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Por Isabel Gonçalves
Imagine chegar no fim do ano decidido a tirar do papel a tão sonhada ampliação da cozinha. Só que, ao somar os preços de cimento, azulejo, encanamento e mão de obra, o orçamento desanda. E você sabe que os juros de empréstimos estão nas alturas, então sem um crédito acessível, a reforma vira um plano eterno, sempre adiado para “quando der”. Esse é o cenário de milhões de famílias brasileiras desde que o antigo Construcard, da Caixa, foi suspenso em 2019.
Agora, com o lançamento do programa Reforma Casa Brasil, o governo promete reabrir as portas para quem precisa reformar, mas não tem dinheiro à vista. A linha chega com juros mais baixos que os praticados em cartões e empréstimos pessoais, mas ainda assim exige cuidado. Afinal, crédito pode resolver um problema urgente… ou criar um novo. Vamos entender o que muda para o seu bolso e quando esse programa realmente vale a pena.
O que é o Reforma Casa Brasil?
O Reforma Casa Brasil é o novo programa de crédito do governo federal voltado exclusivamente para reformas, ampliações e melhorias em moradias já existentes. Lançado em novembro de 2025, ele surge para preencher uma lacuna deixada desde o fim do Construcard, linha da Caixa Econômica Federal que por anos foi a principal via de financiamento para compra de materiais de construção.
Na prática, o governo quer trazer de volta uma linha de crédito pensada justamente pra galera de baixa renda e classe média que precisa dar um jeito na casa, mas não tem grana sobrando. A ideia é alcançar até 1,5 milhão de famílias.
O objetivo é claro: estimular reformas pequenas e médias, movimentar o comércio da região, dar um gás no setor de construção, que andava meio devagar e, de quebra, melhorar as condições de moradia. Mas a pergunta que não quer calar é: isso vai funcionar mesmo ou é só mais uma jogada de marketing da presidência?
Construcard vs Reforma Casa Brasil: quais as principais diferenças?
O Reforma Casa Brasil chega como um “substituto tardio” do Construcard, que por anos foi o principal crédito da Caixa para quem queria construir, ampliar ou reformar. A diferença é que o Construcard permitia parcelar em até 240 meses (20 anos), com juros que podiam chegar a 2,5% ao mês. Ou seja, dava pra alongar bem o pagamento.
Já o novo programa é bem mais curto, com um limite de 60 meses (5 anos) e juros prometidos entre 1,17% e 1,95% ao mês, dependendo da renda da família. Parece melhor? Em parte sim, mas é bom lembrar que o Construcard morreu por causa da alta inadimplência e nada impede que o Reforma Casa Brasil vá no mesmo caminho.
Como funciona o crédito do Reforma Casa Brasil?
Diferente de um empréstimo pessoal, o dinheiro aqui não é pra usar como quiser. Ele é exclusivo para reforma da casa, sendo que os gastos devem ser em materiais, mão de obra, pequenos ajustes estruturais. Tudo passa pela Caixa, desde análise de crédito, liberação do dinheiro e até a cobrança das parcelas.
Segundo o Governo Federal, na prática, é só solicitar o crédito pelo site da Caixa e aguardar a liberação. É preciso ter conta na Caixa e informar o serviço de reforma que você pretende realizar na hora da contratação. Você pode escolher 3 entre os seguintes serviços:
• Trocar chuveiro, torneira, lâmpada, tomada.
• Arrumar parte elétrica ou hidráulica.
• Pintar, rebocar, colocar piso ou azulejo.
• Trocar portas, janelas, telhado, forro.
• Instalar energia solar.
• Construir ou reformar cômodos.
• Melhorar acessibilidade com rampas, corrimão, barras de apoio.
Os serviços escolhidos vêm descritos no contrato, as prestações mensais são pagas através do débito em conta na Caixa. O dinheiro cai em duas partes: primeiro vem 90% logo no começo, e os outros 10% só aparecem depois que você comprovar que a obra realmente aconteceu.
Ah e é preciso comprovar junto ao banco o uso do dinheiro na reforma com uma foto de antes e depois, no que eles chamam de “comprovação simplificada”, que é simples até demais. O envio das imagens é obrigatório, e a ausência de comprovação pode gerar multa e sujar seu nome.
Quem pode pedir: faixas de renda e critérios
O público-alvo são famílias com renda de até R$3,2 mil (faixa 1) e de R$3.200,01 até R$9,6 mil (faixa 2). A diferenciação das faixas também se dá pela taxa de juros cobrada, sendo 1,17% ao mês para faixa 1 e 1,95% ao mês na faixa 2. A Caixa avalia se a pessoa pode pagar, analisa histórico e exige que a parcela não ultrapasse 25% da renda familiar. Ou seja, quanto maior a renda, maior pode ser a parcela.
Além disso, o programa só vale pra quem já tem um imóvel, próprio ou alugado, não serve pra construir uma casa nova do zero.
Valores liberados e limite
Os financiamentos vão de R$5 mil a R$30 mil. Dá pra fazer desde pequenos reparos (troca de telhas, parte elétrica) até reformas maiores. Mas quem ganha menos vai conseguir pegar um valor menor, não por falta de aprovação, mas porque a regra do comprometimento de renda limita o quanto cabe no orçamento.
A ideia é evitar o superendividamento. Mas no meio do rotativo do cartão, crédito do trabalhador, empréstimo pessoal, antecipação do FGTS e as outras inúmeras linhas de crédito, fica difícil manter o controle.
Juros do programa são realmente mais baixos?
São mais baixos que o padrão do mercado, sim. As taxas vão de 1,17% ao mês (faixa 1) a 1,95% ao mês (faixa 2). Pra ter ideia, empréstimo pessoal costuma ficar entre 3% e 8% ao mês, e até o consignado CLT — que é um dos mais baratos hoje — está girando em torno de 3,79% ao mês. Mas fica o alerta, o que manda de verdade é o CET, o Custo Efetivo Total, que já inclui todas as taxas e encargos.
Vamos ver uma simulação:
Perceba que, quanto menor a renda e o valor contratado, menores também são os juros. No limite do programa (renda máxima e valor máximo) o CET fica em torno de 2,17% ao mês, ainda bem abaixo do que a maioria dos bancos cobra por aí. Mas atenção, tanto as parcelas quanto o total final mudam conforme a taxa. Então, antes de assinar qualquer coisa, faça uma simulação pra não levar susto depois.
O programa Reforma Casa Brasil vale a pena?
A resposta curta é: depende do seu bolso e do tamanho da sua obra. O Reforma Casa Brasil pode ser uma boa saída para quem realmente precisa reformar, especialmente porque os juros são menores que os de um empréstimo pessoal ou do cartão. Mas, como todo financiamento, ele também pode virar uma dor de cabeça se você entrar sem fazer conta.
Se a sua casa está precisando de um reparo urgente, infiltração, fiação velha, telhado que pinga mais que torneira desregulada, o programa pode ser um salvador. Os juros são relativamente baixos e o prazo de até 5 anos dá um respiro. Agora… se você está pensando em pegar o crédito pra trocar o piso “que você enjoou”, levantar um closet digno de influencer ou fazer uma área gourmet do tamanho da sua imaginação, aí o alerta precisa ligar. A graça do financiamento se perde quando a reforma é supérflua e a parcela pesa. E, mesmo com juros menores que outras linhas, ainda é crédito. Ou seja: tem custo.
Como saber se cabe no seu orçamento
A regrinha é simples: antes de pedir, faça uma simulação no site da Caixa e um “test-drive” da parcela. Descubra quanto ficaria o valor mensal e separe esse dinheiro por dois ou três meses, como se você já estivesse pagando o financiamento. Se doer, é porque não cabe. Se der certo, aí sim o crédito pode ser uma solução.
E lembre-se: reforma sempre custa mais do que a gente imagina. Sempre. Então planeje uma gordurinha para aqueles imprevistos clássicos. Aquele “já que abriu a parede…”, o “apareceu um vazamento escondido”, ou “precisou trocar mais peças do que parecia”.
Conclusão: o crédito pode ajudar, mas exige responsabilidade
No fim das contas, o Reforma Casa Brasil pode até parecer a chance perfeita para trocar aquele piso ou instalar o armário dos sonhos. Mas, como todo crédito “facilitado”, merece atenção. Se você não fizer conta e entender sua real necessidade de tomar um empréstimo, sua reforma pode sair do banheiro direto para o vermelho e aí não há tinta que esconda o estrago.
E tem mais, o programa ainda está no início. As taxas reais, a adesão e a continuidade do incentivo ainda são perguntas em aberto. A verdade é que com as taxas baixas, o crédito vai brilhar o olho de muita gente que não precisa de reforma e aí o risco de se endividar à toa sempre será maior que o benefício.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
