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Estado de Minas CRISE POLÍTICA

Bolsonaro e governadores se revezam na trincheira da pandemia

Presidente travou embates com desafetos que comandam os estados e atrito se acirrou com a COVID-19


01/01/2021 04:00 - atualizado 01/01/2021 07:53

Muitas vezes com tom mais enfático, o presidente criticou chefes do Executivo estadual por medidas de combate ao novo coronavírus(foto: Evaristo Sá/AFP - 17/12/19)
Muitas vezes com tom mais enfático, o presidente criticou chefes do Executivo estadual por medidas de combate ao novo coronavírus (foto: Evaristo Sá/AFP - 17/12/19)

Ao longo de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi o personagem principal de uma tensão na política nacional ao partir para o ataque contra governadores, valendo-se até de palavrões para se referir a alguns dos seus principais desafetos.

Os embates públicos, motivados muitas vezes pela divergência de opiniões, acabaram entrando no campo da COVID-19: o presidente criticou as medidas de isolamento social, reclamou do fechamento do comércio e de áreas de recreação e lazer, atacou os governadores que se opuseram à hidroxicloroquina e, mais recentemente, passou a duvidar da efetividade das vacinas em desenvolvimento contra o novo coronavírus.

Nas últimas semanas, Bolsonaro até tentou transparecer um tom mais conciliatório com os governadores. Na cerimônia de lançamento do plano nacional de vacinação contra a COVID-19, ele acenou para a união e a irmandade entre o Executivo federal e os governos estaduais, se desculpando por eventuais “exageros”.

No entanto, as falas do presidente foram como palavras ao vento. Dias depois, ele declarou que não se importa se o país está retardando o início da vacinação – “Eu não dou bola pra isso” –, e incitou a população a cobrar providências dos governadores caso algum dos imunizantes cause reações adversas.

Essa instabilidade no comportamento do presidente é vista como um problema para 2021. Como os efeitos da pandemia continuarão, espera-se que o chefe do Executivo evite os embates com os estados para que os processos de proteção da saúde dos brasileiros e de retomada da economia não sejam tão difíceis. Mesmo aliados de Bolsonaro torcem para um discurso mais ameno, mas também destacam que os governadores precisam fazer a sua parte.

Vice-líder do governo na Câmara, Aluísio Mendes (PSC-MA) opina que o consenso entre o Palácio do Planalto e os governantes estaduais é a chave principal para que o Brasil não sofra tanto no ano que vem.

Segundo ele, o primeiro ponto de convergência deve ser sobre o plano de vacinação. O parlamentar diz que o governo federal não pode postergar o início, mas que não pode ser pressionado a começar a imunização enquanto nenhum laboratório não pedir o registro das vacinas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Muitos governadores cobram do Executivo federal uma data, mas nos causa preocupação a falta de uma vacina aprovada para uso no Brasil. Acredito que assim que qualquer vacina estiver regulamentada pela Anvisa, o governo vai correr para começar a aplicação. O presidente Bolsonaro não se furtará a, rapidamente, oferecer as vacinas à população brasileira. E a partir do momento que os imunizantes estiverem disponíveis aos estados, o clima do presidente com os governadores vai distensionar”, afirma.

Mendes destaca que a relação de Bolsonaro com os governadores precisa melhorar porque, em 2021, o país estará diante de uma grave crise econômica.

Ele frisa que “só a união de governadores e governo federal vai fazer com que a população brasileira sofra menos”. “Acredito e confio tanto no presidente quanto nos governadores para que essas tensões sejam baixadas e que se deixe a disputa eleitoral para 2022, e que possamos trabalhar unidos e juntos para o melhor do nosso povo. Que com o advento da vacina nós possamos ter um clima muito mais favorável ao entendimento”, espera.

Difícil harmonia


Analistas dizem que, devido à postura do presidente, é difícil apostar em uma relação mais harmoniosa entre ele e os governadores. “Cada um tem seus próprios interesses. O ano de 2021 vai ser muito difícil.

Bolsonaro tentará se aproximar dos que tem maior afinidade e partir para o atrito contínuo com governadores como João Doria, que tem interesse claro em ser candidato a presidente em 2022.

É um horizonte incerto, que acaba atingindo a todos”, observa o cientista político Creomar de Souza, professor da Fundação Dom Cabral e CEO da consultoria Dharma Political Risk.

Ele diz que um cenário mais positivo, de paz, só se desenrolará caso haja um plano eficiente de imunização.

“O plano de imunização é uma grande incógnita. O governo entregou um prospecto do que pretende fazer, mas há uma enorme dificuldade em termos de estabelecimento de datas, de aquisição de vacinas, seringas e agulhas. Isso tende a jogar pressão no Planalto, que precisa correr e apostar menos na divisão e no ataque”, destaca.

O cientista político Fernando Luiz Abrucio, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), diz que a falta de ação do presidente pode tumultuar ainda mais a situação.

“Se o governo atrapalhar, os governadores tendem a se unir a Doria, que prometeu iniciar a vacinação em São Paulo em 25 de janeiro, e gerar uma guerra federativa. Tem que ver como Bolsonaro vai lidar. Se partir para o embate, o caso vai parar novamente no Supremo Tribunal Federal. E já sabemos qual foi a decisão da primeira vez, sobre o lockdown. Ficou a cargo dos governadores”, alerta.
 


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