Na época de Carlos Alberto Silva, então treinador do América, os jornalistas podiam entrevistar os jogadores em campo e assistir aos treinos -  (crédito:  Paulo Filgueiras)

Na época de Carlos Alberto Silva, então treinador do América, os jornalistas podiam entrevistar os jogadores em campo e assistir aos treinos

crédito: Paulo Filgueiras

Já acompanhei a carreira de vários jogadores e técnicos da nova geração do começo ao fim. Já ajudei alguns deles, tornando-me “amigo”, mas percebi que a reciprocidade não é verdadeira. A distância cultural e de berço, de educação mesmo, não permite que haja uma amizade verdadeira, principalmente por parte deles. Lembro-me das coberturas de Atlético e Cruzeiro, quando eu ainda trabalhava na TV Globo, e os companheiros de jornada eram Roberto Abras, da Itatiaia, Paulo Celso, do Estado de Minas, Roberto Nery, do Diário da Tarde, Chico Maia, da TV Bandeirantes, e Afonso Alberto, da Rádio Inconfidência. Vejam que éramos pouquíssimos e assistíamos aos treinamentos ao lado do gramado, conversávamos com os atletas, na intimidade, e fazíamos matérias especiais sempre que precisávamos. Warley Ornelas era o diretor de comunicação do Galo, um cara espetacular. Não havia internet, nem tampouco esses torcedores com microfones na mão.

Naquela época, os jogadores eram amigos de verdade. Nos recebiam em suas casas e gostavam da gente. Perdi as contas de quantas matérias fiz com Cerezo, Éder e Reinaldo, no bairro Belvedere, onde moravam, que era pouco habitado. Também fiz muitas matérias com Douglas, Roberto e Renato Gaúcho, Nonato, Ademir, pelo lado do Cruzeiro. Caras espetaculares, que são nossos amigos até hoje. Amigos com A maiúsculo, homens de caráter ímpar, personalidade e, acima de tudo, que entendiam a crítica do mesmo jeito que aceitavam o elogio. Os tempos foram mudando, a internet chegou e com ela uma série de imposições dos clubes, das assessorias dos jogadores, coisa que não havia por parte dos dirigentes, dos clubes. Tudo mudou, e para pior.

Assistíamos aos treinos que eram dados por dois dos maiores treinadores da história, Telê Santana e Carlos Alberto Silva, conversávamos com eles todos os dias, aprendíamos com esses dois mestres. Olha que estou falando de dois treinadores, saudosos, que eram referência no país, mas que nos tratavam como seres normais e se comportavam como tal. Tenho muita saudade de ambos e, volta e meia, falo com Dona Elda, esposa de Carlos Alberto Silva, e seus filhos. Uma família maravilhosa. Lembro que na Olimpíada de Seul, em 1988, “invadi” a casa de Dona Elda para acompanhar a final do futebol. Carlos Alberto Silva era o técnico e Ronaldo Nazaré, outro grande amigo, o médico. O Brasil ficou com a prata, mas Carlos Alberto viria a ganhar quatro torneios com a Seleção Principal. Um baita cara, um baita treinador. Também fiz várias matérias na casa de Dona Ivonete, esposa de Telê Santana, Renê, seu filho, e Rafaela, sua esposa. Outro dia encontrei Diogo, neto de Telê e filho deles, na República Tcheca e em Portugal, em amistosos da Seleção Brasileira. Bons tempos que não voltam mais.

Os técnicos e jogadores de hoje, com raras exceções, são pernósticos, mascarados e inacessíveis. É preciso passar por “50” assessores, pelo clube e pelas travas para se conseguir uma entrevista. Concordo que tem muito torcedor com microfone na mão e que isso dificulta o trabalho de jornalistas formados e preparados, mas é o mundo de hoje onde transformam desconhecidos em sub celebridades. Jogadores se sentem como astros de Hollywood e aparecem mais nas colunas sociais do que em campo. Os clubes querem copiar o sistema da Europa, onde os repórteres não podem assistir aos treinos, mas nossos times não nos dão o espetáculo que as equipes europeias dão. Muito pelo contrário, o futebol por essas bandas está na lama. Jogadores que cometem crime existe aos montes. Os casos mais graves são de Daniel Alves e Robinho. O primeiro é estuprador condenado e preso. O segundo é estuprador condenado na Itália a 9 anos de cadeia, que está solto no Brasil. Parece que será preso após o dia 20. Jogadores que agridem suas esposas e namoradas são denunciados aos montes. Viram como ter não é melhor que ser. Ter dinheiro não implica dizer que haja berço, educação ou comportamento de bem na sociedade. Nosso futebol está doente e a ingratidão reina de norte a sul do país. Os jogadores atuais são ingratos com os torcedores, conosco da imprensa séria e talvez até com eles mesmos. Não estão preparados para o sucesso e o dinheiro que ganham. Acham que isso está acima de tudo, e não está.