Jornal Estado de Minas

ANÁLISE

Terceira via não decola e ajuda Zema contra Kalil em 2° turno antecipado

Encerrada ontem com a reeleição de Romeu Zema (Novo) em primeiro turno, a disputa pelo governo de Minas Gerais teve, desde o início, contornos de segundo turno antecipado. Polarizada, a corrida foi protagonizada por Zema e Alexandre Kalil (PSD). Para além do domínio do político do Novo no interior e de sua boa relação com prefeitos de municípios de médio e pequeno porte, um fator foi essencial para que o embate terminasse já na primeira ida às urnas: a ausência de uma terceira via capaz de tomar para si parte considerável dos votos.



Zema terminou a apuração com 56% dos votos válidos, contra 35% de Kalil. O senador Carlos Viana (PL), o mais próximo deles, não conseguiu chegar aos dois dígitos - terminou com 7%. Confirmado candidato apenas duas semanas antes do início da campanha, e apenas porque o presidente Jair Bolsonaro (PL) viu o naufrágio das tentativas de acordo por apoio do Novo em Minas, Viana encontrou um partido recheado de bolsonaristas, mas fragmentado. Parte dos liberais o apoiou, mas outra ala, composta, inclusive, por deputados com mandato, preferiu trabalhar em prol do governador.

Em entrevistas, Viana não escondia o "sonho" de ser governador de Minas. Ao escolhê-lo, Bolsonaro evidenciou uma estratégia com dois objetivos: primeiro, ter o aliado como seu representante oficial no estado, amplificando a campanha presidencial. O segundo, mas não menos importante, era utilizar Viana como ponte para forçar um segundo turno local.

Se o senador ultrapassasse os dois dígitos, iria roubar eleitores de Zema e, assim, gerar confronto direto entre o governador e o ex-prefeito de BH em 30 de outubro. Com o movimento, Zema seria quase que obrigado a dar apoio explícito ao presidente no segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).



Mesmo sem cumprir a missão de formar o segundo turno, Viana foi beneficiado pela onda de votos bolsonaristas não captados pelas pesquisas - chegar à casa dos 7% representa crescimento acima da margem de erro em relação ao Ipec do dia anterior, que estimava 4% dos votos válidos para a chapa do PL. E, apesar da derrota do aliado, Bolsonaro já afirmou ter aberto canal de diálogo com Zema por uma união eleitoral.

Embora tenha pedido votos a Viana em alguns momentos, como durante uma transmissão pela internet na sexta-feira (30), Bolsonaro não se furtou a elogiar Zema em vários momentos. Em agosto, o presidente liderou um comício em BH, mas o senador não participou. O mesmo aconteceu na semana retrasada, em Divinópolis, no Centro-Oeste: o candidato ao governo foi ao aeroporto da cidade recepcionar o aliado, mas não ficou para as agendas.


Ciro e PSDB se juntam, mas ficam estacionados


Embora tenha terminado a apuração em quarto lugar, atrás de Simone Tebet (MDB), Ciro Gomes (PDT) passou os últimos quatro anos no posto de terceira força da política nacional. O pedetista buscou abrigo em Alexandre Kalil (PSD), mas a aliança entre o ex-prefeito de BH e Lula frustrou os planos iniciais.



O PDT, então, passou a articular a candidatura do ex-deputado federal petista Miguel Corrêa. A ideia, contudo, foi publicamente rechaçada por Ciro, que acusou o correligionário de ser "ficha-suja".

Sem tempo para construir uma alternativa viável nos quadros internos, os trabalhistas articularam, então, uma aliança com Marcus Pestana (PSDB). Para atrair os pedetistas, os tucanos entregaram a candidatura ao Senado a Bruno Miranda. Pestana, contudo, não decolou nas pesquisas e terminou com cerca de 0,5% A campanha tentou resgatar feitos das gestões dos tucanos Antonio Anastasia e Aécio Neves, mas o PSDB não encontrou apoio, sequer, no Cidadania, partido com quem forma uma federação.

O Cidadania foi convidado a compor a chapa de Zema e iria indicar o jornalista Eduardo Costa para a vaga de vice. Majoritário na federação, contudo, o PSDB impediu a união e obrigou o coirmão a entregar o tempo de TV a Pestana. Informalmente, contudo, o Cidadania apoiou a reeleição do governador - impondo a Pestana o mesmo problema que Viana sofreu com parte do PL.



O roteiro de Ciro foi semelhante ao vivido por ele em Minas há quatro anos. À época, o PDT trabalhou para apoiar Marcio Lacerda (PSB), mas uma articulação nacional fez os socialistas retirarem a candidatura própria. De modo apressado, foi preciso apostar em Adalclever Lopes (então no MDB), que terminou em quarto. 

Na última semana, Lorene Figueiredo (Psol) ganhou cartaz por causa do bom desempenho no debate da "TV Globo". Dona de um leque que simbolizava a diversidade, ela viralizou ao reagir com bom humor ao fato de Zema tê-la chamado de "Edilene" - devolveu chamando-o de Romeu "da Zema". O pouco tempo para crescer e o fato de a maioria das forças de esquerda ter se aglutinado em torno de Kalil, entretanto, brecou a crescente.

Tebet sem palanque e União Brasil neutro


Em uma eleição marcada pela associação dos candidatos locais a padrinhos nacionais, não houve, em Minas, quem defendesse Simone Tebet. Mesmo tendo capilaridade suficiente no interior para construir palanque próprio, o MDB optou por apoiar a reeleição de Zema. A aproximação ao governador se estreitou depois que Carlos Viana deixou o partido - por, justamente, interpretar que existia a chance de não conseguir emplacar uma candidatura

Quem também renunciou ao uso de sua capilaridade foi o União Brasil, fruto da fusão entre DEM e PSL. Maior bancada do Congresso Nacional e dona da maior fatia do Fundo Eleitoral, a sigla escolheu ficar neutra na disputa em Minas. Uma união a Carlos Viana, que poderia potencializar o senador, chegou a ser anunciada, mas não se concretizou.

O PSB de Geraldo Alckmin também tentou reivindicar para si o posto de terceira via e anunciou a pré-candidatura de Saraiva Felipe, ex-ministro da Saúde. A necessidade de unir os partidos do grupo de Lula em torno de Kalil, entretanto, fez os socialistas desistirem do plano.