Painel da ONU sobre violência contra a mulher, da artista Vanessa Rosa -  (crédito: Vanessa Rosa)

Painel da ONU sobre violência contra a mulher, da artista Vanessa Rosa

crédito: Vanessa Rosa

A violência doméstica sempre existiu, mas agora ela vem sendo mais denunciada, filmada, e as denúncias vêm desestabilizando os denunciados. O homem que pratica violência dentro de casa não sabe como agir quando seus abusos se tornam públicos; eles se colocam no lugar de vítima, de injustiçados. O pior pesadelo de um homem é ser acusado de ter agredido uma mulher, o pior pesadelo de uma mulher é ser agredida por um homem.Em qualquer relacionamento existem atritos. Sempre é preciso que o casal faça concessões e, culturalmente, quem vai renunciando seus desejos é a mulher. Esse desequilíbrio ocorre principalmente quando o relacionamento começa com a mulher ainda na adolescência e o homem já na fase adulta, como foi o caso da apresentadora Ana Hickmann e seu marido Alexandre Correa.

Quando se casaram, ela tinha 16 anos e ele tinha 25. Relacionar-se com uma adolescente de 16 anos pode não ser ilegal para um homem adulto, mas é imoral. É muito mais fácil manipular uma adolescente do que manipular uma mulher adulta.

Quando a adolescente chega à fase adulta, e começa a se projetar, a se destacar profissionalmente, o marido se sente inseguro, não merecedor daquela mulher. Então, ele a diminui, abala sua autoestima para que ela se sinta frágil e dependente dele. Assim, tem início a violência psicológica. Os xingamentos podem vir na sequência, caracterizando a violência moral. Ao mesmo tempo, existe a violência patrimonial, que é quando o marido passa a controlar o dinheiro como se a esposa fosse incapaz de fazê-lo.

Gritos, ameaças, piadas e apelidos depreciativos, um empurrão. E, quando a vítima começa a entender o que está acontecendo, a agressão piora. O ciclo da violência precisa ser interrompido ou o que será interrompido é a vida da mulher. Violência doméstica não faz distinção de classe social, cor, religião. Quando acontece com celebridades, acaba jogando luz no tema que ainda é um tabu. Os piores abusadores são os da classe A, pois eles têm o sistema a seu favor. Por isso, acabam sendo mais cruéis, certos da impunidade.

Na Lei Maria da Penha estão previstos cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher: violência física, violência psicológica, violência moral, violência sexual e violência patrimonial. Ao contrário das outras formas de violência que são mais sutis, a violência física é facilmente identificável, ela é o último recurso dos covardes. Antes dela, outras formas de violência podem ser empregadas pelo abusador, inclusive a violência sexual através do estupro marital que, muitas vezes, não é reconhecido como estupro porque as vítimas acreditam que o marido tem direito de usá-las. Essas formas de agressão não ocorrem isoladas umas das outras, são violências complexas, perversas, que têm graves consequências para a mulher.

Muitas vezes, as vítimas de violência não denunciam, e existem várias razões para esse silêncio. Segundo uma pesquisa do Data Senado, 24% delas não faz nada por preocupação com os filhos, preocupações como perder a guarda deles; 21% têm medo de vingança. Sabemos que é um risco, vide o número de feminicídios no país, grande parte desses crimes praticados pelos ex-companheiros. Por acreditar que seria a última vez, 17% faz parte do jogo do abusador violento e que depois pede perdão, promete que não vai fazer outra vez, mas sempre repete. 10% acreditam que não haverá punição e 7% não denunciam por vergonha, mas a vergonha não deveria ser da vítima e sim do abusador.

Violência doméstica não é novidade. A novidade é que hoje falamos abertamente sobre o assunto e, assim, cada vez mais mulheres têm coragem, força e apoio para denunciar.