Nesta mesma coluna, na semana anterior, abordei o tema “Calor pandêmico” - um alerta feito pelo meu colega e amigo Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues , o Lor, relacionado ao impacto das mudanças climáticas em nossas vidas e da necessidade de treinamento dos profissionais de saúde para enfrentar essa nova realidade.

Quase ao mesmo tempo, recebi de um outro colega da Organização Panamericana de Saúde (Opas), o “Guia de Bolso - Mudança do Clima para Profissionais de Saúde”. Trata-se de publicação de extrema importância que oferece informações essenciais para permitir que os profissionais da saúde (principalmente clínicos) reconheçam os agravos de saúde relacionados à mudança do clima nos seus atendimentos à população.

Essa importante publicação não é nova, foi lançada em 2020, mas ficou certamente ofuscada pela emergência sanitária da COVID-19. Apesar do nome “Guia de Bolso”, o documento aborda de maneira prática e didática os mecanismos e danos nos principais órgãos relacionados às mudanças climáticas e catástrofes meteorológicas.

Como a ciência tem demonstrado, o aquecimento da atmosfera e dos oceanos altera vários sistemas naturais, como se vê pela mudança dos padrões e distribuição das chuvas, o derretimento das geleiras e as alterações no comportamento de espécies e ecossistemas. Isso, por sua vez, tem levado ao aumento do nível do mar, secas, inundações, ondas de calor, alterações na distribuição e comportamento de vetores e patógenos.

Pessoas que vivem em condições de extrema pobreza ou trabalham ao ar livre por longos períodos tendem a ter maior exposição aos riscos climáticos. Identificar esses grupos permite que os profissionais de saúde forneçam orientações específicas para ajudá-los a se proteger, ou para organizar respostas institucionais adequadas para reduzir danos.

Não por coincidência, regiões com alto índice de pobreza apresentam maior exposição a extremos de temperaturas. Condições inadequadas de moradia e a falta de políticas públicas de proteção social agravam o problema.

Estudo conduzido por Laverdière et al., em 2016, mostrou que idosos que vivem em ilhas de calor urbanas têm maior probabilidade de morrer ou ir para o pronto-socorro do que pessoas em um grupo controle. Além disso, o risco de morrer durante uma onda de calor é 34% maior em áreas mais densamente povoadas do que em áreas com menor densidade demográfica.

Mais uma vez, pobres, crianças e idosos, gestantes, pessoas com um círculo social muito pequeno, indivíduos com pouco condicionamento físico ou sobrepeso, as com doenças crônicas e as com transtornos psiquiátricos, serão as grandes vítimas.

Ao final, o documento da OPAS sugere uma série de dicas para enfrentar as mudanças climáticas: usar menos o carro, caminhar, andar de bicicleta, usar mais o transporte público, comer menos carne, aproveitar os programas de apoio ambiental da sua cidade, participar de hortas comunitárias ou familiares e dos programas ambientais de sua comunidade, além de reduzir o consumo de bens e serviços não essenciais.
À essa altura, já deve ter ficado claro para o leitor, que estamos numa encruzilhada histórica. Continuar com o atual modelo de desenvolvimento e condenar a humanidade à extinção lenta e dolorosa, ou mudar o rumo do transatlântico desgovernado e inconsequente.

Em suma, depende da atitude de cada um de nós. Particularmente, no momento de eleger aqueles que definirão as políticas públicas. Afinal, preservar as nossas vidas e de nossos filhos não é pedir muito.