Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) temem os efeitos que a devassa em mensagens do tenente-coronel Mauro Cid -ex-ajudante de ordens do Planalto- pode gerar e avaliam que ela tende a aprofundar o desgaste político do ex-mandatário.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, documentos da investigação que mira Bolsonaro, familiares e seus ex-assessores mostram que uma série de quebras de sigilo determinadas por Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), expôs a rotina e detalhes do gabinete presidencial na gestão passada.
As mensagens, às quais a Folha teve acesso em parte, mostram detalhes da rotina da Presidência e diálogos entre assessores abordando desde assuntos corriqueiros, como escalas de horário de servidores e desavenças entre colegas de trabalho, até temas como considerações sobre a possível demissão de Paulo Guedes (Economia) pela escalada no preço do diesel em 2021.
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Interlocutores de Bolsonaro questionam reservadamente a amplitude das quebras de sigilo e se queixam do acesso que investigadores tiveram às conversas.
Eles chegam a dizer tratar-se de "fishing expedition", ou pescaria probatória. O termo é utilizado para designar quando investigadores vasculham a intimidade ou vida privada de um alvo sem objetivo específico, somente para tentar identificar fatos que possam ser usados contra essa pessoa.
Na avaliação desses aliados de Bolsonaro, a possibilidade de que novas mensagens venham a público pode criar novos constrangimentos e ampliar o desgaste político do ex-presidente.
Há um temor também pelo fato de a PF possivelmente ter acessado conversas de Cid no período eleitoral e após a derrota de Bolsonaro
para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Como já foi revelado que Cid recebeu mensagens golpistas de pessoas próximas do ex-presidente, aliados temem que surjam novas conversas sobre o tema.
Ex-assessores destacam que o processo de desgaste sobre Bolsonaro ocorre ao mesmo tempo em que ele enfrenta um processo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que pode culminar na sua inelegibilidade. O TSE é presidido por Moraes.
Internamente no STF, Moraes é alvo de críticas em conversas sobre o que é visto como exagero do magistrado na condução da investigação contra Bolsonaro.
Integrantes da corte que seguem uma linha mais garantista do direito dizem reservadamente que o método de iniciar uma apuração por um determinado motivo e ampliá-la para outros que não estavam inicialmente na mira era uma prática recorrente da Lava Jato --operação que acabou sendo, em grande parte, anulada pelo próprio Supremo.
Apesar das críticas, a avaliação é que a chance de qualquer decisão de Moraes contra Bolsonaro ser anulada é praticamente zero. O ministro conta com respaldo dos colegas e já teve vários despachos referendados pelos outros magistrados.
Os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça, que foram indicados pelo ex-presidente ao Supremo, costumam divergir. O restante da corte, em quase todos os julgamentos, tem apoiado as posições do magistrado.
As ações golpistas de 8 de janeiro foram fundamentais para que Moraes mantivesse amplo apoio dentro da corte. Apesar das insatisfações em relação à atuação dele, a invasão às sedes dos três Poderes reforçou a necessidade de manter o ministro protegido e avalizado pelos demais magistrados.
Bolsonaristas viram na liberdade provisória concedida ao ex-ministro da Justiça Anderson Torres, na semana passada, uma reação de
Moraes justamente às críticas que vinha recebendo sobre sua condução dos casos relacionados ao dia 8 de janeiro.
O entorno do ministro, porém, não o vê como pressionado em relação a Torres e aponta que, mesmo dentro do STF, suas decisões têm sido acompanhadas por quase todos os outros integrantes.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, na avaliação de advogados Moraes tem atuado de maneira similar às autoridades da Lava Jato para fechar o cerco contra o ex-presidente e seus aliados.