Em 2022, o diretor mineiro Joel Zito Araújo recebeu o Troféu Eduardo Abelim pelo conjunto de sua obra, no Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul -  (crédito: Edison Vara/divulgação)

Em 2022, o diretor mineiro Joel Zito Araújo recebeu o Troféu Eduardo Abelim pelo conjunto de sua obra, no Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul

crédito: Edison Vara/divulgação

 

Desde que lançou “Meu amigo Fela” (2019), o cineasta mineiro Joel Zito Araújo tem rodado praticamente um filme ou série por ano. Em 2021, ele produziu e lançou o longa “O pai da Rita”. Na sequência, vieram as minisséries “PCC: Poder secreto” (2022), exibida na HBO Max, e “A ética do silêncio”, no canal Curta!.

 


No segundo semestre deste ano, estreia o documentário sobre a Companhia Brasiliana – grupo de música, teatro e dança afro-brasileiros criado em 1949, que se apresentou em 90 países e dividiu o palco com Beatles, Sophia Loren, Marlon Brando e Elizabeth Taylor. Zito está terminando de rodar documentário sobre literatura negra para o Curta!, com estreia prevista para 2025.

 

 


“Estou no melhor momento da minha carreira”, afirma o diretor, em conversa por telefone. “Até ‘Fela’, só fazia filmes que eu mesmo produzia. Tinha de levantar o dinheiro e custear tudo. Agora, estou com demanda grande para streaming e produtoras. Não estou dando conta de tanta proposta de trabalho que me oferecem”, brinca.

 


Esquecimento e resgate

 

A carreira bem-sucedida teve começo na década de 1980, com curtas e médias-metragens em vídeo que acabaram esquecidos pela historiografia do cinema e pelo próprio diretor. Os filmes só sobreviveram devido ao cuidado da TV dos Trabalhadores (TVT), da ONG Ação Educativa e ad TV PUC de São Paulo, entre outras instituições.

 


Realizadas majoritariamente em colaboração com movimentos sociais, sindicatos e organizações civis, essas produções, na visão de Joel Zito, são exercícios de aprendizagem. Por isso não foram revisitadas ao longo dos últimos anos.

 


Parte delas será exibida na mostra “Joel Zito Araújo: Uma década em vídeo”, que entra em cartaz nesta quarta-feira (24/4) no MIS Cino Centro Cultural Vila Santa Rita, Centro Cultural Zilah Spósito e Cine Santa Tereza.

 


Com curadoria de Vinícius Andrade e Álvaro Andrade, a mostra traz um recorte das primeiras produções de Zito, entre os anos 1987 a 1997. Nove filmes documentais denunciam relações precárias de trabalho, desigualdade social, machismo e, principalmente, o racismo. Na sexta-feira (26/4), Joel Zito dará aula magna no Cine Santa Tereza.

 


“Voltar a esses filmes agora me faz assisti-los com outro olhar”, diz o diretor. “Com a distância do tempo, é mais fácil entender o que estava acontecendo ali, naquele período”, ressalta Zito.

 


“A exceção e a regra” (1997), um dos principais filmes da mostra, acompanha um homem de Florianópolis (SC) demitido da empresa onde trabalhava por ser negro.

 


Ao entrar na Justiça, ele recebe sentença desfavorável sob a justificativa de que sua manutenção no emprego configuraria “racismo reverso”, pois os brancos demitidos não recorreram da decisão.

 


“Infelizmente, muitos problemas que Joel abordou nesses filmes não se resolveram, porque eles têm a ver com injustiças históricas ligadas à nossa formação enquanto país. São problemas reincidentes que, dependendo dos movimentos políticos do país, ganham ou perdem força”, destaca Vinícius Andrade, um dos curadores da mostra.

 

Leia também: Joel Zito Araújo fala sobre o racismo no Oscar

 


Produções de Joel apontam caminhos para possíveis soluções dos problemas abordados. “Se formos olhar de modo mais reflexivo, são filmes com caráter pedagógico para os jovens e adultos que não conhecem a própria história saberem que é possível lutar por seus direitos”, diz o curador.

 


PROGRAMAÇÃO

 

VILA SANTA RITA

Quarta (24/4)
• 17h30: “Nossos bravos” (1987), “Memórias de classe” (1989) e “Homens de rua” (1991). Debate com Alessandra Brito
• 19h30: “Almerinda, uma mulher de trinta” (1991), “São Paulo abraça Mandela” (1991) e “Eu, mulher negra” (1994). Debate com Alessandra Brito

Quinta (25/4)
• 17h30: Palestra de Nicole Batista sobre o vídeo popular em sala de aula
• 19h30: “Alma negra da cidade” (1991), “Retrato em preto e branco” (1992) e “A exceção e a regra” (1997). Debate com Edinho Vieira

 


CINE SANTA TEREZA

Sexta (26/4)
• 16h30: “Almerinda, uma mulher de trinta” (1991), “São Paulo abraça Mandela” (1991) e “Eu, mulher negra” (1994)
• 19h: Aula magna de Joel Zito Araújo

Sábado (27/4)
• 19h: “Nossos bravos” (1987), “Memórias de classe” (1989) e “Homens de rua” (1991). Debate com
Ewerton Belico

Domingo (28/4)
• 18h: “Alma negra da cidade” (1991), “Retrato em preto e branco” (1992) e “A exceção e a regra” (1997). Debate com Edinho Vieira

 


ZILAH SPÓSITO

Quinta (2/5)
• 17h: “Alma negra da cidade” (1991), “Retrato em preto e branco” (1992) e “A exceção e a regra” (1997). Debate com Edinho Vieira
• 19h: “Almerinda, uma mulher de trinta” (1991), “São Paulo abraça Mandela” (1991) e “Eu, mulher negra” (1994). Debate com Alessandra Brito

Sexta (3/5)
• 17h: Palestra de Nicole Batista
• 18h: “Nossos bravos” (1987), “Memórias de classe” (1989) e “Homens de rua” (1991). Debate com Ewerton Belico

 


“JOEL ZITO ARAÚJO: UMA DÉCADA EM VÍDEO”


De hoje (24/4) até 3 de maio, no Centro Cultural Vila Santa Rita (Rua Ana Rafael dos Santos, 149, Vila Santa Rita), MIS Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza) e Centro Cultural Zilah Spósito (Rua Carnaúba, 286). Entrada franca.