Daniel Arelli diz que são

Daniel Arelli diz que são "imprevisíveis" os poemas enviados à Ouriço a partir de temas propostos por editores

crédito: Mauro Figa/divulgação

 

Construir sentido a partir de imagens e percepções é habilidade exclusiva do ser humano que fascina qualquer um que queira se debruçar sobre o tema. Pois não foi diferente com os escritores e críticos literários Daniel Arelli e Gustavo Silveira Ribeiro ao se questionarem sobre o tema que nortearia o terceiro volume da revista Ouriço, cujo lançamento ocorrerá nesta sexta-feira (26/4), na livraria Quixote, em BH.

 


“Depois de procurar pelo futuro (num presente claustrofóbico) e de remexer os arquivos do humor e da subversão da antipoesia em seus volumes anteriores, o terceiro número da Ouriço – revista de poesia e crítica cultural – se propõe a tomar como questão central a imaginação”, afirma a dupla no texto de apresentação da publicação.

 

 


É um tema amplo e vago, reconhece Arelli. Contudo, é apropriado como ponto de partida para poetas desenvolverem textos inéditos, tarefa desempenhada por Arnaldo Antunes, Ana Martins Marques, Bruna Beber e Fabiano Calixto, entre outros que colaboraram com esta edição da Ouriço.


Vaca azul-lavável

 

Como propõe Lu Menezes em seu verso – “ordenhar a volúvel vasta vaca azul-lavável chamada imaginação” –, Arelli e Ribeiro deixaram os colaboradores livres para extrair “consequências imprevisíveis” de tudo o que orbita à sua volta.

 


“Logo que nos pusemos a investigar o tema, e o exuberante verso de Lu Menezes nos serviu tanto como mote quanto como enigma, nos demos conta mais uma vez de seu caráter profundamente multifacetado. É verdade que estamos acostumados a conceber a criação artística, sobretudo naquilo que ela possui de ficcionalização e fabulação, como inseparável do exercício da imaginação. Raramente, no entanto, temos presente que a imaginação pode ser desdobrada em vários outros sentidos”, escrevem Arelli e Ribeiro.

 


Os poemas da terceira edição da Ouriço são variados e multifacetados, trazendo diferentes questionamentos sem resposta – afinal, não cabe ao artista solucionar os problemas do mundo. Nos textos, percepções da realidade se confundem com a fantasia, dando ao leitor diferentes alternativas para interpretar a vida.

 


“Todos os temas que vão direcionar cada edição da revista são propostos depois de muita pesquisa e muito estudo”, diz Arelli.

 

“Evidentemente, a gente parte daquilo que acredita estabelecer diálogo com o tempo presente ou com algum acontecimento relevante dos dias atuais. Foi assim na primeira edição, quando, em contexto de pandemia, decidimos abordar o futuro; e, na segunda edição, quando o tema foi a antipoesia. Só definimos o tema, já o material que chega para a gente é imprevisível”, explica.

 

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Além de poemas, a revista traz ensaios críticos, como o texto “Um canto ainda é possível”, do poeta francês Jean-Christophe Bailly, que analisa o aspecto musical da poesia.

 

Crítica cultural

 

Os ensaios são caros aos editores, pois a Ouriço surgiu com o propósito de ser uma revista impressa de poemas e de crítica cultural no contexto em que esse tipo de publicação vem se tornando cada vez mais rara, limitada a nichos específicos.

 


“Praticamente cinquenta por cento do nosso material é poesia – e também a parte introdutória da revista. Os outros cinquenta por cento são textos dedicados à crítica cultural, mas que, de alguma forma, tangenciam a poesia”, explica Arelli.

 


O novo volume da Ouriço chega com pequeno aumento na tiragem (600 exemplares, ante os 500 das edições passadas), possibilitado pela parceria com as casas editoriais Relicário e Macondo, o que Arelli considera “enorme sucesso”.

 


“De modo geral, a poesia não tem muitos leitores. Se um poeta consegue vender 500 exemplares de um livro, ele pode considerar que foi muito bem-sucedido”, ressalta. “É um espaço minoritário o que a poesia tem. Mas, de qualquer forma, é um espaço que conta com gente que se interessa por esse tipo de material. E nós queremos estar neste espaço”, conclui Daniel Arelli.

 

Os convidados

 

A nova edição traz poemas de Age de Carvalho, Allan Jones, Amelia Rosselli, Ana Estaregui, Ana Maria Vasconcelos, Ana Martins Marques, Anne Sexton, Annita Costa Malufe, Arnaldo Antunes, Bruna Beber, Cide Piquet, Clara Delgado, Daniel Arelli, Danielle Freitas, Dirceu Villa, Douglas Pompeu, Ederval Fernandes, Edoardo Sanguinetti, Ellen Maria Vasconcellos, EZLN, Fabiano Calixto, Gabriela Soares da Silva, George Oppen, Guilherme Mansur, Gustavo Silveira Ribeiro, Hirondina Joshua, Ismar Tirelli Neto, Ítalo Moriconi, Izabela Leal, Jean-Christophe Bailly, Jessica Di Chiara, José Miguel Silva, Julia de Carvalho Hansen, Julio Mendonça, Lauro Mesquita, Leonardo Gandolfi, Lu Menezes, Lucas Litrento, Marcelo Jacques de Moraes, Maria Aparecida Barbosa, Maria Dolores Rodriguez, Marielle Macé, Masé Lemos, Maura Voltarelli Roque, Myriam Ávila, Pádua Fernandes, PJ Harvey, Prisca Agustoni, Raphael Urweider, Ricardo Domeneck, Rodolfo Mata, Sérgio Medeiros, Simone Brantes, Tatiana Faia, Thiago E, Valentina Cantori, Walter Benjamin e Yasmin Bidim.

 

Capa da revista Ouriço

Revista Ouriço se dedica à poesia e à crítica literária

Reprodução

 


OURIÇO (VOL. 3)


• Edição de Daniel Arelli e Gustavo Silveira
• Design de Léo Passos
• Editoras Macondo e Relicário
• 192 páginas
• R$ 79,90, à venda pelo site edicoesmacondo.com.br/livrarias
• Lançamento nesta sexta-feira (26/4), às 18h, na livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)