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Estado de Minas COVID-19

Hospitais de campanha apenas "enxugam gelo"

Com agravamento da pandemia no país, muitas cidades estão reativando unidades provisórias, mas especialista alerta que não é o suficiente para estancar


05/02/2021 04:00

Sem uso, hospital de campanha com 768 leitos na Gameleira, em BH, foi desativado em setembro e não tem previsão de reativação(foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS - 5/9/20)
Sem uso, hospital de campanha com 768 leitos na Gameleira, em BH, foi desativado em setembro e não tem previsão de reativação (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS - 5/9/20)
 
 
O caos no sistema de saúde do país, diante do aumento do número de casos de COVID-19 tem feito ressurgir os hospitais de campanha, que chegaram a ser abertos no início da pandemia. Fortaleza, Teresina e Belém retomaram as atividades das unidades de campanha desde dezembro. São Paulo e Ceará também retomaram o atendimento com a nova onda da pandemia. As estruturas provisórias montadas em caráter emergencial são encaradas como alternativa quando o Sistema Único de Saúde (SUS) fica sobrecarregado. Hoje, 18 estados estão com mais de 80% dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) em uso por pacientes graves com COVID-19.

Mas os hospitais de campanha não são a solução para o país, como avalia a médica infectologista e mestra em saúde pública Luana Mariano. “Hospital de campanha é um ‘tapa-buraco’ do paciente que precisa de internar em estado grave em UTI. É o que o hospital de campanha resolve”, alertou. “Eles têm impacto no atendimento dos pacientes graves, mas é aquela coisa do enxugar gelo”, completou.

Ela ressalta que, mais do que leitos, é fundamental que o país controle a circulação e a transmissão do vírus. “Se não agir na origem da transmissão da doença e na disseminação do vírus, com testagem em massa, isolamento dos doentes, testagem e quarentena dos contactantes, não vai ter hospital de campanha que dê conta do recado. A gente vai fazer 300 milhões de leitos de UTI e eles vão ser insuficientes para proteger a população como deveriam”, completou.

A médica explica ainda que a pressão que as UTIs estão sofrendo se deve a uma soma de fatores. “Esse aumento do número de casos é em decorrência de comportamento inadequado da população, reinfecção possível, vacinação pífia e circulação de variante. Isso tudo reflete em uma doença mais transmissível, potencialmente mais grave e com maior tempo de permanência do paciente no hospital, principalmente na UTI. Tem mais paciente chegando nas UTIs, eles ficam mais tempo, então tem menos vaga para outros que estão chegando e precisando também. É assim que a confusão está se formando”, disse.

ESTADOS APOSTAM NA ALTERNATIVA

Em grande parte do país, os hospitais de campanha foram desativados no segundo semestre de 2020 devido à redução da demanda de leitos hospitalares. É o caso de Minas Gerais, que criou 768 leitos de enfermaria com investimento de R$ 5,3 milhões com auxílio de empresas privadas, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de MG. O hospital foi desativado em setembro de 2020, no bairro Gameleira, e hoje não há previsão para reabertura. Já alguns estados do Nordeste reativaram as estruturas. A Secretaria da Saúde do Ceará informou que colocou para funcionar seis hospitais de campanha: dois no interior, um anexado ao Hospital Regional do Sertão Central, em Quixeramobim, e outro no Hospital Regional Norte, em Sobral; quatro em Fortaleza (Hospital César Cals, Hospital Geral de Fortaleza, Hospital São José e Hospital de Messejana).

São Paulo, que registra em média cerca de 500 mortes por dia, também reativou algumas unidades dos hospitais de campanha, segundo a secretaria do estado. Foi reaberto o hospital de campanha de Heliópolis, instalado na Zona Sul da capital. Também converteu o AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Franca, no interior, que agora opera com 15 leitos de UTI e cinco de enfermaria. No Hospital Estadual de Bebedouro, são 20 de UTI e 20 de enfermaria.

Além disso, em Bauru, o hospital de campanha instalado no prédio da USP funciona com 30 leitos de enfermaria. Outros estados têm feito esforços para ampliar a capacidade dos hospitais, sem que haja necessidade de reativar as unidades de campanha. No caso do Rio Grande do Sul, segundo a secretaria, foi ampliado em 131% o número de leitos de UTI desde o início da pandemia.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alarmou para o aumento da velocidade de transmissão do coronavírus no país, bem como o risco de colapso do SUS em vários estados. Segundo a Fiocruz, 18 estados e o Distrito Federal estão em fase crítica quanto à ocupação dos leitos de UTI. O levantamento aponta que exceto o Amapá (64%), que se mantém na zona de alerta intermediária, todos os estados da Região Norte estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos superiores a 80%: Rondônia (97%), Acre (92%), Amazonas (92%), Roraima (82%), Pará (82%) e Tocantins (86%).

No Nordeste, os estados do Maranhão (86%) e Piauí (80%) também ultrapassaram a linha dos 80% que separa a zona de alerta intermediária da zona crítica, juntando-se ao Ceará (93%), Rio Grande do Norte (91%), Pernambuco (93%) e Bahia (83%). Paraíba e Alagoas mantiveram-se na zona de alerta intermediária, com suas taxas se elevando, respectivamente de 62% para 69% e de 66% para 72%. Sergipe, com taxa de 59%, é o único estado brasileiro fora da zona de alerta.

Os estados da Região Sudeste também se mantiveram na zona intermediária de alerta, com crescimento dos respectivos indicadores de ocupação mais acentuado em Minas Gerais (70% para 75%), Espírito Santo (68% para 76%) e São Paulo (69% para 74%) e pouco expressivo no Rio de Janeiro (61% para 63%). Na Região Sul, todos os estados permaneceram na zona de alerta crítica: Paraná (92%), Santa Catarina (99%) e Rio Grande do Sul (88%). Na região Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul (88%) e Mato Grosso (89%) entraram na zona de alerta crítica, somando-se a Goiás (95%) e ao Distrito Federal (91%), que nela permaneceram.

* Estagiária sob supervisão do subeditor Paulo Nogueira


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