Eles formaram dupla de ataque de sucesso no Inconfidência, equipe do Bairro Concórdia, e dominaram o futebol amador de Belo Horizonte há quase uma década. Tentaram o profissional, mas tiveram destinos diferentes no mundo da bola. Bruninho, de 28 anos, o mais novo, que posteriormente virou Bruno Henrique, hoje defende o badalado Flamengo, líder do Campeonato Brasileiro, e atingiu o mais alto nível na carreira de um atleta: vestir a camisa da Seleção Brasileira. E Juninho, de 29, ainda que tenha buscado uma carreira consolidada nos gramados, voltou ao futebol amador.
Enquanto Bruno Henrique está em Los Angeles com a Seleção, que disputa amistoso hoje contra o Peru, Juninho está a caminho de partida decisiva no domingo. Ele atuará pelo Areias, diante do Flamenguinho, domingo, às 10h, na final da Primeira Divisão do Campeonato Amador de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH. A exemplo do irmão, é atacante de velocidade pelos lados do campo e atua ainda pelo Paranaíba, de Carmo do Paranaíba, equipe amadora do Alto Paranaíba, a 348 quilômetros da capital, no Oeste mineiro.
A trajetória de Juninho no profissional durou apenas seis anos. Teve breve passagem pelo Cruzeiro (não chegou a ser aproveitado) e em seguida tentou a sorte no Araxá, Uberlândia, Aseev-GO, Anápolis e Guarani. Quem mais o ajudou foi o técnico e ex-armador Ramon Menezes, que o comandou no Anápolis e depois o levou para atuar no Bugre, de Divinópolis.
Longe do profissional desde o fim do Campeonato Mineiro de 2017, vive dos cachês que recebe por jogos nos campos de terra – conta também com a ajuda do irmão. O retorno à Várzea foi devido a uma soma de fatores. “Não foi nada fácil. Tivemos preconceitos por ser de time amador e não ter uma base. Infelizmente, tive uma lesão na quinta vértebra lombar. Num time pequeno, tudo é mais difícil. Já tinha dois filhos, a recuperação é sempre demorada em clubes menores... Logo, abandonar o futebol profissional foi o melhor que eu fiz naquele momento”.
Juninho afirma que um dos méritos de Bruno Henrique – ignorado pelo Atlético, contratado pelo Cruzeiro, mas emprestado ao Uberlândia – foi ter persistência para se firmar: “É algo bem diferente do que vivemos no amador, onde você não treina e chega no fim de semana para jogar. Uma das coisas que não deu certo foi que não tive paciência para fazer a transição para o profissional. Muitas vezes, eu não era relacionado. Ficava chateado. O Bruno Henrique teve paciência e conseguiu chegar ao sucesso”.
Mesmo depois da fama, Bruno Henrique não deixou de lado o irmão nem os amigos do Bairro Concórdia, onde costuma passar as férias de dezembro. O camisa 11 do Flamengo e Juninho se falam todos os dias por telefone ou aplicativos de mensagens instantâneas.
Quando Bruno Henrique não joga bem, Juninho é o primeiro a puxar as orelhas do irmão. “Ultimamente, não está precisando, pois ele tem feito tudo certo. Mas quando ele comete falta ou finaliza mal, a gente conversa depois. Mas é uma conversa sadia”, brinca. Sobre a Seleção, ele espera mais oportunidades. “Foram poucos minutos (no 2 a 2 com a Colômbia), mas por ser a primeira vez dá para ele ir se soltando. Agora é esperar que ele jogue mais amanhã (hoje) e faça um jogo melhor ainda.”
Fome
Juninho revela que Bruno Henrique chegou a passar fome no início da carreira: “Era o único jogador do time principal do Uberlândia (2012 a 2014) que morava na base. Nos fins de semana, muitas vezes ele ligava para falar que não tinha o que comer, que não tinha almoço. Ele não tinha dinheiro para comprar algo para comer. Vivia de biscoitos e de pão no fim de semana”.
Mas hoje celebra a trajetória: “É gratificante ver um jogador da várzea chegar a um time profissional e vestir a camisa da Seleção. A gente fica muito orgulhoso. Quando o jogador chega à Seleção, é o topo. Não só eu os familiares, mas todas as pessoas do bairro ficaram felizes por ele”.
Equipe mesclada contra o Peru
Na reedição da final da última Copa América, Tite aproveitará o amistoso entre Brasil e Peru, na madrugada de hoje para amanhã (meia-noite), em Los Angeles, para fazer mudanças na equipe, dentro do projeto de renovação para as Eliminatórias Sul-Americanas. Depois do empate por 2 a 2 com a Colômbia, a tendência é que o treinador faça pelo menos quatro mudanças, com o aproveitamento de atletas mais novos.
Assim, jogadores como o lateral-direito e zagueiro Eder Militão, o lateral-esquerdo Jorge, o volante Allan e o atacante David Neres têm chance de começar jogando. O treinador vê a necessidade de a equipe ter a longo prazo um novo esquema de jogo, com peças com característica diferente e mais versáteis no meio-campo e no ataque. Pelo que mostrou nas atividades nos Estados Unidos, o comandante manterá Neymar como titular ao lado de Roberto Firmino no setor ofensivo.
Tite entende que os atletas a serem testados têm de entrar com confiança para mostrar o melhor que sabem: “Vamos dar oportunidades, sim. Sabendo da grandeza do jogo, de repetir final de Copa América, em manter estrutura básica, mas com modificações. Quero manter a estrutura da equipe, para um reencontro com a devida competitividade. Pode ser em torno de quatro atletas. Não muda a defesa inteira, o meio inteiro, o ataque inteiro. Busco manter estrutura para o jogador entrar com confiança”.
O treinador elogia a qualidade do adversário, que avançou no cenário da América do Sul nos últimos anos. “O Peru cresceu muito nas Eliminatórias. Cresceu como equipe. Se consolidou. Gareca tem feito grande trabalho. Antes do jogo da final, eu falei que aquele primeiro resultado tinha sido anormal (goleada na primeira fase da Copa América por 5 a 0). Vai ser um grande jogo de novo. Podem ter perdido algumas peças, o Guerrero, mas há outros jogadores com qualidade. Mantém-se a estrutura básica”.
Desfalcado
O Peru enfrentará o Brasil sem a força que jogou a Copa América. Além de não contar com Paolo Guerrero, que pediu dispensa para atuar pelo Inter, não terá Farfán, que se recupera de lesão no joelho direito. Na semana passada, a equipe de Ricardo Gareca foi derrotada pelo Equador por 1 a 0, em Nova Jérsei.