Formado em economia, Sebastião Salgado se mudou para a França no fim dos anos 1960, durante a ditadura militar  -  (crédito: JOEL SAGET / AFP)

Formado em economia, Sebastião Salgado se mudou para a França no fim dos anos 1960, durante a ditadura militar

crédito: JOEL SAGET / AFP

Centenas de homens quase pelados sobem escadas precárias em madeira ao mesmo tempo em que carregam sacos de areia na cabeça. Rios em forma de serpente cortam matas densas e brilhantes. Mulheres e crianças, muitas descalças, fazem filas infinitas à espera de água.

É possível, porém improvável, que um internauta do século 21 nunca tenha se deparado com uma dessas imagens de Sebastião Salgado. Há mais de cinco décadas, o fotógrafo mineiro radicado em Paris faz do planeta e do homem um objeto de estudo e de adoração fascinantes.

Aos 80 anos, que completou na última quinta-feira (8/2), Salgado pode até ser o fotógrafo mais famoso do mundo, mas está longe de ser apenas isso. A fotografia é uma das últimas etapas de um compromisso que começa com a ética perante o outro e a natureza e passa por ações como o reflorestamento de centenas de hectares e a contribuição com dezenas de organizações empenhadas em fazer com que alguma equidade possa ser estabelecida entre os homens.

Um dos primeiros livros publicados por Salgado foi “Outras Américas”, em 1986. As imagens traziam registros de como viviam os índios e camponeses do continente, mas não eram a estreia do fotógrafo, que foi morar em Paris no fim da década de 1960, em fuga da ditadura.

Formado em economia pela Universidade de São Paulo (USP), o mineiro de Aimorés começou a fotografar por hobby e, bastante rapidamente, passou a fazer parte do quadro de algumas das maiores agências de fotografia do mundo. Para a Gamma, registrou a Revolução dos Cravos em Portugal, em 1974, e para a lendária Magnum, na qual trabalhou entre 1977 e 1984, viajou pela América Latina. Também passou pela Sygma e, nos anos 1980, foi o repórter do “The New York Times” designado para cobrir os primeiros 100 dias do governo Ronald Reagan, em 1981.

Salgado trabalhou ainda com o Médico sem Fronteiras, durante 15 meses, na região do Sahel, na África. De lá trouxe as imagens do livro “Sahel: O homem em agonia”, mas foi com o monumental “Trabalhadores”, publicado no início da década de 1990, que o nome do fotógrafo ganhou o mundo e o coração do público.

Depois viriam “Terra”, “Êxodos”, “Gênesis” e “Amazônia”, que renderam megaexposições e correram o planeta, sempre acompanhadas de entrevistas e textos nos quais o fotógrafo explica as escolhas e, sobretudo, tenta colocar em primeiro plano as problemáticas explicitadas nas fotografias.


AS GRANDES SÉRIES


“Trabalhadores”

A vida dos trabalhadores manuais e as condições difíceis e cruéis de certas atividades laborais é o tema deste projeto, que ocupou seis anos da vida do fotógrafo, entre 1986 e 1992.

“Êxodos”

Durante seis anos, Salgado percorreu 35 países para documentar a trajetória de pessoas deslocadas de seus territórios de origem em consequência de guerras, desastres naturais e crises econômicas e políticas.

Foto de Sebastião Salgado

Foto de Sebastião Salgado

Sebastião Salgado/Divulgação

“Gênesis” 

A parte do planeta ainda intocada e os modos de vida tradicionais ocuparam o fotógrafo entre 2004 e 2012 em um projeto que pretendia mostrar como era bonita e essencial a parte do planeta ainda preservada da destruição humana.

“Amazônia”

Das quase 200 etnias remanescentes na Amazônia, Sebastião Salgado esteve com 12 para este projeto, cujas primeiras imagens foram feitas em 1998. Foram 46 viagens em busca da beleza da floresta e seus habitantes, mas também da devastação causada pela interferência humana.