Walter Firmo, de 86 anos, será o elo do Instituto Rouanet com jovens talentos da fotografia -  (crédito: Instituto Rouanet/divulgação)

Walter Firmo, de 86 anos, será o elo do Instituto Rouanet com jovens talentos da fotografia

crédito: Instituto Rouanet/divulgação


Há 71 anos, Guimarães Rosa (1908-1967) partia com uma comitiva de vaqueiros em viagem ao coração de Minas, fonte de inspiração de “Grande sertão: Veredas”, clássico da literatura brasileira publicado em 1956.

Um ano antes do lançamento do romance, o carioca Walter Firmo ingressava no jornal Última Hora, iniciando o caminho que o consagrou como um dos fotógrafos mais importantes do Brasil.

Durante 72 anos de carreira, Firmo revelou a realidade interiorana do país, assim como o escritor mineiro – ambos têm o sobrenome Guimarães. Suas imagens trazem ritos, cores, tradições e belezas do Oiapoque ao Chuí.

 

 

 A exposição “Conjugado”, em cartaz até 25 de fevereiro de 2024, no Instituto Rouanet, em Tiradentes, reúne fotografias que revelam esta jornada. Conhecido como “mestre da cor”, a proposta agora é outra.

“A plateia implora para que o Walter seja um colorista, mas o Guimarães Silva sabe dos pendores de seu estado atual e prefere ser também preto e branco. Coisa mais cerebral, da metafísica, metalinguagem e surrealidade, não tanto do coração”, explica o autor, cujo nome de batismo é Walter Firmo Guimarães Silva.

Firmo parte em busca de Guimarães Silva, seu alter ego, o homem por trás das câmeras. “Fiz um trabalho sobre algo que me incomoda muito hoje. Como sou reconhecido nas ruas, às vezes me assusto quando vem uma pessoa gritando e pedindo para tirar foto”, comenta.

“Quando acordo daquele pesadelo, fico pensando se é lorota. Aí me lembro de que sou dois. Sou o Walter Firmo e o Guimarães Silva. Guimarães da minha mãe, Silva do meu pai. O Firmo é conjugado.”.

Por meio do contraste entre branco e preto, o veterano registrou o sertão profundo, as realidades que forjam o rosto do brasileiro e, consequentemente, o seu.

“Minha vida está ali. Sou filho de pai preto e mãe branca. Meu pai nasceu na palafita na margem direita do Rio Amazonas, no Pará. Na exposição, também coloco fotos da minha família paterna”, conta.

Walter Firmo busca fazer da força de suas imagens um instrumento para alterar o imaginário estereotipado do interior por parte do próprio brasileiro.

“Não fosse a fotografia com seu poder imagético, não sei como poderia exaltar esta confraria suburbana, operária, onde a negritude viceja diferente de um tostão furado”, ele escreve no texto de apresentação da mostra.

E questiona: “O que é pobreza? O que é ter uma vida digna? Ter uma estrutura financeira que possibilite estar nas coberturas? Toda felicidade está em ter o poder econômico? É isso, todo o meu trabalho está voltado para essa interioridade humana, de sobrevivência e de pura dignidade.”

 

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Ao transformar imagens em palavras, Walter cita “Os sertões”, de Euclides da Cunha: “O sertanejo é antes de tudo um forte”, destacando que “as forças das verdadeiras sociedades que fazem um país emanam do meio para o litoral. Não se fazem nações do litoral para o sertão.”

 

Walter Firmo

Walter Firmo revela o Brasil profundo em sua nova exposição

Instituto Rouanet
 

 

"Alma jovem" no Instituto Rouanet

 

No último dia 10, o Instituto Rouanet oficializou o convite ao fotógrafo para compor sua bancada de conselheiros. “Walter Firmo tem atuação muito grande na capacitação de jovens. Por isso, gostaríamos muito de poder contar com ele como conselheiro, abrindo espaço para novos talentos”, afirma Adriana Rouanet, diretora executiva do Instituto Rouanet.

Com “alma jovem”, como se autodefine, Firmo ficou contente com o convite e agradece por mais esse vínculo com Minas – tema de várias de suas fotos.

“Antigamente, eu ia dizer para ela: 'Não me convide não, que não aconselho nem a minha própria vida'. Mas hoje é diferente, acho que posso ser um bom conselheiro”, conclui Walter Firmo.

 

“CONJUGADO”
Fotos de Walter Firmo. Instituto Rouanet (Rua Direita, 248, Centro Histórico de Tiradentes). De quinta a sábado, das 10h às 19h, e domingo, das 10h às 17h. Entrada franca. Até 25 de fevereiro de 2024. Informações: www.institutorouanet.org

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria