Observações clínicas mostram que a cada ano cresce o número de líderes e empresários que chegam aos consultórios de psicanalistas emocionalmente exaustos, pressionados por metas e conflitos que não conseguem nomear. Segundo Luiz Cláudio de Rezende Cúrcio, presidente da Academia Brasileira de Psicanálise, um alerta se tornou impossível de ignorar: “Em uma década de trabalho clínico, grande parte dos empresários que atendo vêm por conflitos familiares que, na verdade, são efeitos colaterais de desafios emocionais mal manejados na empresa”.
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Segundo ele, as tensões que não encontram voz no ambiente corporativo caem sobre a vida íntima, ou seja, os empresários que não conseguem expor na empresa o que precisa tratar na empresa, eles acabam fazendo a família sentir com o cansaço mental, estresse, indiferença e distanciamento emocional.
Se o psicanalista Sigmund Freud estivesse hoje diante de um auditório cheio de empresários, provavelmente ele começaria lembrando que nenhuma organização pode ser compreendida apenas pela lógica racional. Ele diria que o ambiente corporativo é atravessado por histórias, desejos, feridas, ambições e mecanismos inconscientes, mesmo quando todos tentam vestir a “roupagem” do profissionalismo. Para Freud, não existe produtividade sustentável quando a pessoa precisa reprimir a própria vida emocional. O que é silenciado retorna, seja em forma de conflitos internos, erros repetidos ou adoecimento mental.
Isso nos deixa claro que não existe alta performance sem bem-estar psicológico. O esgotamento e sobrecarga emocional corroem a clareza cognitiva, reduzem a criatividade e distorcem a tomada de decisão.
Isso é mais sério do que podemos imaginar, quando o empresário perde o sentido do que faz, o cérebro perde o poder de criação e entra em modo de sobrevivência. Mas quando o trabalho se conecta com o propósito, identidade e valores, a produtividade não precisa ser empurrada, ela acontece naturalmente.
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Um ponto fundamental a abordar é a resiliência, tão mal interpretada no mundo corporativo. Resiliência não é “aguentar calado”. O verdadeiro significado da resiliência é a capacidade de se recuperar, se adaptar e continuar crescendo sem sacrificar a saúde mental. Ambientes que exigem força, não observando os limites de cada um, geram retração emocional; ambientes que cultivam resiliência saudável geram foco, clareza e decisões inteligentes e consequentemente, prosperidade.
A Organização Mundial da Saúde confirma que saúde mental é também estratégia econômica. Para a OMS, promover saúde mental é uma questão ética, social e também econômica. Ambientes saudáveis ampliam a produtividade e prosperam; ambientes tóxicos geram perdas humanas e financeiras. A entidade recomenda prevenir riscos psicossociais, promover ambientes seguros e apoiar trabalhadores que enfrentam sofrimento mental.
“Saúde mental é o alicerce da produtividade. Organizações que valorizam o equilíbrio psicológico liberam o que há de melhor em cada profissional. A mente que vive em constante alerta não pensa, ela reage a cada situação e, onde só existe reação, não há espaço para criatividade nem para boas decisões. Cuidar da saúde mental no trabalho é estratégia para manter pessoas produtivas e engajadas, afirma Cúrcio.
O desempenho de uma empresa depende diretamente da saúde mental das pessoas que a mantêm funcionando todos os dias. Organizações que entendem isso deixam de tratar a saúde mental como um tema secundário e passam a incorporá-la como parte da estratégia. Não se trata de suavizar metas ou reduzir desafios, mas de criar condições para que as pessoas pensem com clareza, decidam com consciência e produzam com consistência. Em um cenário cada vez mais complexo, o equilíbrio psicológico deixou de ser um diferencial e passou a ser um dos principais pilares da produtividade sustentável.
