Um novo ano não deve ser confundido apenas com um ritual de fogos e alegrias instantâneas do réveillon -  (crédito: Túlio Santos/EM/D.A.Press)

Um novo ano não deve ser confundido apenas com um ritual de fogos e alegrias instantâneas do réveillon

crédito: Túlio Santos/EM/D.A.Press

 

O que seria de fato um novo ano para além de uma simples mudança nos calendários e agendas. Um ritual de fogos e alegrias instantâneas que abrem o ano e nada mais? Acredito que seja muito pouco, seria um tremendo vazio, gestos insignificantes, os quais devemos repensar.


Nestes dias de início de um novo ano, o que se diz ao outro a toda hora – e assim mesmo – é que desejamos que seja realmente um novo ano. Queremos que as coisas sejam melhores, que nossos desejos sejam não apenas realizados, mas que a gente saiba quais são. Que a gente se responda sobre aquilo que nos move, o que nos motiva, o que nos faz gostar de se levantar quando vem o dia.


Apreciar a vida, valorizar o que fazemos e ter realmente um novo ano depende muito de cada um. Da posição que escolhemos viver. Mesmo que sem saber claramente, houve uma escolha. Desejar um ano novo não precisa ser uma fala vazia dita aos outros e a nós mesmos, porque só falar é pouco.
Para se ter realmente um novo ano, mais do que palavras, decisão. E decisão vem de um ato. A palavra pode ser um ato, o silêncio pode ser ato que demarca um antes e um depois. Um fazer de outro jeito, novas posturas. Mais dignas daquilo que queremos.

 


Que não seja balela que se fala e depois se esquece, não se sustenta, voltando, retornando ao antes, fogo de palha que se apaga logo. Assim são as repetições que nos prendem naquilo que podemos chamar de mais do mesmo. Isso que nos leva em desespero ao analista, por não sabermos mais o que fazer, por repetirmos os erros, frustrações e situações de prejuízo a si próprio.


Respostas iguais que resultam em quebras de relacionamentos, amizades e perdas profissionais. É disso que desejamos ficar livres para que nossa vida siga mais leve, livre alcançaremos sucesso em nossos empreendimentos, sejam eles quais forem.


O ato, a ação, sem inibição, esboçada de como poderíamos ter um bom aproveitamento, determina o que vem a ser um novo começo. O ano novo nos permite abordar as coisas por esse ângulo. Lembrar do significado do que pode ser novo. Deve ser um ato criador, um se reinventar.


Um ato é ligado à determinação de um começo do começo, onde é necessário fazer um ato, precisamente porque ele não existe, assim disse Lacan em 1968, na primeira aula de seu seminário de psicanálise. E desejar um feliz ano novo de fato entra no campo do ato.


A gente precisa fazer um ato para que a palavra seja efetiva, palavra viva, para mudar o andamento das coisas e sair da queixa, uma subversão que trará outra versão de nós, do que podemos e queremos viver.
Um saber viver ou saber fazer que nasce da linguagem e que, para ser possível, deve haver um sujeito que coordena sua vida. Um recomeço. E novo assim como a lua em seus ciclos que, quando termina, recomeça. Desejo este novo aos leitores. Abraços.