Jornal Estado de Minas

GOVERNADOR VALADARES

Diocese de Valadares repudia atos bolsonaristas: 'Devemos temer o fascismo'

A Diocese de Governador Valadares publicou uma nota, nesta sexta-feira (13/1), repudiando os atos golpistas que aconteceram no último domingo (8/1) em Brasília. No texto, a instituição cita todos os tipos de extremismo, de direita e esquerda, e relembra que a população deve termer o “fascismo”. O  texto foi assinado por Dom Antônio Carlos Fêlix.





A diocese também cita que Lula já foi presidente outras duas vezes e, por isso, os fieis não devem temer uma “ameaça comunista”.

“Nos últimos tempos, o povo brasileiro tem convivido com muita tensão e agressividade por causa da polarização política. Passadas as eleições e com a posse do novo Governo, é hora de reconstruirmos as relações que foram feridas ou desfeitas, inclusive entre cristãos e católicos. É hora de retomarmos a vida com esperança de dias melhores, sem medo do comunismo, mesmo porque o presidente eleito já esteve no poder por dois mandatos, e o seu partido, por quatro mandatos, e nada disso aconteceu. Nada de medo! É hora de termos fé e confiança em Deus, que tem o comando de tudo”, diz o texto.



'Deus, pátria e família'


Ainda segundo o texto, os fieis não podem esquecer “que todo extremismo é ruim, tanto o de esquerda como o de direita”. “Porém, temos que ter medo, não do comunismo, um movimento extremista de esquerda, que está quase extinto. Temos que ter medo é do fascismo, movimento de extrema direita, cujos defensores instrumentalizam a pátria, a família e a religião a serviço dos seus interesses políticos, econômicos e ideológicos; pessoas que defendem a intervenção militar e o armamento da população; que invadem e destroem prédios e lugares públicos e incendeiam veículos; que promovem premeditadamente a desinformação; que agridem até fisicamente quem pensa diferente dele”, diz. 

Para a diocese, bolsonaristas instrumentalizam a pátria, porque não “respeitam as suas instituições democráticas, questionam o sistema eleitoral e o resultado das eleições, sem prova alguma de que tenha havido, de fato, alguma irregularidade”.





“Instrumentalizam a família, porque dizem que são contra o aborto, mas muitas dessas pessoas já o praticaram. Muitos, por exemplo, são donos de farmácia e, sem nenhum peso de consciência, vendem a pílula do dia seguinte, que é abortiva. Isso é incoerência! Depois, a lei do aborto não obriga ninguém a abortar; aborta quem quiser. Os donos de farmácia também não são obrigados a vender a pílula do dia seguinte. Mas por que a vendem? Não será porque o lucro fala mais alto do que sua consciência”, segue o texto.

Ainda segundo a instituição, os bolsonaristas instrumentalizam a religião em benefício próprio. “Deturpam de propósito o sentido da Palavra de Deus e fazem do templo um lugar para campanha eleitoral e para falar mal dos adversários – o que não condiz com a verdadeira religião”.

“Quem segue de fato a Jesus Cristo põe em prática o amor a Deus. Mas ao Deus Criador e Salvador, Deus da Vida e da Misericórdia, e não a um falso deus, que é contra o aborto, mas aprova o porte e uso de armas de fogo, que matam pessoas inocentes; e que fecha os olhos à destruição criminosa do meio ambiente para que empresas multinacionais possam obter lucros exorbitantes à custa do sofrimento do povo”, diz a nota.





Manifestações bolsonaristas 


Bolsonaristas passaram cerca de 70 dias acampados em frente ao Tiro de Guerra de Governador Valadares, no bairro Grã-Duquesa.

Apenas na segunda-feira (9/1), os acampamentos foram desmontados. A decisão foi tomada depois que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou a desocupação e dissolução total, em 24 horas, dos acampamentos montados nas proximidades dos Quartéis Generais.

Invasão aos Três Poderes


Vestidos de verde e amarelo, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) nesse domingo (8/1). Estima-se que 4 mil pessoas participaram da ação em Brasília. Até ontem (10/1), cerca de 1.200 estavam detidas no QG do Exército.

Inconformados com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os bolsonaristas ocuparam os Três Poderes para pedir um golpe militar. Foram quebrados objetos históricos, obras de arte, móveis e vidraças. Houve invasão a gabinetes e roubo de documentos e armas.



Vestidos de verde e amarelo, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) (foto: AFP/REPRODUÇÃO)

Após o ataque, o presidente Lula decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal. Horas depois, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu afastar Ibaneis Rocha do governo do DF por 90 dias.

Na segunda-feira (9/1), Lula e representantes de todos os estados fizeram reunião pela democracia. Depois, caminharam juntos do Planalto ao STF.

Também na segunda, os acampamentos de bolsonaristas golpistas foram enfim desmontados após ordem do STF. Mais de 1,2 mil foram detidos em Brasília. Concentrações também foram desfeitas em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras capitais. Na maioria dos casos, sem confrontos.

Até o momento, as investigações avançam e miram os financiadores dos ataques. O governo diz que pessoas de ao menos 10 estados bancaram ataques.