Jogadores do Galo se abraçam em comemoração ao pentacampeonato estadual, no Mineirão, em dia de decepção para a torcida da Raposa -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

Jogadores do Galo se abraçam em comemoração ao pentacampeonato estadual, no Mineirão, em dia de decepção para a torcida da Raposa

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

Este colunista havia anunciado que Davi apenas aguardava o título pra sair do forninho e chegar pentacampeão ao mundão de Deus. Não foi bem assim. Ao que tudo indica, Davi pensou: “Quarta-feira tem mais”. Então esperou um bocadinho, de forma a chegar realmente chegando, também na liderança geral da Libertadores. “Vim, não vi e venci”, teria dito o atleticano novo em sua estreia na última quinta-feira.

Papai, no entanto, pode contar o que viu. No domingo passado, Davi, 60 mil pessoas pagaram ingresso pra ver o Galo em seu salão de festas. Um recorde. Estavam por demais apressadas, tanto que vestiram as faixas de campeão antes do jogo começar, e já tinham ido embora quando a gente levantou a taça. É assim a vida, Davi, uma correria danada. Prepare-se para a maratona.

Mas veja bem, meu pequeno campeão. A lição que a vida nos deu, no domingo passado, foi aquela do grande filósofo e poeta, você vai conhecer sua obra, o Ronaldinho Gaúcho: “Quando tá valendo, tá valendo”. Agora que você saiu do barrigão, agora que tá valendo, parece particularmente importante compreender um pouco mais sobre isso. Então sigamos com o ludopédio, essa metáfora da vida.

Veja o Crüzëirö, nosso arquifreguês. Ganhou da gente o primeiro clássico no Terreirão do Galo, e viu na façanha um título de campeonato. Empatou o segundo e ficou se achando. Seu torcedor jogou milho em nosso Terreiro como se fosse uma grande e irreparável ofensa, quando na verdade se trata de um trote abobalhado e constrangedor, agressivo apenas em sua capacidade de produzir a vergonha alheia.

Quando o Crüzëirö fez o primeiro gol da finalíssima, ficou se tendo certeza, que é o grau mais elevado e perigoso de ficar se achando. Mas... quando tá valendo, tá valendo. E o milho, acrescido da vaidade e temperado com a velha soberba, acabou por resultar na pipoca gourmet que eu, seu irmão e sua mãe sorvemos felizes no domingo à noite, enquanto, Davi, o esperávamos – pentas e pentelhos, a tocar o hino do Galo 800 vezes no repeat do Spotify.

Como a Santa Rita da minha mãe tinha feito um bom trabalho na final, tratei de pedir para que você se atrasasse, visto que papai estava de ressaca. Nem precisava incomodá-la, pois percebi logo suas sábias intenções – pra que chegar ao mundo embolado na tabela se se pode estrear na liderança?

Por isso as contrações só começaram no pós-jogo contra o Rosário Central, Davi, e te agradeço pela decisão de esperar pela cura de papai. Tão logo o juiz apitou, comuniquei à grande barriga: “O Galo ganhô”. Foi a senha para que enfim se desencadeasse a revolução uterina que horas depois resultaria na chegada de mais um atleticano, o que é sempre a promessa de um mundo melhor.

Agora é com você. Aqui fora, é importante saber da nossa matemática: um atleticano vale 200 cruzeirenses em sua volúpia torcedora. Vale cerca de 10 flamenguistas e 5 corintianos. De modo que, feitas as contas, somos de longe a maior torcida do mundo. É importante honrar essa tradição.

Amanhã mesmo, pois, fazemos nosso primeiro jogo no Brasileirão, contra o Corinthians. A gente gosta de ganhar do Corinthians, porque eles roubaram da gente o Brasileiro de 1999. Um pênalti não marcado, juiz caseiro, time do eixo. Não havia VAR. Se houvesse, o Galo seria maior que o Real Madrid. Sem o VAR, acabou que ficamos na mesma prateleira deles, uma grande injustiça.

Mas... vamos seguir na nossa humildade, Davi. Certos, no entanto, de que vale o escrito: quando tá valendo, tá valendo. E vamo que vamo, ganhar Libertadores, ganhar o Brasileiro. Para que, no final, a gente possa cantar aquele Rappa da Galoucura: Valeu a pena, Galo, valeu a pena, vamos ser campeões!