÇÃO

Edelton Gloeden, um dos maiores estudiosos e intérpretes do violão erudito no Brasil, lança “Integrais” (Selo Sesc), álbum duplo de violão que traz músicas de compositores brasileiros como Camargo Guarnieri (1907-1993), Claudio Santoro (1919-1989), Osvaldo Lacerda (1927-2011) e Edino Krieger (1928-2022), além de um registro da obra de César Guerra-Peixe (1914-1993).

 


Com cerca de três horas de música, o CD 1 mostra o modernismo preconizado por Mário de Andrade nas obras de Guarnieri e Lacerda; e um painel estético, nas obras de Santoro e Krieger. O CD 2 é todo dedicado às obras de Guerra-Peixe, incluindo sua produção didática. Inclusive, Gloeden aconselha ouvir o álbum em doses homeopáticas para o ouvinte ir assimilando e apreciando as estéticas contidas no disco completo. “Afinal, são cinco, sendo uma completamente diferente da outra”, garante o violonista.

 


Nascido em São Paulo, o artista, que também é professor, conta que vem pesquisando esse projeto desde 1974. “E quando entrei na Universidade de São Paulo, em 1986, isso se intensificou. Quando comecei a entrar em contato com os compositores, pude estar com Guarnieri e Claudio Santoro. Com o Guarnieri, como as peças eram meio complicadas, só consegui tocar para ele alguns meses antes de sua morte, em 1993”, detalha o artista.

 


Com Santoro, Gloeden teve dois encontros proveitosos, no final dos anos 1980, também pouco antes de sua morte, como lembra o músico. “Esse repertório está meio fora do eixo dos violonistas por uma série de fatores, entre eles problemas de edições esgotadas ou falta de informação dos intérpretes. Como estamos dentro da universidade e fazendo pesquisas, demos de cara com esse repertório e com esses compositores que são tão importantes na música brasileira”, explica Gloeden.

 


Linguagens diferentes

 

O violonista ressalta que a maioria dos compositores não tinha familiaridade com o instrumento. “Talvez, somente, o Guerra-Peixe tivesse um contato maior e com os violonistas que estavam ao seu redor. Os outros não, cada um escrevia do seu jeito. Por exemplo, Guarnieri gostava de escrever com a mão esquerda no piano.”

 


O pesquisador ressalta ainda que a produção de Guarnieri e Krieger é um pouco melhor – cerca de seis peças cada um. “São três de Lacerda e quatro de Santoro, somente Guerra-Peixe merecia um CD inteiro por essa familiaridade que tinha e com a linguagem da música dele que se presta muito para o instrumento”, completa Gloeden.

 


O músico conta que, com o tempo, foi fazendo suas estreias. “Com a obra de Guarnieri foi em 1994, um ano depois de sua morte. Fiz do Santoro também. Somente do Lacerda e do Krieger que ainda não havia tocado. Surgiu a oportunidade de o Sesc se interessar por este trabalho e comecei a reunir essas peças. O CD era para ter sido lançado em 2021. Porém, com o período pandêmico, ficamos na expectativa, mas, felizmente, deu tudo certo.”

 


Livreto

 

Acompanha o álbum, um livreto com 80 páginas. “Chamei alguns especialistas para escrever o texto, entre eles Lutero Rodrigues, da Academia Brasileira de Música; Felipe Garibaldi, da USP; Marcelo Fernandes, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; e Clayton Vetromilla, da UniRio, que são violonistas e também pesquisadores desses compositores.”

 


Gloeden afirma que “Integrais” tem a proposta de difundir e mudar o panorama deste nicho da cultura brasileira que, segundo ele, está fora da curva do que se ouve hoje.” “Na realidade, o meu intuito foi documentar, fazer uma gravação como um documento para ver se desperta o interesse de violonistas, do público e de estudantes, no caso da obra do Guerra-Peixe e algumas composições do Krieger também.”

 


Aliás, Krieger, de acordo com o músico, tem três grandes obras de concerto e três peças ligadas ao ambiente familiar “muito boas para aplicação pedagógica”, o que ele deve colocar em prática. “Continuo dando aula na graduação e pós-graduação no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da USP, ensinando para os alunos sobre grandes compositores brasileiros que não podem ser esquecidos jamais. Também mantenho contato com vários colegas e com as famílias desses compositores que foram decisivos para o fornecimento do material, assim como tirar dúvidas sobre tais peças.”

 


Raízes em BH

 

Edelton Gloeden afirma que voltar a se apresentar em BH está nos seus planos. “Tenho grandes amigos na cidade, como a pianista Berenice Menegale (da Fundação de Educação Artística, FEA), que foi muito decisiva na minha carreira. Tenho outros amigos também, como Celso Faria, Fernando Araújo e Eduardo Campolina, que são violonistas e desenvolvem trabalhos importantes nesse campo. O Celso até gravou a obra para violão do maestro Carlos Alberto Pinto da Fonseca, um trabalho primoroso. Eles também são parceiros de tentar manter essa memória musical do violão e da música brasileira.”

 


“INTEGRAIS”
• Álbum duplo de Edelton Gloeden
• Selo Sesc
• Disponível nas plataformas digitais