Douglas Carlos da Silva usou a máquina de costura trazida de casa, em Pernambuco, para criar as peças da mostra

Douglas Carlos da Silva usou a máquina de costura trazida de casa, em Pernambuco, para criar as peças da mostra "Manifesto introspectivo de si mesmo"

crédito: 42 Fotografia/divulgação

Em 2015, Douglas Carlos da Silva saiu de Gravatá, no sertão de Pernambuco, rumo a Belo Horizonte. Com 25 anos, chegou a Minas em busca de se aprofundar nos estudos e à procura de oportunidades no mercado da moda. 


Com formação em design gráfico e curso técnico em vestuário, Douglas logo conseguiu emprego como modelista da marca mineira Coven. Já o mergulho do pernambucano no universo da arte se deu a partir de um interesse antigo, como reação à rotina massacrante do confinamento imposto pela pandemia. 


Acostumado a juntar pedaços de tecidos que sobravam na fábrica, Douglas quis achar uma função para aqueles retalhos. Primeiro, investiu na criação de peças em patchwork. Porém, durante a pandemia, não viu sentido em criar roupas. “Nem tinha onde usar”, brinca.

 

 

Roupas como telas

 

O artista achou seu caminho ao unir panos às técnicas de pintura e do desenho que vinha estudando. “Foi na arte têxtil que consegui me encontrar, porque nela consigo fazer a junção de tudo o que gosto”, diz Douglas Carlos. 


Os primeiros experimentos surgiram em pequenas dimensões. Usando roupas como telas, ele criava arte no bolso de uma camisa ou nas costas de uma jaqueta. Logo, Douglas chamou a atenção da designer mineira Mary Arantes, curadora de arte popular. 


“Quem trabalha em fábrica sabe como é a produção de corte de roupa, vê o quanto se desperdiça de tecido. As confecções não têm como guardar todos os retalhos gerados diariamente. Quando comecei a segui-lo (no Instagram), falei: gente, este menino promete”, elogia Mary Arantes. 


Conhecida por quermesses e bazares que promove em BH, a designer vem organizando mostras esporádicas no espaço que comanda, no bairro da Serra. É lá que estreia a primeira exposição de Douglas Carlos, “Manifesto introspectivo de si mesmo”, em cartaz desta sexta-feira (22/3) a domingo (24/3). 


O objetivo de Mary é investir em talentos fora do circuito das galerias para lançá-los no mercado. Já passaram por lá os artistas Humberto Eustáquio e Eula Teixeira.

 

Obra do artista Douglas Carlos

Trabalhos de Douglas Carlos se inspiram do "chão de fábrica", diz ele, referindo-se a retalhos descartados por confecções

42 fotografia/divulgação

 

Com cerca de 18 obras, 12 delas inéditas, a exposição “Manifesto introspectivo” vem sendo pensada pela dupla desde o fim do ano passado. 


Zig zag

 

Douglas Carlos cria desenhos no pano usando a máquina de zig zag doméstica que trouxe de Gravatá. Com base em seus conhecimentos em estamparia, modelagem e design gráfico, apresenta peças complexas, cheias de detalhes de luz, sombra e texturas que exploram diferentes pontos e tecidos. 


O foco são os rostos, mas recentemente ele tem se aventurado na poesia, bordando frases nos retalhos. O chão de fábrica é a grande inspiração, conta. 


Cores e formatos remetem aos pintores Basquiat e Picasso. “Só depois fui entendendo isso. Eram referências tão internalizadas em mim que, de certa forma, eu nem percebia o tamanho dessa influência”, conclui Douglas Carlos.

 

“MANIFESTO INTROSPECTIVO DE SI MESMO”


Exposição de Douglas Carlos da Silva. Hoje (22/3) e sábado, das 10h às 19h, e domingo (24/3), das 10h às 17h. Rua Ivaí 25, Serra. Entrada franca. Evento pet friendly.