Sinto muito, Paula, mas o que você chama de amor, é abuso. “Quando eu comecei a namorar com o Caetano, eu era atriz também, e todo o assédio da imprensa em cima de mim era porque eu namorava com ele. Aí eu resolvi ser sincera numa entrevista, contar histórias que ninguém mais conta, aí eu contei que eu tinha perdido a virgindade com ele aos 13 anos. Para mim, era uma história de amor”, afirmou Paula no programa "Angélica: 50 & tanto".


Situação completamente romantizada por uma menina que achava que sabia o que estava fazendo. Uma menina não perde a virgindade aos 13 anos, com um homem de 40, ela é abusada. Por lei, trata-se de estupro de vulnerável. Não existe consentimento com essa idade, o cérebro sequer está maduro para ser capaz de consentir. Ao contrário do cérebro de um homem de 40 anos, totalmente capaz de entender que o que estava fazendo era crime.


Em 1982, já se presumia “violência quando a vítima não é maior de 14 anos”, embora só em 2009 tenha sido promulgada a Lei 12.015, que tipificou como crime no Brasil o ato de manter relações com menores de 14 anos. Sempre foi imoral, mas além disso é ilegal, é crime! Não podemos romantizar a situação. Especialmente num país campeão em casamento infantil, de exploração sexual de crianças.
“Meu pai, um criminalista, já sabia que eu não estava nessa posição de ele precisar me defender.” O nome disso é negligência. Um pai sempre deve estar na posição de defender uma criança de 13 anos, ele é o responsável por uma filha menor.


“Eu acho que se alguém abusou de alguém foi eu que abusei do Caetano. O que as pessoas acham que é abusar nesse sentido. Ele adorou, tá, gente.” Pobre homem de 40 anos, abusado, seduzido por uma menina. A fala deixa claro que ela não elaborou o ocorrido, foi abuso. Sinto muito, mas foi crime. A responsabilidade pelo ato nunca é de uma menina com menos de 14 anos. Não há consentimento quando a vítima tem menos de 14 anos.


O casal pode estar muito bem hoje, mas isso não muda o fato de que o relacionamento teve início em circunstâncias que não devem ser romantizadas. Era um homem de 40 e uma menina de 13. A vida é dela, mas como ela escolhe contar essa história, faz diferença na vida de muitas outras meninas, num país que segue romantizando o abuso sexual infantil. Colocar as coisas dessa forma prejudica o trabalho de quem vem lutando contra a cultura da pedofilia.


Não me cabe julgar o relacionamento que o casal em questão tem há tantas décadas, mas cabe a todos nós evitar essa romantização do abuso para que ele deixe de ser normalizado culturalmente.
É preciso ter responsabilidade quando se é uma pessoa pública, é preciso ter cuidado. Isso vale também para a produção do programa. Colocar nos tais ‘falar no ar’, corrobora com a cultura do estupro que já é muito forte no país. É preciso que fique claro: não existe consentimento quando a pessoa tem menos de 14 anos.


Mesmo que ela não seja forçada, que ela ache que sabe o que está fazendo, ela não sabe. E cabe ao adulto ter consciência de que ele não deve fazer sexo com uma menina que tenha menos de 14 anos. Se isso foi socialmente aceito na época, hoje essa aceitação não cabe mais.