Jornal Estado de Minas

DEPUTADO FEDERAL MINEIRO

Mário Heringer: 'Eu espero que a empatia volte ao país'

O deputado federal por Minas Gerais Mário Heringer, presidente estadual do PDT, iniciou neste mês o seu sexto mandato consecutivo no Congresso Nacional, em Brasília. Ao podcast EM Entrevista, o parlamentar destacou que é tempo de reformular coisas que foram perdidas nos últimos quatro anos e disse que vai trabalhar, principalmente, pelas áreas de Meio Ambiente e Saúde.




 
 
“Cada eleição, cada momento que chega, você tem que estar sintonizado no tempo que você está e o tempo que nós estamos hoje é tempo de reformulação, de corrigir e até de recuperar coisas perdidas na última legislatura. Então, neste momento, precisamos recuperar as posições boas que já tivemos. Eu vou trabalhar muito na área de Meio Ambiente, que é o que mundo precisa”. 
                               
Segundo ele, outra prioridade é o Sistema Único de Saúde. “Precisamos recuperar a questão da saúde no SUS, pois as nossas vacinações, que foram um sucesso no mundo inteiro, hoje já sofrem contestações negacionistas que não têm o menor sentido”, declarou.
 
 
 
Mário Lúcio Heringer tem 68 anos e nasceu em Manhumirim, na região da Zona da Mata. Formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especializou-se em ortopedia no Rio de Janeiro.




 
 
Iniciou sua trajetória política em 2001, quando filiou-se ao PDT, sua única sigla até hoje. Foi eleito deputado federal pela primeira vez em 2002, com 68.134 votos. Confira abaixo a entrevista do Estado de Minas com o parlamentar.

Este é o seu sexto mandato consecutivo na Câmara dos Deputados. Quais pautas serão prioridades do senhor agora?
Cada eleição, cada momento que chega, você tem que estar sintonizado no tempo que você está e o tempo que nós estamos hoje é tempo de reformulação, de corrigir e até de recuperar coisas perdidas na última legislatura. Então, neste momento, precisamos recuperar as posições boas que já tivemos.
 
Eu vou trabalhar muito na área de Meio Ambiente, que é o que mundo precisa, e também precisamos recuperar a questão da saúde no SUS, pois as nossas vacinações, que foram um sucesso no mundo inteiro, hoje já sofrem contestações negacionistas que não têm o menor sentido.




 
Este mandato, em princípio, na minha cabeça, tem que ser para recuperar espaços recuados e também avançar fortemente na área de Meio Ambiente. Nós estamos vivendo em uma espaçonave que não tem a segunda. Não adianta a gente falar que o Elon Musk que está mandando espaçonave para Marte, que nós não vamos todos. Lá não vai caber todo mundo e não é tão fácil assim. Então se a gente cuidar desta espaçonave chamada Terra.

Quais as principais diferenças que o senhor espera do governo Lula em relação ao governo Bolsonaro?

Que fique claro que eu não sou Bolsonaro e nem sou Lula. Meu partido tinha um candidato a presidente (Ciro Gomes) e em alguns momentos eu também divergia das posições dele porque a gente não é obrigado a gostar de tudo, a gente tem que gostar da média a melhor. Eu espero que a empatia volte porque o grande problema do governo anterior foi a falta de empatia e de respeito pelas pessoas.
 
Uma pessoa que ri, que faz chacota de pessoas morrendo de COVID, isso é inimaginável para um líder nacional. Eu perdi a minha mãe com COVID e não gostei nada de ver aquele tipo de chacota.





Muitos brasileiros também não gostaram porque quase 700 mil pessoas faleceram com isso. Então a gente precisa primeiro de recuperar a empatia, a relação de cuidar um com o outro, de gostar de pessoas, porque se a gente só cuidar dos nossos interesses prioritários e individuais nós não vamos ter uma nação, nós não vamos ter um país, não vamos ter uma família.
 
O conjunto, o agregado de pessoas, se constrói através da empatia. Se você não tem empatia, se você não liga mais para o outro, aí coloca uma arma na cintura, atira e mata o outro, ganha na força, na violência. Então a gente precisa recuperar uma coisa que o Brasil sempre teve fantasticamente que é exatamente esse povo miscigenado, esse povo misturado, que fez essa raça diferente. Temos que recuperar isso.
 

Ciro Gomes é presidente nacional do PDT e ficou em quarto lugar nas eleições do ano passado. Como o senhor avalia o futuro político dele?

Cada um tem que descrever seu próprio futuro político se continuar tendo a intenção de fazer política, de continuar.




 
Eu, particularmente, achava que era o melhor projeto que tinha, disparado, tanto que votei nele, fiz campanha para ele. Sofri na eleição porque era um cenário polarizado. 
 
Era A contra B e não tinha chance de ninguém entrar naquela disputa. Perdi uma quantidade especial de votos para pessoas que estavam polarizadas nesta situação e que não votariam em mim porque eu não estava nem de um lado nem do outro. Mas eu acho que o Ciro tinha o melhor projeto, que era o Projeto Nacional de Desenvolvimento, que foi descrito em livro. Eu acho que o livro do Ciro traz a melhor oferta para um Brasil justo.
 
Infelizmente, o povo não entendeu isso, ou não teve a oportunidade de entender. As coisas boas que o Ciro falava no primeiro turno, os dois candidatos passaram a falar no segundo, e o que venceu, Lula, está repetindo alguns mantras. O difícil é fazer, falar é fácil. Ciro viajou, se isolou um pouco. Então ele está vivendo a vida mais pessoal dele e espero que ele retorne porque é um quadro político muito importante para o Brasil e com muito conhecimento.

O senhor citou que uma das principais pautas que defende é a do meio ambiente. Como o senhor vê o setor de mineração em Minas Gerais, diante, por exemplo, das tragédias de Mariana e Brumadinho e dos projetos na Serra do Curral?

Minas Gerais é, tradicionalmente, um estado minerador. Nós temos isso há muitos e muitos anos. Isso é importante, isso é um bem que o Estado tem. Esse bem precisa e deve ser bem usado. Não tem necessidade de ficarmos com montanhas e montanhas de minério de ferro sem fazer nada.




 
Precisamos usar, mas nós precisamos também enfiar na cabeça dos empresários que eles são responsáveis pelo meio ambiente, que eles não podem com essa exploração degradar o meio ambiente, estragar as cidades, fazer essas barragens que nos causaram essas dores.
 
Porque não importa a indenização, importa é a prevenção, é não ter isso. Então eu acho que para explorar o minério em uma determinada cidade ou região precisa haver uma contrapartida ecológica e, principalmente, uma criação de um modus vivendi independente daqueles royalties localizados, para que quando essas minas saírem de determinados lugares eles não sejam abandonados.
 
Ou nós vamos ter cidades funcionando ou cidades fantasmas. Quando uma cidade depende somente da atividade minerária, por exemplo, o risco desta cidade não se construir de uma maneira perene é muito grande, então o que a gente precisa pensar é na manutenção destas pessoas nas pequenas e médias cidades.





Os problemas nas estradas e no setor de transporte estão entre os principais desafios enfrentados em Minas Gerais hoje. Como o senhor vê isso?
Desde que eu entrei no meu primeiro mandato, em 2003, se fala do metrô aqui na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que não saiu. Eu não entendo até hoje porque não saiu, porque o Brasil não consegue fazer sua infraestrutura definitivamente. Você vai ver uma cidade como Belo Horizonte e tem uma linha pífia dessa de metrô, que podia estar atendendo muito melhor e muito mais.
 
Eu não sei porque não se consegue. A gente já botou emenda, já fui coordenador de bancada de Minas, já brigamos, não chega, não consegue, o dinheiro não sai. As pessoas pegam o dinheiro que está no orçamento e realocam em outra coisa. Isso virou uma prática no governo brasileiro e não estou dizendo no último governo. Estou dizendo de todos que eu participei, por exemplo.
 
Sobre as rodovias, as BRs que cortam o estado, Minas é o estado mais central do Brasil. Todas as rodovias importantes passam por Minas Gerais e por coincidência este estado tem tido, com relação ao governo federal, nos últimos mandatos – com exceção do Fernando Pimentel (PT) com a Dilma Rousseff (PT) – todos têm sido oposição e isso prejudicou muito Minas. As pessoas não estão exercendo o seu mandato republicanamente. Nós precisamos do nosso presidente e do nosso governador, sejam eles querem forem, trabalhando juntos pela sociedade e isso não aconteceu.





Continuando na pauta de Minas, qual será o posicionamento do PDT na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG)? O partido vai integrar a base do governo Zema?
Do ponto de vista partidário, o Novo e o PDT não se encontram. Passam longe um do outro do ponto de vista ideológico, mas não é isso que faz um governo com uma atuação sensata.
 
A gente tem conversado com os nossos deputados estaduais, recentemente fizemos um apoiamento à eleição do presidente da Assembleia, o Tadeu Martins Leite (MDB), que é um deputado de excelente qualidade, tem um trânsito, sabe chegar nas pessoas, tem o charme da conquista, então acho que ali na Assembleia ele vai fazer um bom trabalho sem o antagonismo desnecessário, mas também com reações que precisam ser feitas, porque a função do Legislativo, além de legislar, é de opor a determinadas posições e o PDT pretende caminhar por esse mesmo caminho.
 
Nós não temos dificuldade nenhuma em apoiar coisas boas do governo, de maneira alguma, mas também não vamos bater palma para maluco dançar.

Considerando o cenário nacional agora, o PDT estará ao lado do PT, do presidente Lula?
Contra a minha vontade, muito claramente, já falei isso publicamente, mas é o meu problema, o meu partido aceitou assumir um ministério no governo do PT. Nós estamos lá com nosso presidente, Carlos Lupi, no Ministério da Previdência.




 
Contra a minha vontade porque eu achava que nós não precisávamos de ter, neste momento, uma adesão a um governo. Nós poderíamos apoiar o PT, como apoiaríamos, porque estaríamos saindo de uma situação que nós estávamos extremamente desconfortáveis para uma situação menos desconfortável que é ficar junto o tempo todo com o PT.
 
Se o PT conduzir o governo da maneira como parece que está indo, acho que é bom ajudar, é bom fazer, é bom trabalhar, mas eu fui contra essa questão de ter ido para o ministério, mas fui voto vencido. Então, se a minha condição partidária me derrotou na minha tese eu tenho que seguir o meu partido e para onde for o meu partido eu vou com ele.