2025, Balança Mas Não Cai
O ano de 2025 escancara, sem poupar nada nem ninguém, todas as mazelas a que ficamos submetidos ao cair no conto de bilionários
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Desde que o jornal me encomendou para este sábado um balanço do ano do Galo em 2025, só me ocorre o apelido do Edifício Tupis, o Balança Mas Não Cai. O prédio de 17 andares, construído na década de 1940, fica na esquina da Amazonas com Tupis, no centro de Belo Horizonte. O povo olhava o espigão a partir da rua, via as nuvens passarem lá em cima e concluía que era melhor sair de baixo.
Na verdade, eram vários os Balança Mais Não Cai, democraticamente distribuídos pelas capitais mais populosas. O primeiro parece ter sido o do Rio de Janeiro, na avenida Presidente Vargas, um conjunto que abrigava cafetões, prostitutas e traficantes até o final dos anos 80, inspiração para o programa de tevê. Em São Paulo, houve o Residencial Francisco Lamego, projeto de habitação popular.
Em Salvador, o Balança Mas Não Cai chamava-se Edifício Carimbamba, na orla. Sua história é a que mais se assemelha ao balanço do Galo em 25: ele não caiu mas foi caído. Demoliram ele. Assim como estão a fazer com o nosso Galo.
Quando a direção do Atlético apagou um grafite com meu rosto feito por torcedores no muro de arrimo da nova Arena, achei que o borrão cinza era pura arte, mais cheia de significados do que a minha fuça realista impressa na avenida – além de um recibão emitido pela junta de asnos que conduzem a carroça rumo ao precipício, praticamente um Prêmio Esso a um jornalista desamansado.
Se não fosse o Telê Santana a cobrir-me com larga vantagem, o ideal seria que se instalasse sobre a testa do Fred apagado um neon gigante: “Eu avisei”. Como não sou eu a andar cheio de vaidade, o neon me parece hoje desnecessário. Antes, poderia servir de alerta àqueles que escolheram não ver que, ao beijar os quatro ratos, digo, sapos, acabaram por ajudar a transformar os mecenas naquilo que eram de verdade, os credores. Agora, no entanto, todo mundo já sabe.
O mais importante acontecimento de 2025, pois é a tomada de consciência, por parte da torcida, do que fizeram e estão a fazer com o Galo. Evidentemente que há bobo pra tudo nesse mundo, mas o fato central é que 25 enterrou qualquer ilusão que se pudesse ter sobre a qualidade da SAF que está a demolir o Atlético.
O ano de 2025 escancara, sem poupar nada nem ninguém, todas as mazelas a que ficamos submetidos ao cair no conto de bilionários que se apresentaram como salvadores da pátria quando a pátria já se encontrava salva, visto que o patrimônio do clube era superior à dívida acumulada em mais de 100 anos de história. Hoje, o patrimônio é deles e a dívida, impagável sob qualquer perspectiva.
Antes, havia a ilusão de que a esperteza que os tornara donos de tudo seria o suficiente também para sermos imbatíveis no futebol. Eu mesmo, em certo momento, imaginei que se fossem tão eficientes nas quatro linhas como tinham demonstrado ser em suas tenebrosas transações, acabaríamos por comprar o Flamengo, o Corinthians e o Palmeiras. Tudo nosso (deles, digo), tudo Galo.
O ano de 2025 trouxe más notícias. A verdade é que a excelência se resumiu ao golpe. Alcançado o poder, está claro, agora, que não sabem nada de nada. Não entendem de futebol, não entendem de gestão, não sabem liderar, não sabem contratar, não conseguem precificar um ingresso, não conhecem o torcedor (ou o consumidor, como queiram), não são capazes de plantar uma grama. Tendo optado pelo sintético, não fizeram no CT um único campo com o modelo adotado no estádio. Para qualquer aspecto que se olhe, não se salva nada.
Pra não dizer que não falei de flores, há uma coisa que fazem com extraordinária excelência: mentem. Com tal volúpia, que um post tentando juntar promessas não cumpridas, avaliações equivocadas e projeções lunáticas só conseguiu caber em si mesmo ao utilizar o tamanho de letra das velhas bulas de remédio.
Depois que demoliram o Carimbamba, o espaço foi devolvido ao povo de Salvador em um projeto de revitalização da orla. Que assim seja.
Esta coluna sai de férias e retorna em 17 de janeiro. Boas festas!
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
