mulher fumando

Ambos os fatores estão ligados a danos ao DNA que levam à doença

Jose Jordan/AFP

O tabagismo e o papiloma vírus humano (HPV) são fatores de risco conhecidos para o câncer de cabeça e pescoço. Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Chile descobriram que, quando interagem entre si, podem ser ainda piores. Segundo o artigo publicado, nesta segunda-feira (02/07), na revista International Journal of Molecular Sciences, os dois fatores estão associados ao aumento do estresse oxidativo e danos ao DNA, que podem levar ao tumor.

Conforme o ensaio, os resultados esclarecem aspectos dos mecanismos moleculares envolvidos no câncer de cabeça e pescoço, abrindo caminho para novas estratégias de prevenção e tratamento. "Em vez de continuar analisando separadamente o tabagismo e o HPV como fatores oncogênicos, passamos a focar na possível interação entre eles", conta, em nota, Enrique Boccardo, coautor do artigo e professor do Departamento de Microbiologia da Faculdade de Ciências Biomédicas da USP.

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No trabalho, os cientistas conduziram experimentos in vitro para analisar o que ocorria com células orais que expressavam as oncoproteínas HPV16 E6 e E7, ligadas à infecção por HPV, quando expostas à fumaça do cigarro condensada. A equipe notou que os níveis de superóxido dismutase 2 ( SOD2), um biomarcador de malignidade do câncer oral e outras doenças associadas ao HPV e danos ao DNA, aumentaram significativamente nesse cenário, comparado às amostras de controle não submetidas a essa combinação de exposições.

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Segundo os pesquisadores, isso aponta para uma interação prejudicial entre o HPV e a fumaça do cigarro. "Embora os estudos in vitro ocorram em ambiente artificial, eles são um ponto de partida para entender o que acontece em modelos mais complexos e podem nos permitir, no futuro, intervir objetivamente com algum benefício", contextualiza Boccardo. "Atualmente, por exemplo, a vacinação contra o HPV está disponível apenas no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças de 9 a 14 anos porque estudos comprovam sua eficácia contra patologias genitais, mas acredito que deve ser possível considerar estender a faixa etária para prevenir doenças em outras regiões anatômicas", indica.

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A segunda etapa da pesquisa envolveu a análise de dados genômicos de 613 amostras do The Cancer Genome Atlas ( TCGA ), repositório público que contém mutações ligadas a tumores malignos. Nessa fase, os cientistas se concentraram na análise das transcrições do biomarcador SOD2, para confirmar as descobertas feitas anteriormente. O resultado repetido confirmou o que a equipe havia observado no laboratório.