Natal é união, amor, família, amizades, alegria e compartilhamento. A mesa de Natal é, antes de tudo, um lugar de encontro. Ela reúne pessoas que compartilham histórias, afetos e memórias. Durante muito tempo, esse espaço era só celebração e, por incrível que pareça, uma pausa em meio a tanta correria. Porém, nos últimos anos, a política passou a ocupar lugar central nessas reuniões. E, com isso, surgiram conflitos que ameaçam a convivência. E muitas pessoas chegam ao encontro familiar em estado de alerta.
Há quem evite determinados parentes. Há quem prefira o silêncio absoluto. Há, ainda, quem transforme a conversa em um campo de disputa. Tudo isso revela um mesmo problema: a dificuldade de conviver com a diferença. A política, por si só, não é o vilão. Ela faz parte da vida social e influencia o cotidiano. O problema aparece quando ela passa a definir as pessoas por completo. Quando o outro deixa de ser parente ou amigo e passa a ser apenas um rótulo ideológico. É quando o respeito pela opinião do outro deixa de existir.
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Na mesa de Natal, isso é nocivo. Ali estão vínculos construídos desde o nascimento. Histórias que antecedem quaisquer eleições, partidos e governos. Ignorar isso em nome de um debate acalorado é desconsiderar o valor das relações humanas. Discordar é legítimo. Impor opiniões, não. Convencer alguém durante a ceia raramente acontece. O mais comum é produzir ressentimento. E ressentimentos costumam durar mais que qualquer discussão.
A ceia não é um espaço neutro. Ela é carregada de emoção. Por isso, palavras duras têm peso maior. Ironias machucam mais. E o clima de confronto contamina todo o encontro.
Não se trata de fingir que a política não existe. Nem de exigir silêncio forçado. Muito menos ficar cheio de dedos com relação ao que falar e como agir. Trata-se de reconhecer limites. Nem todo debate precisa acontecer ali.
Escolher preservar o ambiente é uma forma de maturidade. É compreender que algumas relações valem mais do que um argumento bem formulado. É aceitar que o convívio democrático começa em casa. E que respeito não depende de concordância. A política muda com o tempo.
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As pessoas, quando se afastam, nem sempre voltam. Esse desequilíbrio deveria orientar escolhas mais cuidadosas. O Natal convida à pausa. À escuta. Não tema as relações por causa da política na mesa de Natal. Tema a incapacidade de conversar sem machucar o outro. Tema a rigidez de opinião. Preservar um elo familiar é muito mais importante que ganhar uma discussão. (Isabela Teixeira da Costa)
