Esboços da cadeira Beto, criada por Sergio Rodrigues para o Palácio do Planalto -  (crédito: Reprodução)

Esboços da cadeira Beto, criada por Sergio Rodrigues para o Palácio do Planalto

crédito: Reprodução

Em abril de 1962, as expectativas estavam altas para a inauguração do auditório da Universidade de Brasília (UnB). As 250 poltronas da sala – projetadas por Sergio Rodrigues (1927-2014), designer de móveis com poucos anos de carreira à época, mas já muito bem-sucedido – foram produzidas e instaladas em tempo recorde, num contexto de euforia com a construção da nova capital do país.

 

No evento da inauguração do Auditório Dois Candangos, contudo, houve um imprevisto. Segundo relato histórico do próprio Rodrigues, uma das poltronas não ficou pronta no prazo. Para que nenhum dos convidados notasse o buraco na plateia, ele mesmo ficou em pé no lugar do assento.

 

A anedota ilustra a relação do criador da poltrona Mole com Brasília, tema do livro “Sergio Rodrigues em Brasília 1956-1981”. O volume recém-lançado reúne nove textos de diversos autores e dezenas de fotos históricas pouco vistas sobre o papel de um dos maiores nomes do móvel moderno brasileiro em definir os interiores de prédios emblemáticos da capital.

 

 

O carioca projetou o mobiliário do refeitório e dos alojamentos dos professores e dos estudantes. Para edifícios-sede do poder, Rodrigues desenvolveu a ambientação e os móveis – mesas, cadeiras, bancos, poltronas e sofás – para o Palácio do Itamaraty, além de ter criado uma cadeira, a Beto, especialmente para ser instalada no Palácio do Planalto.

 

“Foi a partir de Brasília que Sergio Rodrigues constituiu a sua carreira. Ele esteve em contato com pessoas que proporcionaram um salto qualitativo na sua profissionalização”, afirma Marcelo Mari, o organizador do livro.

 

De acordo com ele, até agora não havia pesquisas sobre a trajetória e o trabalho do designer em Brasília.

 

Poltrona Oscar, criada por Sergio Rodrigues

Poltrona Oscar, homenagem ao arquiteto que criou Brasília

André Zimmerer/divulgação

 

Nova escala

 

Mari conta que as encomendas que Rodrigues recebeu de Oscar Niemeyer, o arquiteto de Brasília, de Darcy Ribeiro, então reitor da universidade local, e de outras pessoas ligadas ao governo federal foram determinantes para que o designer passasse da produção artesanal de móveis para a fabricação em larga escala.

 

Ele foi chamado para mobiliar os palácios pouco depois de inaugurar sua loja Oca, no Rio de Janeiro, em 1955, momento em que desenvolvia a linguagem característica de seus móveis.

 

É desta época, por exemplo, a criação da poltrona Oscar, parte da mobília do Palácio da Alvorada que se tornou um clássico do móvel brasileiro com seu desenho leve de braços curvos e assento de palhinha.

 

Com Joaquim Tenreiro, Bernardo Figueiredo e outros designers do período, Rodrigues desenvolveu a estética do mobiliário que deveria dialogar com a arquitetura majestosa proposta por Niemeyer para Brasília.

 

Não se tratava somente de produzir mesas e cadeiras para gabinetes de governo, mas de imbuir as peças de uma identidade brasileira, assim como a nova capital vendia a imagem de um Brasil novo e moderno.

 

Arquiteto Sergio Rodrigues

Design dos móveis de Sergio Rodrigues dialogou com a arquitetura de Brasília

Sergio Rodrigues Atelier/reprodução

 

Para o organizador do livro, foi a arquitetura, mais do que a arte, que se impôs como um símbolo da modernização do Brasil, porque edifícios têm impacto público maior do que obras de arte, restritas a um grupo menor de pessoas. Brasília seria o exemplo máximo disso.

 

Foi neste contexto que Rodrigues e a sua geração construíram o móvel brasileiro. Segundo Marcelo Mari, “eles tinham o sentimento de que o Brasil podia produzir coisas inovadoras e dar contribuição à cultura internacional”. (Folhapress)

 

“SERGIO RODRIGUES EM BRASÍLIA 1956-1981”


• Org: Marcelo Mari
• Editora Olhares
• 196 páginas
• R$ 120