Paulo Galvão
Paulo Galvão
Jornalista formado pela PUC Minas
DOIS TOQUES

A difícil arte de revelar bons jogadores

Quase todas as promessas sonham em jogar em um clube europeu, não mais em um gigante brasileiro, como antigamente

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As categorias de base sempre foram um esteio do futebol brasileiro. Era revelando jogadores que os clubes conseguiam montar grandes times ou ao menos competir com quem tinha maior poderio econômico, e também para manter as contas em dia, negociando os pratas da casa que se destacassem.
Isso continua ocorrendo, mas de uma forma diferente. As agremiações têm cada vez mais dificuldades para garimpar talentos, que desde muito novos já contam com empresários, preparadores físicos e nutricionista particulares. Além disso, quase todas as promessas sonham em jogar em um clube europeu, não mais em um gigante brasileiro, como antigamente.
Assim, muitos deixam o Brasil antes mesmo de jogar profissionalmente por aqui. É o caso do volante Jorginho, atualmente no Flamengo. Descoberto pelo Verona, o catarinense foi para a Itália com apenas 16 anos e se destacou tanto que se naturalizou italiano para defender a Azzurra. Também atuou com destaque na Inglaterra, até ser repatriado pelo rubro-negro carioca no meio deste ano.
Outra dificuldade na captação de talentos tem a ver com comportamento próprio da adolescência. Muitos garotos promissores se perdem pelo caminho, por motivos diversos. Entre eles, falta de estrutura familiar, não evoluir fisicamente, não suportar a pressão, que existe desde muito cedo no futebol, ou ter de ficar longe da família.
Isso também ajuda a explicar algumas situações que podem passar despercebidas dos torcedores. O meio-campista Richard Ríos, por exemplo, foi contratado pelo Flamengo após disputar a Liga Sul-Americana de Futsal, no Rio, em 2020. Mas, sem chances no clube da Gávea, se transferiu, no meio de 2022, para o Guarani, onde chamou a atenção do Palmeiras, que o contratou no ano seguinte, sendo uma das peças-chaves das campanhas vitoriosas do Verdão até julho deste ano, quando foi vendido ao Benfica por 27 milhões de euros (R$ 176 milhões).
Trajetória interessante também é a do atacante Samuel Lino. Ele começou no São Bernardo em 2016 e foi emprestado para a base do Flamengo em 2017, mas retornou um ano depois ao clube do ABC Paulista, que o cedeu ao Gil Vicente, de Portugal, em julho de 2019. Três anos depois, o Atlético de Madrid desembolsou 6,5 milhões de euros (ou cerca de R$ 36 milhões à época) e o emprestou ao Valencia por um ano. De volta à capital espanhola, foi eleito o melhor jogador da equipe na temporada 2023/2024
Em julho deste ano, se tornou a contratação mais cara da história do Flamengo: 22 milhões de euros (ou R$ 143 milhões). Ou seja, o clube do Rio poderia ter ficado com ele por um valor bem menor há oito anos, mas considerou, na ocasião, que não valeria a pena fazer o investimento no então garoto.
Por isso, aprovo a estratégia do Palmeiras nos últimos anos. Quando algum jogador da base não está nos planos da comissão técnica principal, o Verdão o cede a outro clube, mantendo porcentagem dos direitos.
Segundo o coordenador das categorias de base palmeirense, João Paulo Sampaio, o clube detém participação nos direitos de mais de 100 jogadores espalhados pelo mundo. E fez vendas astronômicas, como de Endrick e Estevão, vendidos por R$ 450 milhões, em 2022, R$ 356 milhões, em 2024, respectivamente.
Porém, o diretor admite que nem tudo são flores e é preciso muito cuidado na formação não só de atletas, mas de seres humanos. “Hoje, eles (jogadores) são empresas individuais dentro do vestiário de um esporte coletivo. E cada um quer ver a sua empresa se dando melhor que a outra. (…) Mas o clube não pode ser refém de adolescentes, de crianças, porque depois vão se transformar em monstros. Temos esse poder que às vezes a família não tem, porque às vezes ele é o chefe da casa desde cedo. Eles têm de saber que só estão ali porque o clube existe. Quer ser jogador de futebol famoso, ter dinheiro? Ok, mas terá de passar por muita coisa, sair de casa cedo, trabalhar muito...”, disse Sampaio, em participação recente no Charla Podcast. Sábias palavras.

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O Campeonato Brasileiro terminou, a Copa Libertadores também, assim como a Copa Sul-Americana. Mas a temporada 2025 do futebol brasileiro segue a todo vapor para ao menos cinco clubes: Corinthians, Cruzeiro, Fluminense e Vasco, que ainda disputam a Copa do Brasil, e o Flamengo, que ontem bateu o Cruz Azul pela Copa Intercontinental, disputada no Catar.
São peculiaridades – ou seriam bizarrices – do calendário do nosso futebol, que tem dificuldade para acomodar tantos jogos e tantas competições em “apenas” 365 dias. Diz a CBF que no ano que vem vai melhorar. Tomara. Mas duvido muito.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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