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Estado de Minas CRISE NO MEIO AMBIENTE

Desmatamento sobe e ministro bate boca

Em depoimento a comissão da Câmara, Ricardo Salles se irrita com críticas e aumento de 278% na devastação na Amazônia


postado em 08/08/2019 04:00 / atualizado em 07/08/2019 23:00

Após discussão com parlamentares, o ministro do Meio Ambiente (D) teve de sair da Câmara sob escolta(foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Após discussão com parlamentares, o ministro do Meio Ambiente (D) teve de sair da Câmara sob escolta (foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Brasília – Após bater boca com parlamentares da oposição ao governo, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deixou, ontem, a audiência pública na Comissão de Integração Regional e Desenvolvimento Regional da Amazônia, na Câmara dos Deputados, escoltado por seguranças. A visita de Salles ao Congresso ocorreu depois da polêmica demissão de Ricardo Galvão da diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Galvão foi exonerado devido às críticas que fez ao presidente Jair Bolsonaro sobre a divulgação de dados relativos ao desmatamento na Amazônia.
O ministro afirmou que os percentuais de desmatamento da Amazônia divulgados recentemente “são interpretações sensacionalistas e midiáticas.” Segundo Ricardo Salles, os dados se referem “àqueles que manipulam para criar factoides” e “conseguir mais doações das ONGs estrangeiras para os seus projetos pessoais”. Ele admitiu que o governo federal vê o desmatamento na Amazônia, mas não na proporção dos números divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A área desmatada da Amazônia observada em julho pelos satélites atingiu 2.254 quilômetros quadrados (km2) ao todo. Isso equivale a mais de um terço de todo o volume desmatado nos últimos 12 meses, entre agosto de 2018 e julho de 2019, período em que o volume total do desmatamento chegou a 6.833 km².
Os dados são do Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), ferramenta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que serve para orientar ações de fiscalização contra o desmatamento. O volume de 6.833 km² verificado entre agosto de 2018 a julho de 2019 supera em 49,45% o desmatamento medido nos 12 meses anteriores e indica que a taxa oficial de desmatamento da Amazônia, medida por um outro sistema do Inpe, o Prodes, pode trazer alta similar. Os números do sistema Deter indicaram que as áreas com alerta de desmatamento na Amazônia Legal, abrangendo nove estados, sofreram elevação de 278% em julho, ante o mesmo mês de 2018.
Durante a audiência, Ricardo Salles foi criticado por substituir Galvão pelo militar Darcton Policarpo Damião, e pela suposta proximidade com madeireiros e muralistas, que têm interesse na exploração da floresta e dos territórios indígenas na região. O ministro perdeu a paciência e mostrou irritação, quando o deputado Nilto Tatto (PT-SP) comparou a atuação dele com a dos bandeirantes, que caçavam índios e exploravam as riquezas naturais no país no período colonial.
Tatto disse, ainda, que Salles era “o melhor ministro da Agricultura no ministério do Meio Ambiente” e o comparou a um office boy dos interesses do agronegócio. “O senhor é o office boy desse modelo de desenvolvimento que quer destruir os recursos naturais e comprometer a vida no futuro. O senhor só não se parece fisicamente com Borba Gato, Fernão Dias e Domingos Jorge Velho, mas a ação é o novo bandeirantismo. Vai lá cooptar, matar (...)”, afirmou o deputado.
O ministro do Meio Ambiente reagiu usando o assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, para rebater a crítica. “Não sou office boy coisa nenhuma. Quem deve saber muito bem de matar gente em razão de coisas é o pessoal que está envolvido no assunto do Celso Daniel. Não admito que o senhor me trate desse jeito”, rebateu. Diante do forte e temperamental discurso das duas partes, o presidente da comissão, Átila Lins (PP-AM), encerrou a audiência.

Tendência Em entrevista, ainda ontem, à Rádio Eldorado, o próprio ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, reconheceu ser “provável” que o sistema Prodes mostre alta parecida do desmatamento aos dados do Inpe, como ocorreu nos anos anteriores. Em geral, a tendência indicada pelo Deter, seja de alta ou de baixa, é confirmada pelo Prodes, um sistema muito mais preciso e que "enxerga" muito mais. Mas em geral, também, por causa dessa maior precisão, o número do Prodes é sempre maior que o do Deter.
Para evitar distorções, os números citados consideram apenas as três categorias de corte de vegetação que o próprio governo identifica como desmatamento efetivo: desmatamento com solo exposto, desmatamento com vegetação e mineração. Se observado apenas o desmatamento de julho deste ano, o volume chegou a 2.254,8 km² de devastação, 278% maior que o verificado em julho de 2018, quando foram registrados 596,6km² de desmatamento.
Desde maio, o governo tem desmentido os dados oficias do Inpe. A divulgação dessas informações tem incomodado profundamente o governo. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) considerou mentirosos os dados divulgados pelo Inpe sobre o aumento do desmatamento da Amazônia. (Com agências)

Pesquisador da Nasa defende Inpe

Em entrevista à rede de TV BBC News Brasil, a demissão de Ricardo Galvão do comando do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi considerada “altamente alarmante”, porque “reflete como o atual governo brasileiro encara a ciência”, por Douglas Morton, diretor do Laboratório de Ciências Biosférias no Centro de Voos Espaciais da Nasa, a agência especial americana. Ele é também professor adjunto da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
“O Inpe sempre atuou de forma extremamente técnica e cuidadosa. A demissão de Ricardo Galvão é altamente alarmante”, disse Morton, segundo o site de notícias G1. “Não acredito que o presidente Jair Bolsonaro duvide dos dados produzidos pelo Inpe, como diz. Na verdade, para ele, são inconvenientes. Os dados são inquestionáveis”, destacou o especialista.
Douglas Morton observa os dados relativos ao Brasil há 18 anos, que retratam a situação na Amazônia e no cerrado quanto ao desmatamento, degradação florestal e manejo agrícola. Na Nasa, dirige pesquisas ecológicas em grande escala que se valem de dados das plataformas aéreas e de satélite, modelos de ecossistemas e trabalho de campo.

Campanha pede volta de fundo

Rio de Janeiro – Representantes dos servidores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Ibama e do ICMBio, órgãos do Ministério do Meio Ambiente (MMA), lançarão hoje abaixo-assinado pedindo ao ministro Ricardo Salles o restabelecimento dos comitês de governança do Fundo Amazônia. Desde maio, Salles vem criticando publicamente o fundo e abriu negociações com os países doadores, Noruega e Alemanha, para mudar a governança.
Criado em 2008 com doações de R$ 3,2 bilhões da Noruega e de R$ 200 milhões da Alemanha, o Fundo Amazônia é destinado ao financiamento, com recursos não reembolsáveis, de projetos que produzam redução na emissão de gases do efeito estufa associados ao desmatamento. O fundo apoiou 103 projetos. A administração financeira e a seleção de projetos está sob responsabilidade do BNDES.
O abaixo-assinado será lançado no site “Em defesa do Fundo Amazônia”, criado pela AFBNDES, associação de funcionários do banco, e pela Asibama, dos servidores dos órgãos do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Segundo a AFBNDES, o recolhimento de assinaturas será automático. A cada adesão, um e-mail será enviado automaticamente para o endereço institucional da assessoria do ministro Salles.
“Apelamos para que sejam restabelecidos os comitês técnico e orientador do Fundo Amazônia Cofa, restaurando a devida transparência na definição, aplicação e monitoramento dos recursos, retomando assim a confiança dos países doadores para que as doações sejam continuadas. Defendemos ainda a manutenção da gestão financeira pelo BNDES, visto que não houve nenhuma irregularidade apurada até o momento que desabonasse a experiência deste banco público”, diz a carta do abaixo-assinado proposto pelas associações de servidores.
O texto ressalta que o governo federal “tem dedicado bastante empenho em contradizer os dados gerados por satélites e divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), cujo diretor foi recentemente exonerado após rebater acusações do presidente Jair Bolsonaro, que mostram o alarmante crescimento do desmatamento ilegal”. Ao mesmo tempo, “pouco vemos de ações concretas adotadas para frear o ritmo atual das atividades insustentáveis que derrubam a floresta”, diz o texto.

Exoneração

O Diário Oficial da União (DOU) de ontem formaliza a exoneração de Ricardo Galvão do cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O pesquisador esteve no centro da polêmica com o presidente Jair Bolsonaro sobre os dados que mostram elevação do desmatamento da Amazônia e deixou a função no último dia 2. Ricardo Galvão cumpriria mandato até 2020. Ele sai da direção do instituto após duas semanas de intenso bombardeio por parte do governo às informações do instituto que mostram que desde maio os alertas de desmatamento da Amazônia dispararam, atingindo em julho o valor mais alto desde 2015 para um único mês.


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