Jornal Estado de Minas

DOAÇÕES

Boné CPX, usado por Lula, ajuda ONG a doar 3 mil cestas básicas


A ONG Voz das Comunidades aproveitou a febre do boné com a sigla CPX, falsamente associada a facções criminosas ao ser usado por Lula (PT) durante a campanha presidencial, para arrecadar 3.000 cestas básicas em uma ação de Natal. As letras querem dizer "complexo de favelas", como o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro.



Foi onde o presidente eleito participou de um comício em outubro vestindo o acessório e onde, há 17 anos, a ONG surgiu como um jornal comunitário.

"A sigla sempre foi usada em vários lugares: restaurantes, bares, até projetos do governo. Quando desmentimos e mandamos um boné desse para a Xuxa, para jornalistas, percebemos que virou objeto de desejo, de orgulho", conta o fundador, Rene Silva, 28.

Ele então decidiu criar a campanha que dava um chapéu em troca da doação. Encomendou centenas de unidades à empresa familiar que faz a produção, chamou mais gente e montou uma logística de distribuição para todo o país.




Foi assim que conseguiram mais de 1.800 cestas básicas, que custam cerca de R$ 150. Outras mil vieram da Ação da Cidadania, ONG de combate à fome, e o restante de doadores impulsionados por padrinhos e madrinhas que dão suporte financeiro e visibilidade à organização, como Fábio Porchat e Preta Gil.

Bateram a meta e atingiram um recorde em comparação aos anos anteriores. Metade dos alimentos foi distribuída de porta em porta neste sábado (17), por cem voluntários que caminharam pelos complexos do Alemão e da Penha, e metade foi para outras favelas e ONGs cariocas.

Em um vídeo postado pelo jornal, uma mulher chora e abraça os entregadores: "Foi Deus que enviou vocês, eu estava precisando mesmo, vocês não fazem ideia", ela se emociona. "Eu olhei e falei 'gente feijão, o feijãozinho marrom que meu filho adora comer puro com arroz."



Rene, que participou da distribuição, diz que a maioria das famílias são de mulheres solteiras com filhos, desempregadas e fazendo "bicos". "O que as pesquisas mostram é real. Muitas dependem do Auxílio Brasil e outras ajudas governamentais só para pagar o aluguel de R$ 600. E para comida se viram de outra forma", diz.

Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, a insegurança alimentar leve, moderada ou grave atinge 57% da população do Rio de Janeiro.

Para o fundador da ONG, a pandemia ainda deixa marcas que só serão resolvidas com qualificação. "Não queremos fazer esse tipo de ação todo ano. Queremos mesmo é que as pessoas tenham emprego, vida digna. E isso elas só vão ter se houver investimento na capacitação", cobra ele.