secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu  -  (crédito: Jacquelyn Martin / POOL / AFP)

secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu

crédito: Jacquelyn Martin / POOL / AFP

Foi a partir de 1967, após a guerra dos 6 dias, que a relação com os Estados Unidos se tornou essencial, quase vital, para Israel. Essa aproximação será determinante para definir a situação estratégica israelita no Oriente Médio, sua segurança militar e sua prosperidade econômica.

Mas nem sempre foi assim. Durante o governo de Truman (que reconheceu o estado de Israel, sensibilizado pelo Holocausto e pela ideia de assumir o papel de um “Ciro moderno” – o rei persa que permitiu o retorno dos exilados, no épico judaico da redenção), com Eisenhower e Kennedy, as tentativas dos judeus de se acomodarem sobre as asas da grande águia do Ocidente foram frustradas.

John Kennedy, ex-presidente dos EUA, em especial, empenhou-se, particularmente, na luta contra a proliferação nuclear israelense (apesar das negativas contínuas dos judeus a esse programa) e deu ordens firmes ao Departamento de Estado para garantir, por meio de inspeções “in loco”, que Israel não desenvolvesse nenhum programa nuclear secreto.

Antes, a França era a maior aliada israelense, e isso permaneceu até 1968. Todavia, após o embargo seletivo à venda de armas decretado pelo então presidente francês Charles De Gaulle, em novembro de 1967, os vínculos entre os judeus e a França ficaram cada vez mais frios e distantes.

Com o esfriamento das relações com o antigo aliado, os Estados Unidos se apressaram a ocupar o vácuo deixado pelos franceses numa região notoriamente estratégica no cenário mundial devido, em especial, à riqueza petrolífera. É importante não esquecer que o mundo vivia sob um contexto de Guerra Fria, sustentado em uma ordem bipolar, com os EUA controlando parte significativa do mundo em oposição à URSS, a potência socialista rival.

Foi assim que os EUA se tornaram os maiores aliados de Israel, sendo os fornecedores de apoio militar, diplomático e econômico ao país, desde então numa área fundamental à presença norte-americana.

O fortalecimento dessa amizade é explicado, em parte, devido à presença numérica de judeus no país, marginal do ponto de vista demográfico, com 7,5 milhões de representantes (dados do último censo), que correspondem a 2,4% da população total do país, mas, do ponto de vista político, o peso é bastante expressivo.

Soma-se isso ao fato de que, tradicionalmente, os judeus eleitos para o congresso dos EUA eram de estados que têm papel chave na definição da presidência do país – Nova Iorque, Califórnia e Pensilvânia – com, respectivamente, 28, 54 e 19 eleitores no colégio eleitoral, que decidirá o nome do futuro presidente do país.

O congresso norte-americano tem hoje 37 representantes judeus (6% do total de integrantes) de estados mais diversos (contrariando, em parte, as tendências anteriores) predominantemente, democratas, tanto no Senado (dez membros - 10% do total) quanto na Câmara (27 membros - 7% do total).

O voto dos judeus é, em geral, estável e com forte tendência de apoio ao Partido Democrata, apesar de o Partido Republicano ser o maior defensor dos interesses israelenses no congresso.

É relevante considerar também o poderoso e rico lobby pró-Israel, AIPAC (American Israel Public Affairs Committee), que financia campanhas eleitorais que movimentam milhões de dólares, oferecidos por doadores de origem judaica àqueles que dão preferência aos interesses israelenses.

Dessa forma, os nobres candidatos (futuros representantes no congresso) são, enfaticamente, favoráveis à manutenção do apoio material e diplomático, com bilhões de dólares de ajuda externa incondicional a Israel. Esse apoio pode significar ou não sua permanência na vida política estadunidense.

Geralmente, raros são os políticos que criticam a conduta de Israel, mesmo quando atos colocam em risco os interesses dos Estados Unidos, ou estão em desacordo aos valores norte-americanos, ou prejudicam o próprio estado de Israel. De modo geral, o apoio dos EUA deve ser pleno, independentemente do que o Israel possa fazer.

Toda essa bajulação não surpreende no meio político. Os candidatos a altos cargos cortejam, rotineiramente, grupos de interesses especiais que financiam as campanhas milionárias nos períodos eleitorais. Os maiores defensores de Israel, incluindo o lobby Israelita, esperam isso dos pretendentes aos cargos disputados.

Os políticos não querem ofender os judeus americanos ou os “sionistas cristãos”, os dois grupos profundamente envolvidos nas eleições e políticas norte-americanas. Os candidatos temem, com certa razão, que mesmo as críticas bem intencionadas às ações de Israel possam levar esses grupos a se virarem contra eles e, em resposta, apoiarem os oponentes.

A “amizade” construída nessas condições não é confiável para todo o sempre, apesar de se manter quase inalterada nas últimas seis décadas. A verdadeira amizade leva tempo e exige esforço de ambos os lados, e isso implica expor verdades doloridas e indesejadas, que os norte-americanos se negam a fazer e, quando o fazem, o recuo na manutenção das falas mais progressistas, não tardam.

Para ser sólida, exige um conhecimento profundo dos envolvidos. Engloba virtudes como honestidade, aceitação e altruísmo. Entretanto isso não é marcante nas relações entre EUA e Israel. O que se observa são os permanentes jogos de interesse mútuos, que criam uma “amizade útil”, até que, em algum momento, possam deixar de ser!