No primeiro jogo entre Atlético e Cruzeiro na Arena MRV, pelo Brasileirão  do ano passado, a equipe celeste levou a melhor e venceu por 1 a 0 -  (crédito: Ramon Lisboa/EM/D.A Press – 22/10/23)

No primeiro jogo entre Atlético e Cruzeiro na Arena MRV, pelo Brasileirão do ano passado, a equipe celeste levou a melhor e venceu por 1 a 0

crédito: Ramon Lisboa/EM/D.A Press – 22/10/23

 

Sábado, voltaremos à Arena do Mundo Encantado dos Bilionários do Brasil Miséria. Espaço gourmet, esse, inaugurado “para a vida real” pelo Cruzeiro, em 22 de outubro de 2023. Aquele evento ficou marcado na história centenária do futebol mineiro por dois fatos que merecem ser reavivados por conta da peleja do próximo sábado entre o Cabuloso e o Atlético de Lourdes.


O primeiro deles, saudável e educativo, foi a confirmação da sina do Cruzeiro sempre vencer a Turma do Sapatênis quando ela está no ápice da sua soberba. Resumindo, quando têm a certeza absoluta de quem irão “nos destruir”, acabam por se afogar no próprio fel. Vide o 6 a 1, em 2011, e a vitória com gol de Airton durante a pandemia, em 2021.


O segundo acontecimento daquela peleja do Brasileirão de 2023, infelizmente, teve destaque por sua essência deplorável e nojenta. Trata-se da forma odiosa e patética (mas igualmente corriqueiro) com a qual a diretoria do clube da elite econômica e política de Belo Horizonte se relaciona com a instituição Cruzeiro e com cidadãos e trabalhadores que formam a torcida cruzeirense.


Aqui vale relembrar o show de horrores promovido pelo Atlético de Lourdes no primeiro embate contra o Cruzeiro na Arena dos Bilionários: provocações vazias da diretoria exalando desrespeito e preconceitos; panfletos apócrifos tentando atrelar a história do Palestra/Cruzeiro a um tipo de regime político que, na verdade, a torcida atleticana deu provas de adoração durante a ditadura cívico-militar brasileira na década de 1970; alto-falantes do estádio para abafar o nosso canto de alegria; hino nacional desligado na estrofe que exalta o Cruzeiro; oferta de serviços com qualidade pior do que nas áreas destinadas à Turma do Sapatênis e o inacreditável escracho com a dignidade humana: porta arrancadas de banheiros que seriam usados por crianças, mulheres, idosos e idosas cruzeirenses.


Pois bem... Foi essa mesma gente poderosa e prepotente que, na semana passada, se indignou com as condições oferecidas pela Patrocinense no Estádio Municipal Pedro Alves do Nascimento, em Patrocínio, na região do Alto Paranaíba. Um espaço público que, infelizmente, não tem a sorte de receber um jato de milhões de reais vindo de bilionários do Brasil Miséria e não possui cronistas hipócritas para lhe defender.


A mesma turma que promoveu as aberrações naquele 22 de outubro de 2023, em Belo Horizonte, três meses depois, estava revoltada por não ter sido tratada no querido e simples interior mineiro com as benesses que gente rica está acostumada a ter desde o berço de ouro. A velha ideologia dos abastados de se vitimizarem nos momentos estratégicos para alcançarem seus objetivos (sejam esses dignos ou obscuros).


Ou seja, para a Turma do Sapatênis, pasto ruim no focinho do outro é refresco.


Voltemos à peleja do próximo sábado. Até poucos dias atrás, a pergunta que abriria essa crônica seria: qual a punição foi dada pelas barbaridades cometidas contra as crianças, jovens, homens, mulheres e idosos cruzeirenses na Arena do Mundo Encantado dos Bilionários do Brasil Miséria e o que será feito para que isso não se repita no próximo sábado?


Porém, ontem a “solução” foi anunciada: proibir a entrada da Nação Azul. Inclusive, com o aceite confidencial da diretoria da SAF Cruzeiro. Um acordo higienista típico de “gente limpinha” que sente ânsia de vômito quando sente a presença de povão.


Ganhar ou perder faz parte da essência do esporte. Sábado, podemos até perder, pela primeira vez na história, o clássico regional na Arena do Mundo Encantado dos Bilionários do Brasil Miséria. Mas antes mesmo de a bola rolar, já temos uma infeliz constatação: o futebol brasileiro está se tornando um pasto gourmet onde a chuteira, cada vez mais, será trocada pelo sapatênis.