Ao longo de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi o personagem principal de uma tensão na política nacional ao partir para o ataque contra governadores, valendo-se até de palavrões para se referir a alguns dos seus principais desafetos.
Os embates públicos, motivados muitas vezes pela divergência de opiniões, acabaram entrando no campo da COVID-19: o presidente criticou as medidas de isolamento social, reclamou do fechamento do comércio e de áreas de recreação e lazer, atacou os governadores que se opuseram à hidroxicloroquina e, mais recentemente, passou a duvidar da efetividade das vacinas em desenvolvimento contra o novo coronavírus.
Os embates públicos, motivados muitas vezes pela divergência de opiniões, acabaram entrando no campo da COVID-19: o presidente criticou as medidas de isolamento social, reclamou do fechamento do comércio e de áreas de recreação e lazer, atacou os governadores que se opuseram à hidroxicloroquina e, mais recentemente, passou a duvidar da efetividade das vacinas em desenvolvimento contra o novo coronavírus.
Nas últimas semanas, Bolsonaro até tentou transparecer um tom mais conciliatório com os governadores. Na cerimônia de lançamento do plano nacional de vacinação contra a COVID-19, ele acenou para a união e a irmandade entre o Executivo federal e os governos estaduais, se desculpando por eventuais “exageros”.
No entanto, as falas do presidente foram como palavras ao vento. Dias depois, ele declarou que não se importa se o país está retardando o início da vacinação – “Eu não dou bola pra isso” –, e incitou a população a cobrar providências dos governadores caso algum dos imunizantes cause reações adversas.
No entanto, as falas do presidente foram como palavras ao vento. Dias depois, ele declarou que não se importa se o país está retardando o início da vacinação – “Eu não dou bola pra isso” –, e incitou a população a cobrar providências dos governadores caso algum dos imunizantes cause reações adversas.
Essa instabilidade no comportamento do presidente é vista como um problema para 2021. Como os efeitos da pandemia continuarão, espera-se que o chefe do Executivo evite os embates com os estados para que os processos de proteção da saúde dos brasileiros e de retomada da economia não sejam tão difíceis. Mesmo aliados de Bolsonaro torcem para um discurso mais ameno, mas também destacam que os governadores precisam fazer a sua parte.
Vice-líder do governo na Câmara, Aluísio Mendes (PSC-MA) opina que o consenso entre o Palácio do Planalto e os governantes estaduais é a chave principal para que o Brasil não sofra tanto no ano que vem.
Segundo ele, o primeiro ponto de convergência deve ser sobre o plano de vacinação. O parlamentar diz que o governo federal não pode postergar o início, mas que não pode ser pressionado a começar a imunização enquanto nenhum laboratório não pedir o registro das vacinas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Segundo ele, o primeiro ponto de convergência deve ser sobre o plano de vacinação. O parlamentar diz que o governo federal não pode postergar o início, mas que não pode ser pressionado a começar a imunização enquanto nenhum laboratório não pedir o registro das vacinas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Muitos governadores cobram do Executivo federal uma data, mas nos causa preocupação a falta de uma vacina aprovada para uso no Brasil. Acredito que assim que qualquer vacina estiver regulamentada pela Anvisa, o governo vai correr para começar a aplicação. O presidente Bolsonaro não se furtará a, rapidamente, oferecer as vacinas à população brasileira. E a partir do momento que os imunizantes estiverem disponíveis aos estados, o clima do presidente com os governadores vai distensionar”, afirma.
Mendes destaca que a relação de Bolsonaro com os governadores precisa melhorar porque, em 2021, o país estará diante de uma grave crise econômica.
Ele frisa que “só a união de governadores e governo federal vai fazer com que a população brasileira sofra menos”. “Acredito e confio tanto no presidente quanto nos governadores para que essas tensões sejam baixadas e que se deixe a disputa eleitoral para 2022, e que possamos trabalhar unidos e juntos para o melhor do nosso povo. Que com o advento da vacina nós possamos ter um clima muito mais favorável ao entendimento”, espera.
Ele frisa que “só a união de governadores e governo federal vai fazer com que a população brasileira sofra menos”. “Acredito e confio tanto no presidente quanto nos governadores para que essas tensões sejam baixadas e que se deixe a disputa eleitoral para 2022, e que possamos trabalhar unidos e juntos para o melhor do nosso povo. Que com o advento da vacina nós possamos ter um clima muito mais favorável ao entendimento”, espera.
Difícil harmonia
Analistas dizem que, devido à postura do presidente, é difícil apostar em uma relação mais harmoniosa entre ele e os governadores. “Cada um tem seus próprios interesses. O ano de 2021 vai ser muito difícil.
Bolsonaro tentará se aproximar dos que tem maior afinidade e partir para o atrito contínuo com governadores como João Doria, que tem interesse claro em ser candidato a presidente em 2022.
É um horizonte incerto, que acaba atingindo a todos”, observa o cientista político Creomar de Souza, professor da Fundação Dom Cabral e CEO da consultoria Dharma Political Risk.
Bolsonaro tentará se aproximar dos que tem maior afinidade e partir para o atrito contínuo com governadores como João Doria, que tem interesse claro em ser candidato a presidente em 2022.
É um horizonte incerto, que acaba atingindo a todos”, observa o cientista político Creomar de Souza, professor da Fundação Dom Cabral e CEO da consultoria Dharma Political Risk.
Ele diz que um cenário mais positivo, de paz, só se desenrolará caso haja um plano eficiente de imunização.
“O plano de imunização é uma grande incógnita. O governo entregou um prospecto do que pretende fazer, mas há uma enorme dificuldade em termos de estabelecimento de datas, de aquisição de vacinas, seringas e agulhas. Isso tende a jogar pressão no Planalto, que precisa correr e apostar menos na divisão e no ataque”, destaca.
“O plano de imunização é uma grande incógnita. O governo entregou um prospecto do que pretende fazer, mas há uma enorme dificuldade em termos de estabelecimento de datas, de aquisição de vacinas, seringas e agulhas. Isso tende a jogar pressão no Planalto, que precisa correr e apostar menos na divisão e no ataque”, destaca.
O cientista político Fernando Luiz Abrucio, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), diz que a falta de ação do presidente pode tumultuar ainda mais a situação.
“Se o governo atrapalhar, os governadores tendem a se unir a Doria, que prometeu iniciar a vacinação em São Paulo em 25 de janeiro, e gerar uma guerra federativa. Tem que ver como Bolsonaro vai lidar. Se partir para o embate, o caso vai parar novamente no Supremo Tribunal Federal. E já sabemos qual foi a decisão da primeira vez, sobre o lockdown. Ficou a cargo dos governadores”, alerta.
“Se o governo atrapalhar, os governadores tendem a se unir a Doria, que prometeu iniciar a vacinação em São Paulo em 25 de janeiro, e gerar uma guerra federativa. Tem que ver como Bolsonaro vai lidar. Se partir para o embate, o caso vai parar novamente no Supremo Tribunal Federal. E já sabemos qual foi a decisão da primeira vez, sobre o lockdown. Ficou a cargo dos governadores”, alerta.