SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pesquisadores de instituições na Austrália, Sri Lanka, Reino Unido e Noruega descobriram que a exposição à fumaça do cigarro na infância e adolescência pode afetar a saúde da geração seguinte, aumentando as chances de asma.





Os cientistas verificaram que o risco de uma criança apresentar asma não alérgica aos 7 anos de idade cresce 59% quando seu pai foi exposto à fumaça do cigarro antes dos 15 anos (período pré-puberal) e em 72% se o pai, além de ter sido exposto, se tornou fumante.

 

 


"Nossos achados oferecem a primeira evidência de transmissão transgeracional de um impacto adverso da exposição à fumaça passiva na pré-puberdade dos pais", afirmam os cientistas no artigo publicado no European Respiratory Journal.


O estudo utilizou as informações colhidas em 1968 e em 2010 junto a 1.689 pares de pais e filhos no TAHS (Estudo Longitudinal de Saúde da Tasmânia, em português), que reúne dados de parentes de várias gerações e acompanha os participantes ao longo dos anos.





 

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Os pesquisadores verificaram e cruzaram a exposição à fumaça do cigarro na infância e início da adolescência; diagnóstico de asma (alérgica ou não alérgica) aos 7 anos; e consumo de cigarro.

"É um estudo muito interessante por razões como apontar que a exposição ao tabagismo passivo antes de 15 anos alterou as espermátides (células precursoras dos espermatozóides) e contribuiu para que o filho tivesse asma", comenta o pneumologista Paulo César Corrêa, coordenador da Comissão de Tabagismo da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia) e professor na Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto).


Os cientistas acreditam que o efeito esteja relacionado à epigenética, quando estímulos ambientais alteram a forma como o organismo lê sequências de DNA. "Quando um menino é exposto à fumaça do tabaco, isso pode causar alterações epigenéticas em suas células germinativas. Posteriormente, essas mudanças serão herdadas por seus filhos, com impactos adversos em sua saúde", afirma Dinh Bui, professor na Universidade de Melbourne e autor sênior do estudo.





 

Os pesquisadores já haviam investigado a relação entre pais que fumavam antes dos 15 anos e o maior risco de asma nos filhos -no Brasil, de acordo com a Pense (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), 15,6% dos meninos de 13 a 15 anos já fumaram cigarro alguma vez na vida- e uma pesquisa complementa a outra. Elas mostram que existe tanto um efeito do tabagismo passivo quanto do ativo e que este potencializa aquele.

 

Desse modo, evitar o tabagismo ativo pelos pais também pode reduzir o risco de asma não alérgica nos filhos, presumem os cientistas. Para eles, uma hipótese para esse fenômeno seria um processo de reprogramação epigenética a cada geração, um mecanismo de manutenção para evitar o acúmulo de danos na leitura do DNA. Essa questão, porém, carece de estudos.

 

 

"Há um período crítico de exposição. Se eu passo por ele sem ser exposto, não terei o efeito. O problema aconteceu nas pessoas que foram expostas nessa janela. Pensando no sistema, o ideal seria proteger essa população ao máximo nesse período para não colher esse resultado depois", defende Corrêa.





Os pesquisadores destacam ainda que o aumento do risco foi de asma não alérgica, um subtipo pouco compreendido e que responde mal ao uso de corticosteroides inalados, as famosas bombinhas, sendo por isso mais difícil de tratar.

 

Corrêa argumenta que os asmáticos ainda são tratados de forma igual, pela maneira como a doença se manifesta, mas há um esforço para compreender as causas de cada subtipo e oferecer tratamentos mais específicos. "Se eu dou corticoide inalatório para um paciente que tem asma não alérgica, por exemplo, ele não melhora. Não é para ele. No futuro, vamos conseguir ter medicações que funcionem para esse tipo de caso", prevê.

 

O estudo atual e as próximas investigações dos autores podem contribuir para essa caminhada. "Vamos investigar se o aumento do risco de asma em crianças devido à exposição de seus pais persiste na vida adulta. Também investigaremos o impacto da exposição passiva ao fumo dos pais em outras doenças alérgicas e na função pulmonar dos filhos", adianta Bui.

 

 

 

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