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O "Jardin des Senteurs" no Parc de Bercy, em Paris

crédito: Reprodução internet / By Eutouring - Own work, CC BY-SA 4.0

É possível fritar um ovo diretamente no asfalto. Não é piada, e se você nunca viu isso acontecer, poderia ter aproveitado o calor da semana.

Por outro lado, se Belo Horizonte tivesse a mesma proporção de praças e parques urbanos que Paris tem, talvez você pudesse ter assistido ao cozimento de uma omelete sem o uso de fogo, tranquilamente, sentado à sombra de uma praça arborizada. 

Paris tem mais de 421 praças e parques urbanos, cobrindo mais de 3.000 hectares (30 milhões de metros quadrados, ou 3 mil quarteirões). Importante entender que, por parques urbanos, não estamos falando de áreas de preservação, matas intocadas ou encostas de montanhas; estamos falando de praças anabolizadas, com passeios, gazebos, esculturas, lagos ou chafarizes, muitos jardins e muitas, muitas árvores. Em muitos deles, castelos antigos.

Se você ainda tem dúvidas, cada um desses parques urbanos de Paris se assemelha, em porte e quantidade de amenidades, aos nossos - solitários - Parque Municipal e Parque das Mangabeiras; sendo mais preciso, nada a ver com o Parque da Serra do Curral (meu preferido) que, apesar de super bacana, tem muita área para pouquíssima infraestrutura e amenidades.

Um estudo de 2009 da Escola de Arquitetura da Universidade Federal (EAUFMG) conduzido pelas Professoras Stael Alvarenga Pereira Costa, Lúcia Capanema Álvares, Marieta Cardoso Maciel, Maria Cristina Villefort Teixeira e Valesca Brandão Cerqueira Coimbra (e das Arquitetas Karina Machado de Castro Simão, Stefania de Araújo Perna e Luana Rodrigues Godinho), aponta, em 1997, pouco mais de 8,5 milhões de metros quadrados (850 hectares) de áreas verdes no município, dentre as implantadas e as não implantadas.

Além do número conter projetos nunca implantados, cerca de 50% dessa quantidade estão nas regionais da Pampulha e Centro-Sul, representando a Lagoa da Pampulha e os parques e áreas de preservação relacionados à Serra do Curral.

Funcionam melhor como índice para Congressos e trabalhos acadêmicos, do que como parques urbanizados e preparados para lazer da população.

Sobre praças, o estudo indica 660 mil metros quadrados de praças no município (66 hectares), novamente com quase a metade deles nas regionais da Pampulha e Centro-Sul.

É muito pouco, e o calor recente exacerba a falta que esses espaços fazem, seja, para descanso, lazer ou controle do microclima do município.

As árvores também merecem atenção. Com uma "população arbórea" em torno de 650 mil "indivíduos", vivem - novamente - concentradas na regional Centro-Sul, não por acaso, a região mais valorizada do município.

A crítica aqui vai menos pela quantidade, do que forma como são podadas: espécimes incompatíveis com a fiação aérea da cidade (tema para outro dia), crescem demais e embaralham; para "desembaralhar", aquela poda em forma de "V" bem aberto, estragando todas as árvores da nossa cidade. Me arrisco a dizer que, por aqui, as árvores caem antes de morrer, crescendo desequilibradas e sem sustentação por força dos nossos "escultores" da serra elétrica.

Você, que chegou até aqui, pode estar se perguntando: "por que Paris tem tantas praças e parques e Belo Horizonte não?"

Eu respondo: porque eles quiseram fazer praças e parques lá, e nós não quisemos fazer aqui. Parece uma explicação de quem não quer explicar, mas foi isso mesmo.

Aarão Reis não gostava muito de praças e parques, tanto é que só previu 15 no Plano Diretor da nova Capital, totalizando pouco mais de 300 mil metros quadrados. Parques, apenas 2: o Municipal e o Jardim Zoológico.

O que já era pouco piorou, e nem todos foram implantados. Das 15 praças, sobraram 5. Dos 2 parques, apenas 1, e ainda assim com apenas um terço da área inicialmente prevista.

À despeito de Aarão Reis e a Comissão Construtora terem estragado o perímetro da Avenida do Contorno, as administrações seguintes poderiam ter exigido a criação de parques e praças nos loteamentos futuros que originaram os bairros mais novos, mas, novamente, pensaram pequeno e escolheram não impor padrões urbanísticos consagrados logo ali, em Buenos Aires, no Rio ou em São Paulo.

E, assim, pensando pequeno, olhando para o pé e encabulados de recorrer ao melhor Urbanismo, à melhor Arquitetura e ao melhor Paisagismo, temos bons índices, mas poucas praças. Temos parques simpáticos, mas com pouquíssima infraestrutura. Mas, pelo menos, temos índices de área verde por habitante que fazem bonito em Congressos e trabalhos acadêmicos.

Afinal, ninguém pode ter tudo, certo?