Uma mulher entra no elevador e encontra um cadeirante de terno e gravata. Ela assume um tom maternal, como se falasse com uma criança, e pergunta se ele vai passear. Surpreso, o homem responde que está indo trabalhar. "É bom para distrair a mente", a senhora retruca. A cena aconteceu com o diretor da Diretoria da Pessoa com Deficiência da OAB/RJ, Geraldo Nogueira, que definiu o caso como um exemplo de capacitismo: "Não conseguem ver uma limitação pontual, enxergam a pessoa como incapaz como um todo".





No evento intitulado Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência: desconstruindo o capacitismo, promovido pelo Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) nesta quinta-feira (21/9), Nogueira afirmou que o capacitismo atrasa a inclusão dos PCDs no mercado de trabalho: "Quando a pessoa se inclui, estuda e trabalha, ela gera riqueza para o País e se sustenta. As pessoas com deficiência não lutam por assistência, elas lutam por igualdade de oportunidades. A sociedade já está madura para esse debate, mas o capacitismo faz com que não avancemos nisso com celeridade".


Na abertura do evento, a 3ª vice-presidente do IAB, Ana Amelia Menna Barreto, destacou que o debate é muito importante para consagrar as celebrações da data que marca a luta pela inclusão das pessoas com deficiência. O webinar também teve a participação do ativista e servidor da Secretaria de Direitos Humanos do Ceará, Rubens Linhares, da analista judiciária e membro da Comissão de Acessibilidade e Inclusão do TRT1 Maria Villela de Souza Ferreira, do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Subseção da OAB Barra da Tijuca/RJ, Paulo Fernando de Castro, da presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência do IAB, Danielle Marques de Souza, e dos integrantes do mesmo grupo Ana Cláudia Ferreira França Correa e João Theotonio Mendes de Almeida Junior.

A situação de capacitismo vivida por Geraldo Nogueira também é comum na vida de Rubens Linhares, que é uma pessoa com nanismo. O ativista contou que já foi perguntado, em um local público, se estava sendo acompanhado, mesmo sendo um adulto. "Quando alguém olhar para mim, não é para ver o Rubinho com 1,35m, mas sim acreditar que dentro de mim tem potencial para ser útil", afirmou. Para o palestrante, o País ainda está longe de alcançar uma acessibilidade universal, que abarque variados âmbitos, como o educacional, o arquitetônico e o atitudinal. Lembrando do passado recente em que pessoas com nanismo eram exploradas como atrativos exóticos em circos, Danielle Marques também pontuou que PCDs são alvo de vários olhares problemáticos e costumam ser infantilizados.



Segundo Marques, as visões capacitistas da sociedade funcionam como uma muralha que impede a inclusão: "Essa é uma pauta universal de todas as pessoas, com ou sem deficiência, porque é a sociedade que deve se reabilitar, para incluir as pessoas com deficiência, e não o contrário". O preconceito enraizado, na visão de Maria Villela, traz a ideia de que há sofrimento na existência dos indivíduos desse grupo. Ela ressaltou que a deficiência é uma característica que existe em pessoas normais. "Presume-se uma dificuldade muito grande da pessoa única e exclusivamente porque ela tem uma deficiência, mas isso não necessariamente é verdadeiro, porque pessoas sem deficiência podem ter dificuldades na vida muito maiores do que pessoas com deficiência", disse Villela. Reiterando a posição dos palestrantes, Paulo Fernando de Castro afirmou que o assunto é uma pauta de direitos humanos. "A deficiência é de quem discrimina e de quem ainda vê as pessoas com deficiência como pessoas incapazes", completou.

Lembrando que no Brasil existem quase 20 milhões de pessoas com deficiência, Ana Cláudia Correa afirmou que o tema do evento deve sempre estar em pauta. Como mãe de um jovem com deficiência intelectual, a advogada também defendeu a inclusão de PCDs no ensino regular. "Quando você cresce convivendo com a deficiência, você tem um outro olhar para o ambiente da diversidade e entende que cada um tem a sua especificidade", disse. Já João Theotonio de Almeida defendeu que os debates devem abrir espaço para discutir condições invisíveis, como o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que ainda não consta no rol de deficiências da legislação brasileira. "Parece que não, mas é um sofrimento muito grande para as pessoas que, por exemplo, lêem, relêem e não conseguem absorver o que está ali. Elas precisam eventualmente se habilitar no mercado de trabalho e esbarram também nessa dificuldade", afirmou o advogado.

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